Coronavírus: déficit primário pode ser de R$ 300 bi, diz Tesouro
Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o déficit primário do Brasil deve ficar em torno de R$ 300 bilhões neste ano, cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), em razão do novo coronavírus (Covid-19). A declaração foi realizada nesta sexta-feira (27).
De acordo com Mansueto, que participou de uma teleconferência promovida pela Julius Baer Family Office, o qual o jornal “Valor Econômico” teve acesso, o é importante que essas despesas públicas fiquem circunscritas apenas a esse ano. O secretário diz que essas despesas temporárias podem ser realizadas via crédito extraordinário, o que não impacta o teto de gastos.
O déficit primário ocorre quando os gastos públicos correntes são maiores do que a receita fiscal corrente, como a arrecadação de impostos, desconsiderando os juros da dívida pública.
Mansueto ressalta que as despesas que não forem temporárias, deverão continuar respeitando o teto de gastos. “Se essa regra for obedecida, não me preocupa muito”, disse.
Entretanto, o secretário comenta que esse cuidado não tem sido seguido pelos congressistas. Mansueto diz enxergar “com muita preocupação” que, a aprovação da Câmara no auxílio de R$ 600 mensais para trabalhadores informais, foi incluída uma regra nova para o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Mansueto diz que, para ele, as prioridades são primeiro o sistema de saúde, seguido das pessoas vulneráveis e, em terceiro lugar, a ajuda às empresas.
O secretário afirma que existem recursos para ajudar todas as partes. Para isso, segundo ele, é possível aumentar a dívida e encarar um resultado primário pior em 2020. “Mas é preciso cuidado para não exagerar. Temos pedidos que chegam e que não têm nenhuma relação com o coronavírus”.
Coronavírus pode levar a PIB negativo
Embora ainda considere difícil realizar projeções, Mansueto não descarta que o PIB do Brasil neste ano seja negativo.
“PIB negativo não está fora do radar de ninguém. Estamos trabalhando com vários cenários. Modelo com resultado de PIB zero foi rodado há uma semana e meia”, disse ele. Mansueto refere-se à revisão da expectativa pelo PIB do Banco Central (BC). Na última quinta-feira (26), a autoridade monetária central cortou a projeção de crescimento da economia brasileira de 2,2% para zero.
“É difícil cravar um número de crescimento. Pode ser zero ou negativo. Não sei se será menos 1,5%, menos 2% ou menos 2,5%, é difícil de estimar”, afirmou o secretário. Segundo ele, o desempenho do PIB “é uma variável importante. Estamos levando em conta, mas é difícil ter uma previsão confiável neste momento”.
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No entanto, Mansueto diz que a preocupação imediata deve ser com as ações a serem tomadas no curto prazo, e não com estimativas. O secretário está preocupado para que não haja uma desorganização grande, com o objetivo de fazer com que “pequenas e médias empresas boas não saiam do mercado por um problema de vendas em dois ou três meses”.
De acordo com o Boletim Focus divulgado pelo BC na última segunda-feira (23), o mercado estima um crescimento de 1,48% do PIB neste ano. A expectativa no começo do ano, antes dos impactos do coronavírus, era de um avanço de 2,30%.