Coronavírus pode ser “exterminador” de startups no Brasil
Disruptivas e escaláveis são características que, normalmente, acompanham as descrições das startups. Mas, não mais que de repente, o coronavírus (covid-19) se espalhou pelo mundo, espalhando também uma crise inédita, principalmente na demanda, que afetou não só companhias já estabelecidas, mas também as novas empresas de tecnologia.
Em poucas semanas, academias, restaurantes, viagens: tudo fechado e cancelado por causa do coronavírus. Com a demanda tão fria como coração de ex, a economia como um todo vem sendo afetada. As startups, por sua vez, com menos recursos à disposição sofrem ainda mais -mesmo com tanta tecnologia embutida.
No Brasil, algumas dessas empresas já anunciaram demissões em massa para tentar aliviar um pouco a operação. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABstartups), o Brasil tem cerca de 13 mil startups.
No caso mais emblemático, o unicórnio Gympass demitiu quase 400 funcionários após constatar uma queda abrupta na receita.
De acordo com uma fonte com conhecimento acerca da empresa avaliada em mais de US$ 1 bilhão, a queda brusca na receita, com academias fechadas por todo o País, levou o unicórnio a tomar a decisão de corte.
“O faturamento caiu para cerca de metade sem previsão para voltar. A operação consome muito caixa. Todo mundo se planeja para ter caixa em 18 meses, mas uma queda dessa muda tudo”, disse.
Para ele, a maior parte das pessoas saíram de setores não essenciais à empresa, como marketing, assessoria de imprensa, vendas, entre outros.
Segundo o professor da administração da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), José Sarkis Arakelian, empresas de tecnologia como a Gympass gastam muito dinheiro na folha de pagamentos do pessoal.
“O conhecimento empregado nos aplicativos e aplicado vêm das pessoas. Então a matéria prima de empresa de tecnologia e startups são as pessoas. O custo é basicamente pessoas”, disse ele ao SUNO Notícias.
Assim, a formam mais rápida de alívio no caixa em meio a crise acaba sendo a demissão.
“A velocidade nas startups gira diferente da velocidade do que empresas já consolidadas”, disse. Além da Gympass, o C6 Bank cortou 80 dos cerca de mil funcionários.
Já a MaxMilhas, empresa que faz intermediações de vendas de passagens aéreas e milhas, também busca essa escalabilidade, teve que reduzir em 42% o número de funcionários.
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“Esse cenário nebuloso se refletiu fortemente em nosso negócio. Tivemos uma queda brusca nas vendas de passagens ao longo do mês de março e grande parte dos voos comprados em nosso site estão sendo cancelados”, afirmou, em nota, a empresa. Ao todo, cerca de 170 colaboradores foram demitidos desde o início da pandemia do coronavírus.
Coronavírus aborta missão de escalabilidade
Uma das percepções é que a tão sonhada escalabilidade, quando um processo atinge um volume tão alto que fica barato, não deve ser alcançado em meio a crise do coronavírus.
“Nessa tempestade perfeita, é comum nas startups em processo de escalabilidade, serem obrigadas a cortar”, disse o professor da FAAP. “É necessária uma mudança de rumo muito rápida”, completou.
A Rock Content, empresa de marketing digital, planejava alcançar o chamado chamado breakeven point no final deste ano, mas a crise do coronavírus frustou os planos.
“Infelizmente, mesmo com o congelamento nas contratações e as medidas de redução de custo que implementamos, não estávamos preparados para a covid-19 em nossa divisão de pequenas empresas no Brasil. Ela representava aproximadamente 20% de nossas receitas”, afirmou, em nota, o CEO da empresa, Diego Gomes.
Assim, a startup optou por demitir cerca de 100 funcionários por causa da crise do coronavírus.
Segundo uma fonte que conhece a operação, a dúvida vai além do quando a empresa irá atingir esse ponto, mas também se ela chegará a esse nível.
“Toda a operação pode acabar comprometida se a recessão vier muito forte”, disse. A crise do coronavírus ainda tardará a passar para as empresas de tecnologia.