Coronavírus: estamos enfrentando um golpe econômico maior que 2008, diz economista
Devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), estamos enfrentando um golpe econômico maior do que a crise de 2008. A declaração é de Mohamed El-Erian, conselheiro econômico-chefe da seguradora Allianz e presidente da Queens College, da Universidade de Cambridge, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”.
Segundo ele, mesmo com a gravidade do coronavírus, “o nível de coordenação das políticas tem sido menor do que vimos em 2008 e 2009”. “Além disso, várias políticas, em alguns países individuais, têm sido muito voltadas para dentro e, explicitamente, inclinadas contra o resto do mundo”, disse o economista.
El-Erian salienta que esse é o terceiro golpe ao conceito de globalização conhecido atualmente. Os outros dois, segundo ele, foram devido à “marginalização de segmentos da população e a guerra comercial. Em cima deles, esse terceiro golpe pode alimentar um processo de desglobalização”.
Quanto questionado pela “Folha de S.Paulo”, o economista afirmou que as nações com restrições fiscais e dívidas elevadas deverão sofrer mais com essa crise, devido à limitada capacidade de contar os impactos causados pelo isolamento social. Segundo ele, esses países possuem flexibilidade fiscal e monetária baixos, com poucas reservas internacionais, alto endividamento e muitas dívidas de curto prazo.
O economista deixa claro que, nesta análise, refere-se somente aos problemas econômicos e financeiros desses países, não levando em consideração questões políticas, institucionais e sociais.
Em relação ao Brasil, El-Erian diz que “assim como todos os países, existe o risco de sair desta crise com alto endividamento, menos reserva monetária e um golpe em sua produtividade”. Segundo ele, é de extrema importância para todos os países ter esse conhecimento, para que possam focar em políticas de contenção do “estrago às suas perspectivas de crescimento”.
Na entrevista à “Folha de S.Paulo”, o economista da Allianz disse que é “difícil de generalizar” como será a reação dos mercados após o fim da crise do coronavírus. “Muito dependerá da capacidade e do desejo de cada país tanto de sustentar altos pagamentos de dívidas como de reduzir seu elevado endividamento”.