Selic a 11,75% ao ano: como ficam os investimentos?
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve o mesmo balanço de riscos para o cenário da inflação, com fatores em ambas as direções. O colegiado reduziu pela quarta vez seguida a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. O comunicado do Copom trouxe alguns indicativos do plano do BC para os juros em 2024, com mais cortes. O BofA projeta ao menos quatro reduções de 0,5 pp e uma de 0,25 pp, reforçando estimativa de taxa a 9,5% ao final de 2024. Já o Goldman Sachs espera mais duas diminuições em janeiro e março, enquanto o Itaú também prevê uma Selic de 9,5% no final do próximo ano. O Citi acredita que há possibilidade de o processo de corte engrenar de forma ainda mais rápida, depois da decisão do Federal Reserve desta quarta, que animou o Ibovespa e as Bolsas de Nova York.
Com esse cenário, como ficam os investimentos?
Primeiro, é preciso entender como o BC vê o cenário de inflação traçado pelos dirigentes do Copom no comunicado desta quarta (13) para apoiar os próximo cortes da Selic. Entre os riscos de alta para a inflação, o Copom voltou a citar uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Já pelo lado dos riscos baixistas para a inflação, o BC destacou novamente uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
“O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária”, afirmou o Copom, deixando de avaliar que a conjuntura é “mais incerta que a usual”, como estava no comunicado anterior.
Apesar de ter esfriado nas últimas semanas a temperatura do debate sobre a mudança da meta de resultado primário do governo para 2024, o Copom manteve o parágrafo que reforça a importância do fiscal para a política monetária.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, reiterou.
Após o Copom, como ficam os investimentos agora?
Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, estima que a partir de janeiro poderemos ver algumas demonstrações com relação à aceleração nos cortes.
“Apesar de estar em queda, a taxa Selic ainda segue em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo. Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os prêmios de risco e estes seguem em patamares altos. Isso segue atraindo recursos dos investidores”, explica.
Segundo Canez,, nesse cenário, os ativos prefixados, principalmente para o longo prazo, já que é dada como certa a redução da Selic, já estão precificando boa parte dessa queda – por isso para curto prazo os mais atrativos são os pós-fixados atrelados ao CDI.
Investimentos atrelados ao IPCA, apesar das excelentes taxas praticadas no mercado, são os menos atrativos, pois a meta de inflação segue muito baixa e, por consequência, a expectativa também. Para o investidor mais conservador os títulos atrelados ao IPCA são muito importantes, pois oferecem um retorno real, ou seja, com taxas sempre acima da inflação, mas a tendência é de que esse retorno seja menor que o CDI por um tempo.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, diz que a renda fixa continua atrativa com Selic a 11,75%. “Ainda mais em um cenário de juros altos nos EUA, a renda fixa global tende a seguir atrativa por mais algum tempo. Sem falar que qualquer taxa maior que 10% ao ano não é de se jogar fora”, lembra,
“Sigo na linha de que para o investidor pessoa física as incentivadas são as melhores escolhas – LCI/LCA ou mesmo debêntures incentivadas. A recomendação é escolher bem o emissor e não extrapolar o limite do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) porque são produtos isentos e de baixo risco”, aconselha Jorge.
“Outro ponto é que esses título geralmente pagam mais que outros investimentos como os CDBs e títulos públicos, por isso vejo mais vantagens.”
Os prazos, prossegue o sócio da Quantzed, variam em função da necessidade de caixa de cada investidor, mas no geral “esses investimentos possuem opções de três meses a 1 ano”. Ele lembra que em vários casos o dinheiro fica preso até o final – “logo, é preciso investir o que não irá precisar de liquidez”.
Já para recursos com liquidez imediata, os CDBs são as melhores opções, complementa Jorge. “Ainda acredito também nos prefixados de três anos aproximadamente. Os ativos ligados à inflação também são boas opções para quem quer se proteger. O importante é o investidor ter uma carteira bem diversificada e se atentar bem para os prazos e liquidez”, afirma
Novo corte da Selic traz boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados
Vinicius Romano, Head de Renda Fixa e Analista CNPI da Suno Research, observa: “Como na reunião de novembro, o comunicado citou preocupações do Banco Central brasileiro com o cenário internacional, que se mostrou mais incerto que o usual, exigindo cautela na condução da política monetária.”
Romano acrescenta: “Além disso, o Comitê reafirmou a importância da firme persecução das metas fiscais, as quais são essenciais para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária. Por fim, a autoridade monetária deve seguir no mesmo ritmo de cortes para as próximas reuniões.”
Romano diz que o impacto da decisão para os ativos de renda fixa brasileiros, no âmbito de alocação entre os três tipos de remuneração (pós-fixados, prefixados e indexados à inflação), “nos faz entender que, apesar do ciclo de queda, o patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados, já que estes praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros.”
No caso dos títulos indexados à inflação (IPCA+), “entendemos que os papéis com vencimentos no médio e longo prazo ainda proporcionam um carrego interessante aos investidores, com um juro real próximo de, na média, 5,75% ao ano sem risco de crédito (tratando-se de títulos públicos). Para os prefixados, nossa visão é de que existem boas opções (principalmente de emissão bancária) com duration um pouco mais curta, aproximadamente de 3 anos.”
Diversificar sempre: “Bolsa e FIIs precisam ficar na carteira”
Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, observa: “Renda fixa vale a pena com o juro real que se ganha, não com juro nominal. Nossa Selic ainda está em um nível alto e a inflação está caindo junto, proporcionalmente. Então, enquanto a Selic está lá em cima ainda, mas a inflação caindo junto, o juro real, que é a Selic menos a inflação, ainda é alto. Então, mesmo com o novo corte da Selic, acredito que ainda vale a pena investir em renda fixa sim, pois ainda estamos em patamares bons de juros que remuneram bem o investidor.”
Para 2024 o ciclo de corte da taxa de juros deve se intensificar, projeta: “Isso se o mercado mundial e do Brasil melhorar. Lá fora a gente tem uma expectativa de queda dos juros a partir de março. A bolsa CME já aposta que juros nos EUA devem cair entre abril e maio. E, com isso, a gente também tende a ter um cenário mais positivo aqui. E aí a Selic pode cair mais em ritmo até maior.”
Cohen faz a ressalva: “Até que a gente tenha uma Selic em 7%, por exemplo, ainda assim [renda fixa] vai valer a pena se a inflação cair junto. Só que aí é aquele negócio. Selic caindo muito, a gente tem Bolsa subindo e fundos imobiliários subindo. E aí o investidor precisa começar a diversificar.”
Já está na “hora de começar a olhar bolsa há muito tempo, mas fundos imobiliários também”. O analista CNPI argumenta: “O ideal é sempre preferir ativos atrelados ao IPCA. Os ativos prefixados, na minha visão, só valem quando a Selic está muito lá em cima e a gente não tem expectativa de novas altas. Mesmo assim são um risco. O pós-fixado pode ser uma boa alternativa, mas o investimento pode sofrer com a inflação, caso venha a subir.”
Cohen conclui ao comentar a decisão do Copom desta quarta (13): “Na renda fixa, temos a marcação a mercado. Muita gente acha que no Tesouro Direto pode-se retirar o investimento com liquidez diária. Não pode. Tem a marcação a mercado. Inclusive, pode até ter prejuízos mesmo sendo renda fixa. Em muitos casos, será necessário deixar o dinheiro até uma data determinada, ou seja, investir no longo prazo para não correr riscos de prejuízo.”