Copom deve elevar Selic para 4,25% e retirar ‘parcialidade’ de ajuste monetário
O Comitê de Política Monetária (Copom) inicia nesta terça-feira (15) sua quarta reunião do ano. As apostas predominantes do mercado são de que a taxa básica de juros da economia (Selic) será elevada de 3,5% para 4,25%, como o colegiado do Banco Central já adiantou na ata da última reunião, no início de maio.
Esta será a primeira reunião com dados mais concretos sobre a economia. Desde o último encontro, foi divulgado um crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, além de dados inflacionários acima das expectativas.
Especialistas consultados pelo Suno Notícias estimam que o Copom deva acentuar o ciclo de alta da Selic, retirando o termo “parcial” do ajuste monetário vigente. Hoje, há espaço para um maior aperto monetário — e não apenas parcial — por conta da capacidade ociosa produtiva menor do que nos últimos meses. Sinal disso são os resultados acima das projeções, tanto da atividade como da inflação.
A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) estima que as próximas duas reuniões contarão com aumentos de 0,75 ponto percentual na taxa de juros, com a normalização da Selic frente ao cenário inflacionário. A associação espera que a taxa termine o ano em 6%.
Vale ressaltar que o Boletim Focus da última segunda-feira (14) elevou, mais uma vez, sua previsão para a Selic. Agora, a previsão mediana dos principais especialistas do mercado estima que a taxa de juros brasileira terminará o ano em 6,25%.
A sensação do mercado é de que as previsões têm corrido atrás das perspectivas do aumento dos preços na economia. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado deste ano está em 3,22%, e nos últimos 12 meses, de 8,06%.
Em um país ainda com incertezas econômicas e fiscais, um juro real negativo parece ser uma disfuncionalidade. “O cenário de alta dos juros tem por base o controle da inflação de 2021 e 2022. Mais especificamente, ancorar as expectativas dos agentes econômicos”, diz Gustavo Sung, economista da Suno Research.
Hoje, a Selic está abaixo da taxa de juros nominal neutra, considerada aquela que equilibra a economia: crescimento da atividade com estabilidade de preços. Hoje, ela está em torno de 6,5%, resultado de taxa de juros real neutra de 3%, mais a meta oficial de inflação de 3,5% para o ano que vem.
Para o BTG Pactual (BPAC11), o ciclo de alta da Selic deve ser mais intenso com as “expectativas ascendentes” de inflação desde a última reunião. A previsão do banco para a taxa de juros para o fim do ano passou de 5,5% para 6,5%.
“Se no início do ano o ciclo de alta das commodities e a desvalorização do real foram as principais causas das pressões inflacionárias no Brasil, nos últimos 45 dias outra variável mudou sua trajetória e contribuiu para esta visão mais hawkish: as expectativas do PIB”, diz o banco. “Para evitar que o IPCA do próximo ano descumpra as regras de meta de inflação, é prudente que o BC faça um comunicado mais duro.”
Vacinação e cenário externo justificam alta da Selic por Copom
Segundo Vitor Miziara, da Criteria Investimentos, outro ponto positivo para ficar de olho é o avanço da vacinação no Brasil, o que tende a reforçar a atividade econômica nos próximos meses e, consequentemente, pressionar os preços.
“O Governo de São Paulo antecipou, novamente, agora em 30 dias, seu programa de imunização a todas as pessoas com mais de 18 anos. São quase 80 milhões de doses aplicadas em todo o Brasil. As expectativas estão sendo reajustadas com base nos resultados da economia”, avalia o especialista. A Criteria espera que a Selic feche o ano em 6,5%.
Outra causa apontada por especialistas para a permanência do reajuste da taxa de juros brasileira é o dólar potencialmente mais forte daqui para frente. Com a forte recuperação econômica dos Estados Unidos, é esperado que o rendimento das Treasuries subam junto com a inflação — mesmo que justificada pelo descasamento entre oferta e demanda.
Com isso, o dólar tende a ser concentrado dentro das fronteiras estadunidenses, apreciando-se frente ao real. “Por mais que ele tenha caído para próximo de R$ 5 nas últimas semanas, a expectativa é que não passe disso e até vá subir um pouco”, salienta Miziara. O Focus prevê que o dólar encerre 2021 em R$ 5,18, e no ano que vem, em R$ 5,20.
Com a divisa norte-americana fortalecida, a inflação continua esticada por aqui — demandando a atuação da política monetária.
A preocupação inflacionária é o principal fator de alerta do Itaú (ITUB4) para a reunião desta semana. O banco estima que o modelo do BC deve elevar as projeções do IPCA de 5,1% para 5,5% em 2021, e de 3,4% para 3,6% em 2022, com os riscos de inflação ainda elevados, mesmo que os preços das commodities (tanto industriais quanto agrícolas) tenham permanecido estáveis desde a último reunião.
A instituição prevê um aumento de 0,75 ponto percentual na Selic na próxima quarta-feira (16). “Será particularmente importante acompanhar possíveis sinalizações da autoridade monetária sobre seus próximos passos, em especial para a sua próxima reunião”, dizem os analistas, que também esperam o corte do termo “parcial” ao lado do ajuste.
Crise hídrica pressiona preços em retomada econômica
O consumo de energia elétrica no Brasil em maio cresceu 12,4% frente ao mesmo mês do ano passado. Mesmo partindo de uma base considerada mais fraca, pois em maio do ano passado os efeitos da pandemia ainda eram latentes, o uso de energia elétrica — representativo na conta da inflação — demonstra a recuperação da economia.
Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), as principais altas foram dos setores têxteis (87%), veículos (84,4%) e serviços (38,4%). Esse é o ponto de atenção levantado pela XP em relatório: a contínua piora do nível dos reservatórios hidrológicos, com a crise hídrica em voga no Brasil.
“Está ficando claro que o preço da energia elétrica vai ser alto por todo 2021, gerando inércia para 2022. De fato, nosso cenário base contempla bandeira tarifária Vermelha 2 até dezembro”, diz a corretora
Com a projeção do IPCA acima da meta no ano que vem, a XP estima que a Selic termine 2021 em 6,5%. “Acreditamos que o Banco Central entenderá que parte relevante das pressões inflacionárias para o próximo ano está relacionada aos preços administrados, e aceitará o IPCA um pouco acima da meta para garantir que o hiato do produto continue se fechando no próximo ano.”
A modalmais, por sua vez, estima que a inflação terminará o ano em 5,7%, sendo que em todos os cenários projetados o aumento dos preços ficou acima da meta estipulada. “Tais mudanças nos cenários interno e externo farão o Copom deixar o processo de normalização parcial e a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica”, diz Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco.