O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil vai divulgar amanhã (26) as novas decisões sobre a política monetária. A expectativa predominante no mercado é de que a taxa básica de juros (Selic) seja novamente mantida em 13,75% ao ano, nível mais alto desde o início de 2017.
Esta é a visão dos bancos Goldman Sachs, Santander (SANB11) e UBS, consultados pelo SUNO Notícias, em relação à próxima decisão do Copom. A expectativa dessas instituições está alinhada com as projeções do mercado em geral, conforme se observa no anúncio do Boletim Focus desta última segunda-feira (24).
Segundo a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa Selic deverá ser mantida em 13,75% ao ano pela segunda vez seguida. Os analistas de mercado esperam que a taxa permaneça nesse nível até meados de 2023.
No último encontro, em setembro, o colegiado manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, decretando o fim do mais longo ciclo de alta de juros de sua história. Para esta reunião, é unânime a projeção de estabilidade dos juros básicos da economia em 13,75% entre os 59 participantes da pesquisa do Projeções Broadcast.
Inflação acima da meta do BC
No Copom de setembro, o BC indicou a manutenção da Selic por “período suficientemente prolongado” para alcançar a convergência da inflação para a meta, mas alertou que, caso a desinflação não ocorra como o esperado, pode voltar a subir os juros.
Depois, os membros do Copom sinalizaram que o BC estava confortável com o cenário que a Focus exibe para a Selic. “Usando a curva do Focus com corte em junho, mostramos que a gente atinge nossos objetivos”, disse o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na coletiva do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em referência à convergência para a meta em 2024.
Atualmente, as projeções do Relatório de Mercado Focus para o IPCA – índice de inflação oficial – são de 5,60% em 2022 e 4,94% em 2023, ambas acima do teto da meta. Para 2024, está em 3,50%, superando o alvo central (3,00%), mas aquém do limite máximo de 4,50%.
Depois de altas nos últimos meses, as expectativas de inflação têm caído. A última edição do boletim Focus reduziu a previsão de inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,62% para 5,6% em 2022. Em junho, as projeções para o IPCA chegaram a 9%.
Embora a gasolina e a energia elétrica tenham ficado mais baratas nos últimos meses, a guerra entre Rússia e Ucrânia continua a causar impacto nos preços do diesel, de fertilizantes e de outras mercadorias importadas. Além disso, a instabilidade na economia norte-americana, que enfrenta a maior inflação nos últimos 41 anos, tem provocado forte volatilidade na cotação do dólar em todo o planeta.
Para 2022, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior é 5%. Os analistas de mercado consideram que o teto da meta será estourado pelo segundo ano consecutivo.
Os juros básicos atualmente estão no mesmo nível da taxa que vigorou de dezembro de 2016 a janeiro de 2017. O ciclo de alta encerrado em setembro teve 12 aumentos consecutivos a partir da mínima histórica de 2%, alcançada em meio aos efeitos drásticos da pandemia de covid-19.
Campos Neto evitou, porém, dizer quão “suficientemente prolongada” deve ser a manutenção da Selic em níveis elevados para que se chegue às metas de inflação.
Apesar disso, segundo os economistas da SUNO, Rafael Perez e Gustavo Sung, uma elevação de 25 bps (0,25 p.p.) – que elevaria os juros para 14,00% ao ano – não está descartada, embora seja um cenário menos provável. O motivo? A inflação, ainda, como se vê, no centro da preocupações do BC e do mercado.
Aumento das expectativas de manutenção da Selic
Essa baixa probabilidade de aumento da taxa básica de juros neste momento é refletida pelo mercado, já que cerca de 90% dele está precificando a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, reforçando o final do ciclo de alta dos juros básicos do Brasil.
O Copom já afirmou que vai continuar vigilante, não hesitando em retomar novas movimentações de altas na Selic caso seja necessário, desde que o processo de desinflação da economia não evolua.
Embora as projeções do mercado apontem quedas no IPCA para os anos seguintes, a expectativa de inflação segue superior ao limite da meta para 2023 e se encontra acima do centro da meta para o ano de 2024.
