Desenvolvimento econômico e felicidade: existe uma correlação?

O nível de felicidade no Brasil vem registrando um declínio cada vez maior. De acordo com uma pesquisa mundial da Gallup, o World Happiness Report (WHR), a “nota” média dada pelos brasileiros entrevistados, de 0 a 10, era de 6,98 no biênio 2012 a 2014, caindo para 6,64 entre 2014 a 2016 e, mais recentemente, para 6,3 entre 2016 e 2018. Diante disso, será que existe uma correlação entre a felicidade e o desenvolvimento econômico?

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Para os professores do IBMEC-SP, Pedro Godeguez e Alexandre Pires, há diversos fatores observados pela literatura que indicam uma relação entre o desenvolvimento econômico e a felicidade, contudo, “devemos ponderar a dificuldade de se medir tanto o desenvolvimento como a felicidade”.

Pires ressalta que há países pobres que obtém índices altos de felicidade em algumas enquetes e países ricos que obtém índices baixos. “Agora se tentarmos objetivar o conceito de felicidade como, digamos, satisfação de desejos materiais e intelectuais países afluentes têm mais condições objetivas de oferecer as circunstâncias mais adequadas para a satisfação geral da população”.

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A professora de finanças, Virginia Prestes, citou a hierarquia das necessidades, também conhecida por “pirâmide  de Maslow“. “Eu acredito que existe uma grande relação entre as necessidades humanas e a felicidade. Quando a população tem uma renda maior, é possível realizar as necessidades básicas e ainda sobrar dinheiro para os desejos pessoais, tanto quanto de bens materiais como de lazer”.

No caso do Brasil, de acordo com Godeguez, é possível observar que a queda da percepção sobre a felicidade tem acompanhado as dificuldades econômicas que vem se intensificando desde 2013. “É provável que os fatores econômicos tenham contribuído para a queda da nota média dada pelos entrevistados, principalmente pelo avanço do desemprego no período, assim como o agravamento da desigualdade, da instabilidade política e o descrédito que a cerca”.

Enquanto nos Estados Unidos, entre 2007 e 2017, seu PIB per capita cresceu 7%, ao passo que a satisfação com a vida passou de 7,35 para 6,9. Para Pires, o que explica esse caso é que o PIB per capita não deixa de ser uma medida de média, desta forma, um grande contingente da população pode não participar de um crescimento do PIB per capita, ou seja, para uma análise mais profunda, seria necessário segmentar os dados para ver se há lugares onde os dois índices subiram simultaneamente e lugares em que ocorreu o inverso, ambos caíram.

“Se compor a grande maioria dos cruzamentos observados, a pesquisa sofreu o que se chama de viés da média”, concluiu.

Além disso, outro fator que pode ter influenciado na pesquisa é a crise de 2008, que gerou efeitos intensos sobre o desemprego, a concentração de renda e até sobre o padrão de crescimento econômico observado nos anos seguintes.

“Uma crise destas proporções deixa marcas profundas na sociedade, os efeitos inicialmente econômicos se estendem rapidamente para enormes dificuldades no cotidiano das pessoas. Assim, o crescimento do PIB neste período, além de tomar como base inicial de referência uma recessão severa, de intensificar um padrão de desigualdade e concentração de renda, não é suficiente para que a vida das pessoas que mais sofreram com a crise se normalize e garanta boas perspectivas”, ressalta Godeguez.

Por último, para Prestes, a pandemia do coronavírus (covid-19) deve reduzir a média do índice da felicidade. “A incerteza gerada pela pandemia não só no âmbito financeiro mas também na questão da segurança pode impactar negativamente, pode inclusive ter um peso maior no índice da felicidade”.

“A Pandemia vai influenciar talvez até por mais anos da pesquisa, levaremos muito tempo para reverter alguns dos estragos gerados por ela. Note que aqui não é uma questão apenas do desempenho econômico dos países, mas há uma questão preponderante sobre a saúde das pessoas, dos encontros, dos abraços, das amizades, da liberdade de andar por aí, não há como negar que nesta situação o esforço para se encontrar a felicidade é enorme”, informou Godeguez.

“Pelo ponto de vista econômico a coisa não fica mais bonita, é uma crise que acentua fortemente a desigualdade, particularmente ao Brasil, será difícil sustentarmos crescimento, geração de renda e emprego sem olhar com cuidado para esta questão”, concluiu.

Nível de felicidade nos países

A pesquisa realizada pela Gallup, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) perguntou a cidadãos de diversos países qual era o nível de satisfação com sua própria vida em uma escala de 0 a 10.

A análise compara os dados do biênio 2016-17 com o biênio 2006-07. Ou seja, compara os dados medidos antes da crise de 2008 com aqueles 10 anos depois. Será que os países mais afetados pela crise tiveram um declínio considerável na felicidade? E será que os países que mais se desenvolveram economicamente são mais felizes? O resultado aponta que sim.

Entre 2007 e 2017, o PIB per capita de um italiano ou grego, por exemplo, sofreu uma redução de 8% e 24%, respectivamente. Ao mesmo tempo que o nível de satisfação com a vida de um italiano passou de 6,7 para 6,1, o que representa uma queda de aproximadamente 10%. Já para os gregos, o nível de satisfação com a vida passou de 6,3 para 5,2, uma queda de 17%.

Enquanto o PIB per capita de um chileno era de US$ 18.800 em 2007 e dez anos depois, cresceu 20%, chegando em US$ 22.650. No mesmo período, o índice de satisfação com a vida passou de 5,9 para 6,45.

Além disso, confira os dez países que apresentam os maiores níveis de felicidade:

  1. Finlândia
  2. Dinamarca
  3. Noruega
  4. Islândia
  5. Holanda
  6. Suíça
  7. Suécia
  8. Nova Zelândia
  9. Canadá
  10. Áustria

Enquanto os últimos colocados são:

147. Haiti

148. Botsuana

149. Síria

150. Malawi

151. Iêmen

152. Ruanda

153. Tanzânia

154. Afeganistão

155. República Centro-Africana

156. Sudão do Sul

Já o Brasil ocupa o trigésimo segundo lugar em relação ao nível de felicidade.

Por fim, diante dos dados, a ONU conclui em sua análise que o desenvolvimento econômico inclusivo e sustentado pode impulsionar o progresso, criar empregos decentes para todos e melhorar os padrões de vida.

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Rafaela La Regina

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