O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou nesta quarta (13) a Selic pela quarta vez seguida em 0,5 ponto percentual, para a taxa de 11,75% ao ano. Analistas estavam de olho no comunicado para tentar entender os próximos passos do colegiado na política monetária do país.
Apesar do debate sobre uma possível aceleração da redução dos juros em 2024 ter se iniciado no mercado, o Copom manteve de maneira unânime o guidance para os encontros de janeiro e março, ao repetir que antevê novos cortes da Selic de 0,50 ponto porcentual na taxa básica nas próximas reuniões – no plural. O colegiado seguiu seu plano de voo para a redução da Selic.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, reafirmou o Copom, no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 13.
“Copom mostra que cenário ainda exige cautela”
Eduarda Schmidt, economista da Órama, analisa: “No exterior, o recuo dos rendimentos dos juros de longo prazo em relação à última reunião foi reconhecido pelo Comitê do BC, que indica uma melhora do cenário internacional desde então. Contudo, a resiliência dos indicadores econômicos americanos, que resultam na incerteza em relação à trajetória que será traçada pelo Fomc, ainda exige cautela.”
No Brasil, a inflação vem apresentando um comportamento positivo nas últimas leituras, “respondendo à segunda fase do processo de desinflação conforme esperado, com arrefecimento principalmente no preço dos serviços e da inflação subjacente”. Esse movimento, diz Eduarda, é uma peça essencial para o afrouxamento da política monetária.
No entanto, segundo ela, “as expectativas de inflação apresentadas no Boletim Focus, ainda desancoradas, seguem sendo uma trava para a aceleração do ritmo dos cortes.” A resiliência da economia, em especial do mercado de trabalho brasileiro, que apresentou recentemente uma elevação da massa salarial, também contribui para esse cenário. “Vale destacarmos que o crescimento dos rendimentos reais, se mantiver o ritmo de alta, pode gerar uma pressão inflacionária nos serviços, e, eventualmente, pressionar os preços do setor, que vem apresentando uma trajetória benigna”, complementa.
Em relação aos próximos passos do Copom, o Comitê manteve o forward guidance de redução dos juros na mesma magnitude nas próximas reuniões, incluindo as duas primeiras de 2024. “Esse direcionamento nos parece acertado e é aderente à decisão do Fomc, divulgada mais cedo desta ‘Super Quarta’. Tendo em vista os desafios relacionados à reancoragem das expectativas, um hiato do produto mais apertado e o risco de um possível descompasso com o Fed, não vemos incentivos para aceleração dos cortes no curto prazo“, observa a economista da Órama.
“Por fim, confirmamos nossa projeção de Selic em 11,75% ao fim de 2023. Para 2024, estimamos uma taxa terminal de 9,50% a.a., com quatro cortes de 0,50 p.p. e um último de 0,25 p.p.”
Comunicado reforça importância do cumprimento da meta fiscal, diz XP
André Meirelles, Diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP. lembra que o Copom “ressaltou que o cenário internacional, apesar de continuar volátil, mostra-se menos adverso do que na reunião anterior, marcado pela queda nas taxas de juros longas dos Estados Unidos e pela incipiente queda nos núcleos da inflação.”
A grande expectativa do mercado, diz Meirelles, era se o Copom “sinalizaria uma aceleração do corte para as próximas reuniões, o que não foi feito pelo comitê, que manteve a sinalização de corte de -0,5% para as próximas reuniões.”
Ele analisa: “De modo geral, o comunicado não trouxe grandes mudanças em relação ao anterior e também reforçou a importância do cumprimento da meta fiscal para a ancoragem nas expectativas de inflação e, consequentemente para a política monetária.
“Tom bem positivo no comunicado, mas prudente”
Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, vê o comunicado do Copom com “tom bem positivo e uma expectativa de mais reduções futuras, no plural e não no singular, o que anima o mercado.
Ele explica: “O comitê do BC defende a manutenção desse ritmo de 0,50 pontos percentuais. E para as decisões futuras, mais uma vez mencionam as expectativas de quanto aos dados de inflação futura, de acordo principalmente com a questão do movimento fiscal hoje no Brasil. Afirmam que a ancoragem das metas fiscais para as expectativas são necessárias para que a gente mantenha esse ritmo. E, no meu ponto de vista, veio uma ata bem prudente para o momento atual. Deu bastante destaque também ao mercado internacional e à necessidade de desinflação também no exterior para que a gente tenha esse movimento desinflacionário aqui no Brasil. E, no meu ponto de vista, veio um comunicado bem brando, bem tranquilo. Não veio nenhum ponto para chamar atenção que traria preocupações quanto às expectativas da taxa de juros para as próximas reuniões.”
Com a expectativa de menor queda de juros lá fora, Moura acredita que o” Ibovespa deve ter um ritmo de alta amanhã porque basicamente não veio nada que traga algum comprometimento para o mercado local.” E nesse cenário, “se mantida a questão da redução da taxa de juros no plural, as empresas mais alavancadas devem se beneficiar um pouco mais com uma redução das suas dívidas”.
Ele conclui: “Um ponto que eu achei interessante ali é a questão da expectativa de menos crescimento para o próximo ano. Isso é visto por todos os players econômicos e foi algo comentado agora na reunião do Copom. O comitê também reforça que a redução de inflação nos outros países é importante para que a gente consiga fazer esse movimento de redução de taxa de juros de uma forma mais consistente aqui também. Aqui o mercado está muito propício para uma redução mais forte da taxa de juros. O que a gente precisa na realidade, no momento atual, é uma redução de inflação lá fora para que a gente consiga fazer uma redução de taxa de juros mais consistente e em ritmo mais forte no Brasil.”
Copom sobre indicadores de inflação: “Consistentes, mas esperados”
João Savignon, Head de Pesquisa de macroeconomia da Kínitro Capital, argumenta que o “a leitura do comunicado pós-reunião pode ser considerada neutra, na medida em que confirmou os principais pontos esperados, como a sinalização do ritmo de corte de 50 bps para as próximas reuniões (no plural), que esse é o ritmo adequado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário e que a magnitude total do ciclo dependerá da dinâmica inflacionária, das expectativas de inflação (principalmente de longo prazo), do hiato do produto e do balanço de riscos.”
Na avaliação do cenário externo, o Copom classificou como menos adverso, “mas não alterou de forma significativa a sua visão”. No doméstico, conforme esperado, “as alterações também foram pontuais, com uma redução de 10bps nas projeções de inflação para 2023 e 2024, mantendo inalterada a expectativa de 2025. A avaliação do Copom é de que o conjunto de indicadores recentes de atividade e inflação seguem consistentes com o cenário esperado pelo Comitê. Por fim, no balanço de riscos, não houve alteração, com o Comitê avaliando elementos em ambas as direções.”