O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), em Brasília, decidiu nesta quarta (4) elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto porcentual, para 5,25% ao ano. A justificativa do comitê para determinar o aumento foi conter a alta da inflação. Os diretores do BC avisaram ainda que está previsto novo aumento de 1 p.p para a próxima reunião.
Nesta quarta a decisão final do BC, tomada por unanimidade, era aguardada pelo mercado. Foi o quarto aumento consecutivo da Selic. Na decisão anterior de junho, a taxa subiu 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano.
Com o avanço inflacionário registrado nos últimos meses, a previsão das instituições financeiras era de que a Selic anunciada em agosto subisse em um patamar maior. O último boletim Focus, pesquisa divulgada toda semana pelo BC, já projeta para o final de 2021 taxa de 7% ao ano.
A decisão de hoje representou o maior avanço numa reunião do comitê do BC desde a elevação da Selic de 25,5% para 26,5% em fevereiro de 2003. O aumento anunciado nesta quarta leva também a taxa ao maior patamar desde outubro de 2019.
Piora no cenário de inflação: Selic vai subir mais, diz BC
Ao aumentar o ritmo de ciclo de alta da Selic, o Copom disse hoje que pretende manter o pé no acelerador. Sinalizou, no comunicado, que os juros vão subir ainda mais. “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”, argumenta.
A próxima reunião deve elevar a Selic em mais 1 p.p. “O Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, reforçam os diretores do BC.
“No cenário externo, a evolução da variante Delta da Covid-19 adiciona risco à recuperação da economia global. O Comitê avalia que, a despeito dos movimentos recentes nas curvas de juros, ainda há risco relevante de aumento da inflação nas economias centrais”, complementa o documento do Copom.
No último encontro, em junho, os diretores do Banco Central previam subir os juros em apenas 0,75 p.p.. A alta da inflação, porém, mudou a abordagem do comitê. “Esse ajuste também reflete a percepção do comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação”, diz o comunicado desta quarta.
“O ajuste no juro reflete percepção de piora recente em componentes inerciais de preços”, acrescenta o comunicado. “O cenário prospectivo contempla recuperação robusta do crescimento no segundo semestre”, pondera o comitê.
Pressão da alta de preços
Por que o Copom teme a pressão inflacionária no curto prazo? Em junho, a inflação desacelerou para 0,53%, depois de chegar a 0,83% em maio. Ainda assim, com o resultado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 3,77% no ano, e 8,35% nos últimos 12 meses.
Os dados de julho devem ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima semana, mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial, registrou inflação de 0,72% no mês passado, a maior variação do IPCA-15 para um mês de julho desde 2004 (0,93%).
Faltava conhecer qual seria a abordagem do comitê em relação ao quadro brasileiro de alta de preços no comunicado que acompanha a decisão do comitê do Banco Central. Relatório do BTG Pactual e da XP indicavam exatamente esse aumento de 1 p,p para a Selic.
O economista Gustavo Sung, do Time de Análise da Suno, responsável pelo Relatório de Macroeconomia, explicou: “Com a piora dos índices de inflação e possível desancoragem das expectativas, acreditamos que o Banco Central deve ser mais ativo e elevar a taxa de juros de forma mais significativa. Esse comportamento evitaria uma perda de credibilidade e reduziria uma contaminação dos preços deste para o próximo ano.”
Commodities e juros
Sung argumenta: “O cenário de alta dos juros tem por base o controle da inflação de 2021-22. Os preços internacionais das commodities, o câmbio desvalorizado, a escassez de insumos na cadeia produtiva e o aumento do preço da energia – atualmente bandeira vermelha 2 – têm pressionado a inflação.”
“No acumulado de 12 meses, o IPCA (8,35%) já superou o teto da meta estipulado pelo governo, de 5,25%. O IGP-M – muito utilizado para reajustes de contratos de aluguéis – registra 33,83%. Os últimos dados mostram que os núcleos de inflação já estão no limite superior da meta e o IPCA-15 gerou certa apreensão no mercado, o que vinha corroborando a visão de alta de 1 p.p.”. lembra Gustavo.
Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset, comenta: “O comunicado menciona a variante delta do coronavírus como um fator preocupante para a recuperação econômica. Diz que as expectativas de inflação do curto prazo estão altas, mas, para 2022 e 2023, sob premissas de câmbio a R$ 5,15, considera que a inflação está no intervalo da meta — a 3,5% e 3,2%, respectivamente. Deixa ainda a porta aberta em relação à trajetória de juros — que podem mudar, dependendo da trajetória da economia.”
Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital, lembra: “Com os investimentos em renda fixa tornando-se mais atraentes em função da elevação da taxa Selic, os investimentos em renda variável podem ser impactados. Mas a estabilização do ciclo de aperto monetário em uma taxa nominal de 7,50% a.a. não deve ter impacto suficiente para retirar a atratividade do mercado de ações, que permanece promissor em 2021.”
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, acrescenta: “O BC se mantém atento à dinâmica inflacionária, mencionando fatores que podem agravar o quadro, como uma temporada de frio com geadas no sul, ou a inflação subjacente do setor de serviços. O Copom está em linha com a análise do mercado sobre o cenário macro.”
Copom: ciclo de alta da taxa de juros
O Copom começou ontem (3), em Brasília, a quinta reunião do ano que definiu a taxa Selic.
Os membros do Copom sinalizaram na ata da reunião anterior, em junho, que deveriam manter a elevação da Selic no mesmo patamar de 0,75 ponto percentual. O avanço da inflação nas últimas semanas fez aumentar essa projeção.
“No último comunicado, o BC subiu o tom e retirou a expressão ‘normalização parcial dos juros’, que basicamente é o aumento da taxa de juros com certo grau de estímulo econômico, e indicou um movimento mais rápido à taxa neutra (torno de 6,5% a.a.) – que nem estimula e nem contrai a atividade econômica – para cumprir a meta de inflação do ano que vem”, analisa Gustavo Sung, da Suno.
“E deixou claro que, se houver deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante, o Copom pode reduzir de forma mais tempestiva os estímulos monetários. Logo, uma alta mais forte neste momento pode trazer tranquilidade aos agentes econômicos.”
A Selic continuou em um ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de 2018.
Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até chegar ao menor nível da história em agosto de 2020, em 2% ao ano. Começou a subir novamente em março deste ano, quando avançou para 2,75% ao ano e, no início de maio, foi elevada para 3,5% ao ano. Em junho, subiu para 4,25% ao ano.
Selic: o que vem por aí?
Até onde o BC irá elevar a taxa de juros sem comprometer a retomada da economia?, pergunta o economista da Suno.
“Apesar das boas perspectivas, o país ainda sofre com os efeitos negativos da pandemia, como a alta taxa de desemprego. Caso a autoridade monetária eleve a taxa de juros de forma mais abrupta, pode comprometer a retomada mais sustentável da economia a médio e longo prazos”, pondera.
“Mas, se não for incisivo com a inflação, o descontrole de preços trará prejuízos sérios à atividade e à renda dos brasileiros, principalmente nas classes mais vulneráveis – que já sofrem com a pandemia”, complementa.
Com mais três reuniões até o fim do ano e com a tendência de alta dos juros, o comportamento da inflação e os dados de atividade dos próximos meses serão fatores importantes para determinar o patamar da Selic até acabar 2021.
“Fatores positivos, que podem atenuar a inflação no curto prazo, são: a recente valorização cambial, que diminui impacto sobre os preços das matérias-primas, e os dados acima do esperado para a atividade econômica, que reduzem o prêmio de risco sobre os ativos brasileiros”, diz Sung.
Ele argumenta: “O maior acionamento das termelétricas, frente à possível crise de abastecimento de energia, e a perspectiva de retomada do comércio e dos serviços podem pressionar a inflação no segundo semestre. O prolongamento de estímulos fiscais – que melhoram a atividade, mas, ao mesmo tempo, aumentam o risco fiscal – pode ser um fator que eleva a inflação a curto e médio prazos. Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta pode pressionar os preços dos produtos.”
Ativos brasileiros mais atrativos
A elevação da taxa de juros aumenta o diferencial entre os juros internos e externos, tornando os ativos brasileiros mais atrativos para o investidor estrangeiro. Frente às taxas próximas de zero em muitos países, há maior entrada de dólares, sustentando a valorização do câmbio, observa o economista do time da Suno.
Há outros fatores que devem ficar sob atenção dos investidores, de acordo com Sung. “Com a maior entrada de dólares na economia, a tendência é de valorização do real e, portanto, os preços dos bens importados em moeda local serão menores – diminuindo a pressão sobre a inflação.”
Além disso, diz ele, “com relação ao mercado financeiro brasileiro, acreditamos que não há ainda grandes incentivos para uma guinada à renda fixa. Se levarmos em conta a inflação, alguns investimentos apresentam retorno reais negativos.”
“Por outro lado, a tendência de alta tem efeitos negativos sobre a dívida pública da União, pois parte dela está indexada à Selic. Assim, mudanças nos juros impactam o custo de carregamento. Como o país apresenta uma situação fiscal difícil, o risco pode aumentar marginalmente”, complementa Sung.
“Por fim, uma mudança na política monetária nos Estados Unidos levaria à saída de capital dos países emergentes. Logo, a desvalorização cambial pressionaria a inflação. O remédio seria o aumento maior da taxa de juros”, conclui.
“Tom que o mercado sinalizava”
“O comunicado do Copom traduziu no exato tom o que o mercado já sinalizava. E mostra alinhamento com o compromisso da meta em tom ainda mais rígido que o último comunicado, principalmente quando sinaliza juros para patamar acima do neutro”, comentou o economista João Beck, sócio da BRA.
