O consenso do mercado financeiro é que a última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nesta semana, deve terminar com mais um aperto na taxa Selic, de 1,5 ponto percentual, em linha com o que havia sido adiantado na última reunião, em novembro, e reforçado agora pelas dez instituições consultadas pelo SUNO Notícias.
Com o aumento, a taxa de juros deve passar dos atuais 7,75% ao ano para 9,25% a.a. Apesar do avanço, a Selic seguiria atrás do índice oficial da inflação acumulado dos últimos 12 meses, em 10,67%, segundo medida do IPCA.
O aumento é um dos instrumentos do Banco Central para incentivar investidores a deixarem o seu dinheiro rendendo e, assim, tirar recursos de circulação, ajudando a controlar o aumento de preços.
Contudo, entre os desafios do comitê, especialistas afirmam que o remédio precisa ser bem dosado: se a alta for muito grande, pode sufocar a atividade econômica e ter impacto adicional em um PIB titubeante.
A reunião do Copom acontece nesta terça-feira (7) e o comunicado sai amanhã (8), a partir das 18h30. Confira as expectativas do mercado.
O que dizem os experts?
Para os analistas ouvidos pelo SUNO Notícias, o Banco Central deve dar continuidade à contração monetária, a fim de alcançar as metas de inflação para o próximo ano e o seguinte.
Entretanto, os especialistas ressaltam que o Copom deve considerar certa cautela a fim de não estrangular a atividade econômica em 2022.
Para o chefe de Estratégia Macro do BTG Pactual digital, Álvaro Frasson, se por um lado o PIB fraco requer cautela com contração monetária, por outro as flexibilizações fiscais em debate jogam mais lenha na fogueira das expectativas de inflação.
“A evolução da PEC dos Precatórios evita o ‘cheque em branco’ para o governo em ano eleitoral, mas por outro lado a flexibilização proposta está longe de auxiliar a autoridade monetária na melhoria da credibilidade econômica”, emendou.
Conforme destacou, o mercado deve estar atento às entrelinhas do comunicado do Copom desta quarta-feira (8) de olho em sinalizações de deterioração da atividade econômica em 2022 ou desancoragem das expectativas de inflação em 2023 e 2024.
O economista-chefe de pesquisa macroeconômica do Itaú, Mario Mesquita, defende que a pressão inflacionária segue intensa e disseminada, contaminando as expectativas de inflação e as próprias projeções do Banco Central.
“Acreditamos que a manutenção do ritmo de ajuste de 1,5 p.p. e a elevação da Selic para patamar significativamente contracionista ajudarão no processo de desinflação, mesmo que não sejam suficientes para garantir a convergência da inflação para a meta em 2022”, destacou em relatório.
Para a economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, o Copom deve manter no seu cenário-base fatores de risco em ambos os sentidos. Se por um lado a possibilidade de queda no preço das commodities reduz a pressão inflacionária, por outro, permanece o risco fiscal agravado pelas recentes mudanças no teto de gastos.
Já o banco Modalmais, no cenário dovish, prevê a manutenção do risco fiscal inalterado no balanço de riscos e diminuição do ritmo de alta a fim de não comprimir a atividade econômica. Já no hawkish, há a possibilidade de elevar os prêmios de risco e de aceleração do ritmo de alta para além de 1,5 p.p.
No cenário neutro, aumenta a possibilidade de mudança na reação da autoridade monetária para as próximas reuniões. O banco também destaca o cenário externo, que pode trazer dificuldades para a economia brasileira, em especial, pela mudança no ritmo de aperto monetário.
Para o economista João Leal, da Rio Bravo, principal mudança do Copom para esta reunião é o comunicado de que a inflação não é mais essencialmente temporária. “O foco também será nas projeções de inflação, tendo em vista a queda nas expectativas para crescimento econômico”, disse à SUNO.
Também apontaram que a decisão do Copom deve confirmar avanço de 1,5 p.p., com perspectiva de novas altas para o próximo ano:
- Banco ABC Brasil
- Bradesco
- Mirae Asset
- Santander
- XP Investimentos
Para cumprir meta, Copom deveria ser mais agressivo
Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, os resultados – sem grandes supresas – do IPCA-15 e IGP-M ajudaram a reforçar a expectativa de um aumento em linha com o que já havia sido anunciado na última reunião do Copom em 1,5 p.p.
Entretanto, Sung destaca que a fim de cumprir com a meta estipulada nos próximos ciclos, o Banco Central deveria ter uma postura mais hawkish, ou seja, um comportamento mais firme contra a inflação.
Entre os motivos que embasariam a necessidade de uma postura mais agressiva no controle dos preços, Sung destaca as repetidas revisões para cima do mercado financeiro para a inflação em 2022, a deterioração do cenário fiscal, ainda incerto, e os reflexos da política monetária norte-americana, que recentemente retirou estímulos e reduziu a compra de ativos.
“O Copom tem deixado claro que seu objetivo é levar a inflação ao centro da meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023, e poderá aumentar mais o juro se for necessário. Contudo, a autoridade coloca na balança os impactos da alta da taxa de juros no crescimento do ano que vem”, afirma.
“Em suma, para evitar uma possível desancoragem das expectativas dos agentes sobre a inflação nos próximos anos, atenuar as consequências do risco fiscal e da mudança da política monetária, o Copom deveria aumentar o ritmo de ajuste na taxa de juros, com taxas terminais mais elevadas em 2022, e/ou ser mais duro em sua comunicação”, reforçou sobre a última reunião do conselho prevista para 2021.