Nas últimas semanas a China começou a acusar produtores brasileiros de exportar carnes congeladas contaminadas pelo novo coronavírus (covid-19).
O último caso ocorreu em meados de novembro, quando um lote de 27 toneladas de carne bovina originária de uma fábrica da Marfrig (MRFG3) foi bloqueado na China sob a acusação de ter as embalagens contaminadas pelo coronavírus.
Em agosto foi a vez de um lote de asas de frango do frigorífico da Aurora, em Santa Catarina, que foi bloqueado na cidade de Shenzen, também sob acusação de estar contaminado por covid-19.
Bloqueios que criaram danos de milhões de dólares para as empresas brasileiras, e protestos por parte do governo. E que poderiam se encaixar na tensão diplomática entre Brasília e Pequim que aumentou após o início da pandemia.
Entretanto, o Brasil não é o único País a ter suas carnes congeladas bloqueadas pelas autoridades da China.
A primeira vítima foi o salmão norueguês, em meados de junho. E os casos mais recentes são de peixes da Indonésia, peixes do Equador e carne bovina da Nova Zelândia, banidos em meados de novembro.
Carne suína da Alemanha, peixes das ilhas Feroe e os mais variados alimentos de dezenas de outros países foram banidos pela China. Uma atitude que autoridades do mundo inteiro definem como injustificada e paranoica, baseada em evidências inexistentes ou não divulgadas com clareza.
Tentativa de propaganda sobre origem da pandemia
Os próprios números não justificam esse alarmismo. Por exemplo, até o dia 15 de setembro Pequim havia realizado 670 mil testes, inclusive em alimentos nacionais, encontrando vestígios de coronavírus em apenas 22 amostras.
Além de ser apenas o 0,00004% dos casos, a China continua negando o acesso aos dados completos à comunidade cientifica internacional. Alegando que as evidências estão em seu Centro Nacional de Avaliação de Riscos de Segurança Alimentar.
Mais do que medidas para proteger a saúde dos consumidores locais, esse bloqueio de carnes faz parte da guerra de propaganda iniciada após o surto de coronavírus.
Para tentar não admitir que o covid-19 iniciou na cidade de Whuan, a China insiste que as infecções iniciaram por causa de alimentos importados contaminados pelo vírus. Uma versão constantemente divulgada pelo jornal estatal The Global Times desde o início da pandemia.
Mas quais seriam as provas de que o coronavírus estaria nesses alimentos congelados? Segundo as agências europeias de segurança alimentar, nenhuma.
Coronavírus não resiste tanto tempo
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) salientou várias vezes que essa transmissão não ocorre, assim como a Comissão Internacional de Especificações Microbiológicas para Alimentos (ICMSF) já deixou bem claro que essa versão não é cientificamente justificada.
Mesmo que o coronavírus resista ao frio (pelo menos até -15° C), isso não significa de forma alguma que uma pessoa possa se infectar imediatamente através de um objeto congelado.
Segundo quanto explicado pelas autoridades internacionais, a transferência de partículas virais capazes de criar raiz e se replicar, iniciando o contágio, não ocorre com alimentos congelados. Pois isso implicaria que o vírus permanecesse vivo na fase de processamento, congelamento e embalagem do alimento, além do período de viagem (muitas vezes intercontinental), e que após entrar em contato com um ser humano poderia voltar à fase de proliferação.
Para ter uma ideia, no papel ondulado o coronavírus tem uma capacidade de resistência de cerca de 24h. No plástico ou no aço inoxidável esse tempo chega até 3 dias. Para o transporte marítimo de carnes brasileiras, do porto de Santos para, por exemplo, o porto de Hong Kong, o tempo de viagem é de 30 até 45 dias. Sem contar o tempo de permanência dos produtos nos armazéns do porto de saída e de chegada.
Além disso, a pessoa exposta teria que tocar no vírus e, por exemplo, levar as mãos à boca ou aos olhos em poucos minutos. Todos eventos considerados extremamente improváveis, tanto individualmente quanto em conjunto, ou até mesmo impossíveis de ocorrer, segundo as autoridades.
E, no que interessa a carne bovina brasileira, o coronavírus não consegue proliferar na carne congelada, pois precisaria de células vivas para isso.
Mundo recorre contra a China
Ainda assim, a China insiste em bloquear a carne. Atualmente são 56 grandes empresas de 20 países que não podem mais exportar para a China.
Depois de bloquear, entre outros, nada menos que os frangos da gigante americana Tyson Foods, Pequim também interrompeu a importação de carne de porco alemãs, provocando a reação da Agência Federal Alemã de Segurança Alimentar (BfR), que imediatamente emitiu uma nota criticando duramente a decisão do governo chinês.
Nos mesmos dias foi publicado um estudo da Universidade do Texas na revista Emerging Microbes & Infections que demonstra como os porcos podem hospedar o vírus, mas não ficam doentes e não transmitem a infecção para os humanos.
Em suma, a situação está se tornando tão complicada e séria que muitos países já recorreram à Organização Mundial do Comércio (OMC).
O recurso foi apresentado por:
- Brasil
- Estados Unidos
- Canadá
- Austrália
- México
- Alemanha
entre outros países, que pediram oficialmente à China que mude as restrições introduzidas no verão e desbloqueie a importação de carnes.
Em particular, os países insistiram na necessidade de modificar as regras introduzidas em junho pelo Ministério da Saúde de Pequim que exigem que cada lote individual de alimentos seja verificado com análises moleculares (ou, alternativamente, certificados sobre a ausência do vírus) e que tenham uma rastreabilidade completa.
Nenhum país do mundo faz o mesmo, justamente porque, até o momento, uma transmissão desse tipo nunca foi documentada.
Além disso, porque encontrar material genético de um vírus no meio de uma pandemia, que o espalhou em todo o planeta não significa de forma alguma que existam partículas virais ativas e que tenham capacidade de se reproduzir.
Até mesmo os surtos que surgiram em alguns matadouros de vários países foram todos relacionados a infecções dos funcionários que ocorreram por meio de gotículas e não através da carne.
Mas a China continua nessa sua “guerra das carnes“, sem prestar ouvidos aos protestos internacionais. E a tentativa de criar uma narrativa alternativa para a origem do coronavírus prossegue, mesmo se essa tentativa de propaganda malsucedida, evidentemente, já está fora de seu tempo máximo.
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