“Conceitualmente, se temos um Banco Central responsável podemos esperar que ele vai subir a taxa de juros para compensar os efeitos da inflação para o investidor. Sendo assim, não precisaríamos remanejar carteiras de investimentos com foco nesse índice”, acrescentou. “O Banco Central está atento e tem um termômetro acurado da inflação. Por isso, os aumentos da Taxa Selic aceleraram.”
Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos, observou: “O BC mostra-se preocupado com a Inflação. Mudou o comunicado endurecendo os ajustes. Se mostra preocupado e se vê ‘correndo’ atrás da curva de juros. O mercado de juros antecipou a alta e está ditando o ajuste do Copom. O comunicado deixa claro um novo aumento de 1% de juros com mais um novo aumento de 1%. As expectativas de juros para dezembro aumentam após essa ata.”
Complementa: “O mercado teme que a inflação não seja transitória e sim mais recorrente. E que isso traga uma alta significativa de preços em serviços e consumo. É importante destacar que, se o BC não continuar subindo os juros, a inflação pode virar mais permanente, o que não é bom para a economia brasileira.”
Entidades criticam Copom
A decisão do Copom foi “equivocada” na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a entidade, as condições de crédito para consumidores e empresas deveriam continuar sendo estimuladas e a medida, ao contrário, desestimula a economia e aumenta o custo do financiamento.
“O controle da inflação de oferta via juros é menos eficaz e requer um forte desestímulo à atividade econômica em um momento em que a recuperação da economia ainda se mostra frágil. A taxa de desemprego ainda está próxima do pico histórico e a produção da indústria de transformação perdeu força ao longo deste ano apresentando queda em cinco meses no primeiro semestre”, avalia o presidente da CNI, Robson Andrade, em nota.
A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) também considerou a decisão do Copom um “equívoco”. “Pode-se dizer que é um equívoco do Banco Central não apenas elevar a taxa básica de juros, mas acelerar o ritmo de alta, colocando em risco a frágil recuperação da economia brasileira”, diz a federação em nota.
Taxa Selic: arma do Copom contra a inflação
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela também é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle.
O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima ao valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
Entretanto, as taxas de juros do crédito não variam na mesma proporção da Selic, pois a Selic é apenas uma parte do custo do crédito. Os bancos também consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
Seguindo orientação da área de gestão de pessoas do BC, na semana passada, todos os membros do Copom foram testados para covid-19. O diretor Bruno Serra testou positivo e, portanto, não participará das sessões presenciais nesta terça e quarta-feira. “O diretor segue assintomático e desempenhando normalmente suas funções de maneira remota”, informou o BC.
Inflação em alta
Para 2021, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior é 5,25%.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial do país, fecharia o ano em 5,82% no cenário base, com Selic em 6,25% ao ano e câmbio partindo de R$ 5,05.
Já a projeção do mercado é de uma inflação ainda maior, fechando o ano em 6,79%, de acordo com o último boletim Focus. É a 17ª alta consecutiva da previsão das instituições financeiras.
Esses dados influenciaram na decisão sobre a taxa Selic nesta quarta do Copom.
Íntegra do comunicado do Copom desta quarta (4)
Veja a íntegra do comunicado desta quarta do BC sobre a definição da Selic, com uma análise da atividade econômica do país e as justificativas para a decisão do comitê:
“Em sua 240ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 5,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
No cenário externo, a evolução da variante Delta da Covid-19 adiciona risco à recuperação da economia global. O Comitê avalia que, a despeito dos movimentos recentes nas curvas de juros, ainda há risco relevante de aumento da inflação nas economias centrais. Ainda assim, o ambiente para países emergentes segue favorável com os estímulos monetários de longa duração, os programas fiscais e a reabertura das principais economias;
Em relação à atividade econômica brasileira, os indicadores recentes continuam mostrando evolução positiva e não ensejam mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre;
A inflação ao consumidor continua se revelando persistente. Os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável. Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos. Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 6,8%, 3,8% e 3,25%, respectivamente;
No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,15*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 6,5% para 2021, 3,5% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 7,00% a.a. neste ano, mantém-se nesse valor durante 2022 e reduz-se para 6,50% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 10,0% para 2021 e 4,6% para 2022 e 2023. Adota-se uma hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia elétrica, que se mantém em “vermelha patamar 1” em dezembro de cada ano-calendário.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.
Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país. Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom reitera que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 5,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022 e, em grau menor, o de 2023. Esse ajuste também reflete a percepção do Comitê de que a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços, em meio à reabertura do setor de serviços, poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação.
O Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser mais tempestivo no ajuste da política monetária é a mais apropriada para garantir a ancoragem das expectativas de inflação. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”
(Com informações da Agência Brasil e Estadão Conteúdo)