O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia hoje (20) a 4ª reunião do ano para definir a taxa básica de juros do Brasil, a Selic. A expectativa geral do mercado é praticamente unânime de que a Selic se mantenha em 13,75% ao ano, apesar da recente queda da inflação acumulada. O mercado espera também se o comunicado do Copom dará indícios do início do ciclo de cortes nos próximos encontros do comitê, em agosto e setembro.
A taxa Selic chegou a 13,75% ao ano em agosto de 2022 e até então não registrou variações. Apesar de estar no nível mais alto desde o início de 2017, o valor atual deve ser mantido nesta reunião, de acordo com expectativas de analistas.
Esta é a visão dos bancos Itaú (ITUB4), Goldman Sachs, BTG Pactual (BPAC11) e Paraná Banco, consultados pelo SUNO Notícias, em relação à próxima decisão do Copom. A estimativa dessas instituições está alinhada com as projeções do mercado em geral, conforme o último Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (19).
Apesar disso, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a expectativa para a taxa básica de juros no fim de 2023 registrou queda depois de 8 semanas de estabilidade, em detrimento da melhora dos índices de inflação.
A mediana para a Selic ao final de 2023 saiu de 12,50% e foi para 12,25% ao ano. Essa redução também é observada nas expectativas para o final de 2024, passando de 10,00% para 9,50%, após 17 semanas seguidas de manutenção.
Além de apoiar a estimativa de manutenção da taxa básica de juros nesta reunião, Gustavo Sung, Economista-chefe da Suno Research, revela que a projeção de sua equipe de analistas para a taxa terminal da Selic é de 12,50% ao ano para 2023, e de 10,25% ao ano para 2024.
Diante de fatores positivos para o Banco Central, como sinais de arrefecimento da inflação, diminuição do risco fiscal, taxa de câmbio inferior a R$ 5,00 e queda das taxas longas da curva de juros, Sung acredita que se abriu uma janela de oportunidades para que o Copom comece a discutir cortes na Selic, podendo diminuir o tom duro do comunicado.
Além disso, o economista acredita que o Copom só iniciará o processo de cortes na taxa de juros quando “tiver certeza de que a inflação está em trajetória estável e em direção à meta, as expectativas ancoradas e sem grandes choques que o façam mudar a rota no meio do caminho”.
Por outro lado, pondera que tanto os choques positivos quanto os negativos poderão mudar esse cenário e as suas respectivas probabilidades.
Em resumo, veja o que Sung prevê para esta reunião do Copom:
- “Para esta reunião, a nossa expectativa é de manutenção da taxa de juros em 13,75% a.a.
- Para 2023, a nossa projeção para a taxa terminal da Selic é de 12,50% a.a. Para 2024, 10,25% a.a.
- Desde a última reunião do Copom, realizada no início de maio, a inflação continuou dando sinais de arrefecimento e, diante de uma redução do risco fiscal, a taxa de câmbio passou a ser negociada abaixo dos R$ 5,00, as expectativas melhoraram e as taxas das longas da curva de juro futura começaram a cair. Todos são fatores positivos para o Banco Central.
- Logo, acreditamos que se abriu uma janela de oportunidades para que o Copom comece uma discussão inicial sobre cortes na taxa de juros. Até poderia diminuir o tom duro do comunicado.”
Quando a Selic pode começar a cair?
Para Pedro Oliveira, tesoureiro do Paraná Banco Investimentos, o início do corte na taxa Selic deve ser visto na reunião seguinte, a ser realizada no mês de agosto de 2023.
Ele explica que a maior razão para o BC manter a Selic em 13,75% ao ano até agora vinha das preocupações com as projeções de inflação no longo prazo, com a incerteza fiscal e núcleos de inflação altos. Por outro lado, essas questões tiveram uma melhora desde a última reunião do Copom, realizada no dia 3 de maio de 2023.
“O Banco Central deve ser cauteloso e começar o ciclo de corte com 0,25 p.p. em agosto, podendo ser ajustado para maior, caso esses indicadores recuem com maior velocidade”, diz Oliveira.
Apesar da expectativa de manutenção da Selic nesta reunião, o Itaú prevê o Copom ajustando a sua comunicação, embora não deva trazer uma sinalização de que um corte de juros está iminente.
“Acreditamos que a eventual flexibilização da política monetária deveria ocorrer de forma gradual. Por um lado, a queda da inflação corrente tem sido importante. Mesmo que concentrada em itens voláteis e bens industriais, a desinflação tende a ser repassada para itens mais indexados, pela inércia menor. Esses fatores devem permitir o início de um ciclo de cortes em setembro”, afirma a “Pesquisa macroeconômica – Itaú”, assinada por Mario Mesquita, economista-chefe da casa.
O BTG Pactual acredita em uma flexibilização do tom adotado pelo BC, com um maior grau de liberdade para que o Copom comece o ciclo de corte dos juros já na próxima reunião, apoiado pela aprovação do arcabouço fiscal e IPCA de abril e maio vindo abaixo do esperado.
Um possível corte na Selic já no mês de agosto também é projetado pelo Goldman Sachs que, além da questão fiscal e inflacionária, destacou também os dados do PIB no primeiro trimestre de 2023 (1T23), impulsionados pela contribuição de exportações líquidas e acúmulo de estoques, o que pode contribuir para a decisão do comitê na próxima reunião.
Por outro lado, o banco não descarta que um primeiro corte na Selic possa ser ainda mais postergado.
“No geral, esperamos que o Copom espere até a reunião de agosto para começar a cortar gradualmente [a Selic]. Mas, dadas as perspectivas instáveis de política fiscal e parafiscal e dependendo de como vai evoluir a decisão do final de junho sobre a(s) meta(s) de inflação para 2024-2026, uma espera mais longa para começar a aliviar não pode ser descartada”, diz o relatório do Goldman Sachs.
Em meio a essa perspectiva do mercado para que um corte na Selic seja realizado na reunião do Copom de agosto, o Ibovespa vem registrando sequências positivas na Bolsa de Valores desde o início de maio.
Nesta segunda (19), o Ibovespa encerrou em alta de 0,93%, aos 119.857,76 pontos, alcançando o maior nível desde outubro do ano passado.
Projeções para inflação
O Itaú estima que as projeções de inflação para o cenário de referência devem diminuir em 2023 de 5,8% para 5,1% e, em 2024, de 3,6% para 3,5%. Esse cenário de referência é o que inclui a taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra e a taxa de juros segundo o boletim Focus.
Para 2024, o Itaú aponta que a melhora no cenário inflacionário deve acontecer em meio ao recuo da inércia e das projeções de inflação, embora uma revisão do PIB/hiato possa atuar na direção contrária.
Para o Paraná Banco, a inflação deve encerrar o ano de 2023 perto dos 5%, já que a inflação de maio acabou surpreendendo o mercado positivamente, em meio a maior restrição no crédito e a baixa na cotação de commodities e do dólar.
“Esses fatores têm ajudado o Banco Central no controle da inflação, o que é mais um motivo para começar o ciclo de corte”, afirma o Paraná em comunicado.
As projeções para a Selic e inflação em 2023 desses bancos estão alinhadas com a expectativa geral do mercado, conforme exposto no Boletim Focus, que reduziu a estimativa de inflação para este ano de 5,42% para 5,12%, em meio às expectativas de uma maior elevação do PIB.