A volatilidade da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), observada pelos investidores desde o final de fevereiro, tem sido alta. Após o carnaval, o temor pelo impacto do coronavírus (Covid-19), agora considerada uma pandemia, na economia global tomou conta dos mercados internacionais.
Entre a última segunda-feira (9) e o final do pregão da última sexta-feira (13), o circuit breaker do Ibovespa foi acionado quatro vezes. Marca sem precedentes na história. Não somente o coronavírus, mas a ‘guerra de preços’ do petróleo no Oriente vem contribuindo para seguidas quedas da bolsa brasileira.
No entanto, as quedas que atingiram o mercado, por vezes, são injustificadas. O investidor de longo prazo deve permanecer atento se a economia dos países impactados pela epidemia irá influenciar na geração de valor das empresas.
Confira algumas das ações de empresas que pouco são impactadas por esse motivo, salientando que essa matéria não se trata de uma recomendação de investimento.
Banco ABC
O Banco ABC (ABCB4) é uma instituição financeira de característica múltipla. É especializada na distribuição de crédito e serviços para empresas de médio e grande porte.
Controlada pelo Arab Banking Corporation, a operação brasileira possui um portfólio amplo de produtos, todavia, é voltada à intermediação financeira em operações que envolvam a análise e assunção de crédito.
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Segundo o analista de investimentos da SUNO Research, João Arthur Almeida, por ser especializado na liberação de crédito, ou seja, ele não conta com tarifas de serviços como a maior parte de sua receita, como o Itaú Unibanco (ITUB4) e o Bradesco (BBDC4). Dessa forma, não é tão ameaçada com a ascensão das fintechs.
O banco apresentou, no mês passado, um lucro líquido contábil de R$ 145,6 milhões no quarto trimestre de 2019, alta de 78,1% na comparação anualizada. No acumulado do ano, o lucro contábil foi de R$ 528,4 milhões, frente a R$ 418,1 milhões do ano anterior.
O Banco ABC possui um valor de mercado de cerca de R$ 3,02 bilhões. Os papéis da empresa, no acumulado dos últimos 12 meses, apresentaram uma queda de aproximadamente 28%. Na última quinta-feira (12), as ações do banco fecharam o dia sendo cotados a R$ 13,51. Destaque para o dividend yield (DY) que, com a cotação neste patamar, é de mais de 7%.
CVC Corp.
A CVC Corp. (CVCB3) é uma das maiores companhias do setor de turismo no País. Fundada em 1972, a empresa possui um vasto histórico de aquisições, expansão do modelo de franquias e liderança no mercado de viagens corporativas, viagens de lazer e viagens de intercâmbio.
Basicamente, a empresa atua na intermediação de viagens. Ela compra passagens aéreas e quartos em hotéis em alta escala, o que faz com que seja concedidos grandes descontos. Dessa forma, a empresa repassa ao consumidor final com uma margem de lucro.
A empresa está sendo fortemente impactada por razões externas desde o ano passado. A quebra da Avianca, que fez com que a empresa desembolsasse cerca de R$ 100 milhões em processos e ressarcimentos aos clientes, abalou os últimos resultados da empresa, além do derramamento de óleo no nordeste e a crise argentina.
Entretanto, para Almeida, após esta “tempestade perfeita” passar, a CVC pode voltar a apresentar um forte ritmo de crescimento em seu resultados, da mesma forma que nos últimos cinco anos, conforme o gráfico abaixo.
O presidente da CVC, Luiz Fernando Fogaça, apresentou, no dia 5 de março, sua renúncia ao Conselho de Administração da empresa. Para seu lugar, Leonel Andrade, ex-presidente da Smiles (SMLS3), foi nomeado pelo Conselho novo CEO da companhia. O executivo deve receber também uma participação acionária na empresa como forma de remuneração.
O valor de mercado da CVC é de R$ 2,06 bilhões. Apenas no acumulado do último ano, as ações da companhia desvalorizaram 75,91%.
Taesa
Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A., mais conhecida como Taesa (TAEE11), é um dos maiores grupos privados de transmissão de energia elétrica no País, exclusivamente dedicada à construção, operação e manutenção de linhas de transmissão.
Possui 36 concessões e 12,72 mil quilômetros de transmissão de energia elétrica, um setor perene que pouco é impactado por doenças infecciosas a nível global, como o coronavírus. Além disso, um dos destaques da Taesa é a política de dividendos estabelecida no Estatuto Social da companhia. Nos últimos 12 meses, o DY da empresa foi de 6,40%.
A companhia também detém um alto nível de governança, o que contribuiu para que obtivesse o mais alto rating de crédito nas três agências de classificação de risco do mercado.
Segundo Almeida, a Taesa, neste momento de turbulência, não será afetada pelo avanço do coronavírus. “A companhia é uma empresa de transmissão de energia que tem contratos longos e que são reajustados pela inflação. Ela é, inclusive, indicada para os investidores mais conservadores”, disse.
No terceiro trimestre do ano passado, a companhia expandiu em 21,4% o seu lucro líquido, em comparação com o mesmo período de 2018, para R$ 357,8 milhões. “Foi um resultado bem positivo. Tivemos um crescimento de lucro líquido. E continuamos com o sólido pagamento de dividendos”, afirmou o CEO da elétrica, Raul Lycurgo Leite.
O valor de mercado da Taesa é de R$ 9,74 bilhões. No acumulado de 2019, as ações da empresa apresentaram uma valorização de 40,89%. As units da companhia, na última quinta-feira, terminaram o pregão a R$ 28,52.
Energias do Brasil
A EDP Energias do Brasil (ENBR3) é uma empresa do segmento de energia elétrica e atua nas três frentes: geração, distribuição e transmissão de energia. A operação no Brasil é uma subsidiária de sua sede localizada em Portugal. Criada em agosto de 2000, trata-se de uma holding que abriga todas as vertentes do setor.
A companhia apresentou um lucro líquido de R$ 1,337 bilhão em 2019. O valor foi 5,1% maior do que o registrado em 2018, sendo o melhor resultado da história da companhia.
A empresa também procura ampliar os negócios com serviços de energia, investimentos em projetos de mobilidade elétrica e geração distribuída fotovoltaica.
Segundo Almeida, “além de ser uma excelente companhia com capacidade de crescimento de receita e expansão da margem de lucro, a EDP também negocia a uma valuation atrativo”. “A EDP negocia com desconto frente a seus pares de mercado, portanto, você deve manter sob seu radar”, disse o analista.
O valor de mercado dessa companhia, pouco impactada pelo coronavírus, é de R$ 10,14 bilhões. No acumulado de 2019, as ações da empresa apresentaram um crescimento de 56,96%.