Copom dará continuidade à normalização e prepara alta de 0,75% na Selic
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá nesta quarta-feira (5) o rumo da taxa básica de juros da economia (Selic) para os próximos 45 dias. A portas fechadas, o colegiado do Banco Central deve dar continuidade à normalização da taxa, elevando-a novamente.
Assim como indicado pelo próprio Copom em março, o aumento deve ser de 0,75 ponto percentual, levando a Selic para 3,50%. As pressões inflacionárias dos últimos meses têm começado a incomodar a equipe liderada por Roberto Campos Neto.
A conjuntura mundial fez com que a demanda por commodities fossem elevadas significativamente, impactando a economia local. A alta da Selic deve atenuar esse processo.
“A comunicação desde a última reunião não sugeriu uma mudança de rota. O BC manteve a linguagem geral da reunião de março em entrevistas recentes, incluindo comentários sobre a natureza temporária dos fatores de inflação”, disse o BTG Pactual (BPAC11) em relatório.
Nas últimas semanas, Campos Neto repetiu que o objetivo do colegiado é uma “normalização parcial”, embora o comitê entenda que a meta deve permanecer em território expansionista. Todavia, a tendência é mais cautelosa; ao abandonar o forward guidance (orientação futura), o Copom tem adotado um comportamento mais hawkish desde o fim de 2020.
O Copom deve aumentar a taxa em ao menos 0,75 ponto percentual, segundo estimativas das seguintes instituições consultadas pelo SUNO Noticias:
- BTG Pactual;
- Itaú;
- Goldman Sachs;
- Credit Suisse;
- BNP Paribas;
- XP.
Perspectivas de inflação no radar
Segundo um relatório divulgado pelo Itaú (ITUB4), as projeções de inflação no cenário-base do colegiado do BC, que contempla a taxa de câmbio seguindo a paridade do poder de compra e trajetória da taxa de juros retirada do Boletim Focus, deve ficar em 5% neste ano e 3,5% no ano que vem.
Especialistas do mercado entendem que a normalização da Selic não é um compromisso como era o forward guidance no ano passado, com o comitê procurando cumprir apenas a meta de inflação.
“A nosso ver, apesar do objetivo do comitê de apenas remover a parcela extraordinária do estímulo implementado no ano passado, o Copom está preparado para rever esse cenário, especialmente se houver qualquer desaceleração das expectativas de inflação para 2022”, disse o BTG.
Com isso, o Copom mostra que a inflação, que incomoda no curto prazo, parece estar sob controle e que caso as expectativas mudem de rumo para o ano que vem, o tom do colegiado pode mudar frente à política monetária adotada. Temas como o combate à pandemia e o desenrolar do Orçamento público deste ano devem continuar chamando atenção das autoridades.
Copom avalia atividade econômica
A atividade econômica brasileira obteve um avanço sólido nos dois primeiros meses do ano, de 1,25% e 1,70%, respectivamente, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), a prévia do PIB. Contudo, em razão da força da segunda onda da pandemia, novas restrições à mobilidade foram impostas, impactando a recuperação.
Além disso, as interrupções na cadeia de abastecimento impactaram negativamente uma série de setores, como o automotivo, o que também pressiona o mercado de trabalho. A economia deve ter sido contraída no último bimestre, embora as últimas semanas de abril tenham mostrado um alento.
A confiança do empresariado e de consumidores caiu em março. Já em abril, a cautela permaneceu entre os empregadores da indústria e construção, enquanto foi notada uma redução do nível de pessimismo entre os consumidores de varejo e serviços. O PMI de manufatura e serviços recuou em março, ficando abaixo da linha de 50 pontos, o que demonstra uma retração da atividade.
Mesmo assim, a retomada do crescimento, mais cedo ou mais tarde, deve aparecer. “O crescimento do país vai acontecer após pandemia. É fundamental que o país controle os gastos públicos, não fure o teto de gastos”, diz Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, citando que investimentos já estão voltando ao País.
Com a vacinação demorando a tomar tração no País, o comitê do Banco Central deverá ponderar a utilização da Selic enquanto ferramenta de fomento à economia, as perspectivas de desancoragem de inflação e seu próprio balanço de riscos.
“Esperamos que o Copom modifique sua comunicação, não mais descrevendo o atual processo de ajuste monetário como parcial. A nosso ver, isto reforçaria ainda mais seu compromisso de perseguir o centro da meta de inflação no horizonte relevante de política monetária e, assim, a ancoragem das expectativas inflacionárias”, diz o Itaú.
Próximas reuniões levantam dúvidas
A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foi sem precedentes na história. Tanto é que fez com que o Brasil, um país emergente que constantemente ronda a crise política e fiscal, ainda tenha um juro real negativo. Em função disso, o consenso do mercado é que, sim, haverá um contínuo processo de elevação da taxa de juros brasileira. A dúvida que fica é para a intensidade disso.
“O Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”, disse o comunicado do BC em março. Com base nisso, a XP traçou dois cenários prováveis para os próximos meses:
- Manutenção de indicação que fará apenas um ajuste parcial neste ano, abrindo caminho para altas mais brandas a partir de junho;
- Intensificação da cautela, deixando de mencionar o ajuste parcial. Com isso, amplia-se a necessidade de uma taxa terminal mais alta.
Caso o primeiro cenário se concretize, é esperado que a curva de juros seja ainda mais inclinada, com as taxas de curto prazo se ajustando à decisão (esperando uma compensação futura). O DI futuro para janeiro de 2027 já opera próximo de 9%, com o mercado precificando uma forte elevação da Selic nos próximos anos.
O outro cenário acalmaria os ânimos do mercado futuro e provavelmente o mercado veria uma perda de inclinação. Isso, pois, reduziria a necessidade de elevações maiores nos juros à frente.
“As curvas de juros no mercado já preveem alguns aumentos. Essa expectativa vem surgindo em função dos dados de inflação e do medo embutido nesse prêmio da curva de risco”, diz Costa, da Fatorial.
Esses aspectos são relevantes para a conversa das decisões de política monetária do Copom uma vez que dizem respeito à rolagem de dívida interna do Brasil. Com a Selic mais baixa, a demanda por títulos públicos tende a ser menor — como foi notado em 2020 — sobretudo em tempos de alto risco país e fiscal.