“O Copom deverá ponderar sobre as incertezas domésticas e globais antes de tomar qualquer decisão, pesando sobre os riscos altistas e baixistas divulgados na última ata”, diz Perez.
Nesse caso, alguns riscos podem pesar para uma decisão de retomada na alta de juros do Copom, como as incertezas referentes ao arcabouço fiscal do Brasil no futuro, por exemplo.
Apesar disso, algumas questões podem auxiliar o Banco Central a conseguir controlar a inflação, como a baixa no preço das commodities, economia global desacelerada e uma continuidade na redução de impostos no ano de 2023.
Mas, diante de todos os riscos elencados, as expectativas de Perez e Sung para a próxima decisão do Copom é de manutenção da taxa Selic em 13,75% até o segundo trimestre do ano que vem.
De acordo com analistas do banco UBS, na véspera desta nova reunião do Copom, 41 dos 45 analistas da Bloomberg esperavam uma manutenção na Selic, enquanto 4 esperavam um aumento de 25 bps (0,25 p.p).
Além disso, na enquete de transmissão (local news feed), 41 de 50 tinham expectativas de manutenção da taxa de juros e 9 esperavam um aumento de 25bps.
“Se a trajetória da inflação for superior à previsão do Copom, eles podem apertar novamente. Nós não esperamos que eles façam isso, temos uma menor previsão de inflação que o Copom e o Focus. Reduzimos nossa projeção de inflação para 2022 de 6,5% para 5,7% e mantivemos nossa projeção em 4,0% para 2023”, dizem os analistas do UBS.
Apesar disso, a instituição continua projetando a manutenção da Selic em 13,75% ao ano pelo Copom, 9,25% para 2023 e 7,75% até o final de 2024.
Na última reunião do Copom, em 21 de setembro, o Banco Central observou que houve poucas mudanças no que se refere ao balanço de riscos, o que corrobora para que o mercado tenha essa perspectiva mais voltada à manutenção da Selic pelo órgão do BC.
“Desde aquela reunião, os dados de atividade real foram mistos. Os serviços fortes e mais firmes do que o esperado, mas atividade de varejo e industrial fraca, levando a uma atividade real do IBC-Br em agosto mais fraca do que o esperado”, disseram os analistas do Goldman Sachs em relatório.
Além disso, o Goldman Sachs também destacou uma maior solidez no mercado de trabalho, embora se observe dados mais fracos nos PMIs de manufatura e serviços. Além da manutenção dos juros básicos, a prévia do Copom do banco aponta uma possível continuidade no tom mais conservador por parte do órgão.
Essa mesma perspectiva é apoiada por Antonio van Moorsel, diretor do Advisory da Acqua Vero Investimentos. Ele diz que “o comitê deve aproveitar a oportunidade para reforçar o compromisso com a vigilância, na mesma linha do que aconteceu na última reunião”.
Quando a Selic pode começar a cair?
A opinião dos analistas do Santander também segue em linha com o consenso do mercado de manutenção da Selic por ora, observando poucas mudanças significativas no que se refere ao ambiente macroeconômico.
Do ponto de vista do cenário internacional, os dados permanecem apontando para uma forte persistência da inflação, com uma resposta mais contundente por parte das autoridades monetárias em diversas economias mais avançadas.
No Brasil, “continuamos a acreditar que uma mudança no plano de voo (de estabilidade tarifária por um período prolongado) exigiria desvio significativo do cenário do BCB”, dizem os analistas do Santander, que acreditam que um eventual corte nas taxas de juros pode ser visto no segundo semestre de 2023.
Moorsel, da Acqua Vero Investimentos, diz que os 13,75% ao ano da taxa Selic pode ser o pico deste atual ciclo de alta de juros ou até mesmo do fim deste ciclo. “O próximo ajuste será uma redução da taxa, provavelmente, em meados do próximo ano na virada do segundo para o terceiro trimestre”, completa.