Em decisão unânime, o Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou nesta quarta-feira (17) a taxa básica de juros (Selic) de sua mínima histórica de 2,00% ao ano para 2,75% ao ano. Esta é a primeira vez desde 2015 que a meta foi elevada pelo colegiado.
O anúncio desta noite surpreender alguns setores do mercado, cujas previsões giravam em torno de uma aumento de 0,5 ponto percentual.
Segundo o Copom, “uma estratégia de ajuste mais célere do grau de estímulo tem como benefício reduzir a probabilidade de não cumprimento da meta para a inflação deste ano, assim como manter a ancoragem das expectativas para horizontes mais longos”.
Embora mais elevada, uma alta já era esperada pelos agentes do mercado, muito por conta da retirada da ferramenta de forward guidance, uma orientação futura oferecida pela autoridade monetária, na última reunião do Copom. O fim ao instrumento, disse Nicolas Takeo, gerente de análise da Singulare, “preparou o terreno para uma alta nos juros.”
A razão para a retirada do forward guidance foi a inflação, a “bela adormecida” que voltou a aparecer no horizonte. De acordo com o último Boletim Focus, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021 está em 4,60%, nível superior ao centro da meta, de 3,75%.
Entre os principais alvos do aumento de preços estão o grupo de alimentos e combustíveis, impulsionados mais por uma alta nos commodities no exterior do que por uma demanda sólida, fruto de uma reativação da economia.
Somando isso a um real desvalorizado e uma taxa livre de risco reduzida tem-se um “círculo vicioso”, afirmou Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, no qual a curva de juros se empina cada vez mais.
“O Banco Central deveria carregar mais rapidamente o ajuste de juros”, para “um patamar mais condizente com a percepção de risco”, ressaltou o especialista. “O Banco Central tem de se posicionar, não pode ser ativista”. “Tem de se preocupar com a ancoragem da inflação.”
“Os membros do Copom consideram que o cenário atual já não prescreve um grau de estímulo extraordinário. O PIB encerrou 2020 com crescimento forte na margem, recuperando a maior parte da queda observada no primeiro semestre, e as expectativas de inflação passaram a se situar acima da meta no horizonte relevante de política monetária. Adicionalmente, houve elevação das projeções de inflação para níveis próximos ao limite superior da meta em 2021”, salientou o comitê
Veja o comunicado do Copom na íntegra.
Copom sinaliza nova aumento de 0,75 p.p. da Selic
O Copom não só surpreendeu o mercado uma alta da Selic mais forte do que a prevista mas também com uma sinalização de um novo aumento de 0,75 ponto percentual na próxima reunião.
“A menos de uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”, comunicou o órgão.
O comitê ainda ponderou dizendo que a indicação de uma nova arrancada da Selic continuará a depender da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação.