Copom reduz taxa Selic em 0,5 pp, para 12,75% ao ano, e sinaliza novos cortes
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta (20) o segundo corte seguido da taxa Selic. A taxa caiu para 12,75%, na sexta reunião do ano. A redução eram majoritariamente esperada pelo mercado. A decisão foi unânime, contando com o presidente Roberto Campos Neto.
A expectativa maior era pelo comunicado do BC que acompanha a decisão do Copom. No texto deste encontro o Copom sinaliza novos cortes: “O ritmo de 0,50 pp é apropriado para manter política monetária contracionista necessária”. O comitê terá mais duas reuniões em 2023 – no início de novembro e em dezembro.
No comunicado desta quarta do Copom, o colegiado indica que pode manter o ritmo de cortes da Selic e que a “magnitude total depende de expectativas de inflação, em particular as de maior prazo.”
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, disse o Copom no comunicado.
No texto, o Copom também não deu novas dicas sobre o tamanho total do ciclo de afrouxamento monetário.
Explica o texto do BC: “O Comitê notou a elevação das taxas de juros dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes.” E acrescenta, sobre o cenário econômico no Brasil: “A conjuntura atual é caracterizada por expectativas de inflação com reancoragem parcial.”
O colegiado resumiu que o ambiente externo “mostra-se mais incerto”. Além das novas preocupações nos EUA e na China, o BC voltou a destacar que o processo de desinflação global continua, mas os núcleos de inflação ainda elevados e o mercado de trabalho resiliente em diversos países.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas”, reforçou.
Dinâmica inflacionária no foco
“O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
Segundo o BC, a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação que ainda mostram reancoragem parcial, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, repetiu.
De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Apesar de admitir que a atividade econômica tem apresentado mais resiliência que o esperado pelo Banco Central, o Copom manteve a avaliação de que haverá sim um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Um hiato do produto mais apertado que o projetado é um dos fatores de risco para uma inflação maior que a prevista, segundo o BC.
Copom: decisão unânime, mas há preocupações com a inflação
Optaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.
“O Copom reforça importância de firme persecução das metas fiscais”, lembra o comunicado.
“Entre riscos de alta da inflação está ainda a maior persistência de pressões globais”, complementa o texto.
O comitê relaciona mais riscos no cenário:
- “uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se
- desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada;
- e impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
As expectativas de inflação no Boletim Focus ficaram relativamente estáveis entre os dois encontros do comitê. Para 2023, passou de 4,84% para 4,86%. Para 2024, principal foco da política monetária, variou de 3,89% para 3,86% e, para 2025, que tem peso minoritário nas decisões, ficou em 3,50%.
Após o início do afrouxamento da política monetária, em agosto, os juros básicos da economia brasileira estavam em 13,25% ao ano, de 13,75% antes. Era unânime no mercado financeiro a aposta em nova redução da Selic de 0,50 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, conforme amplamente sinalizado pelo Banco Central. Em agosto, os integrantes do Copom afirmaram que seus membros, unanimemente, anteviam redução da mesma magnitude nas reuniões seguintes. Desde lá, em participações em eventos públicos, os diretores do BC têm repetido que a “barra” é alta para acelerar o passo.
Segundo a edição mais recente do Boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa Selic realmente cairia 0,5 ponto percentual, embora algumas instituições projetassem corte de até 0,75 ponto. A expectativa do mercado financeiro é que a Selic encerre o ano em 11,75% ao ano.
Apesar do recuo da inflação, o Copom informou que alguns preços ainda estão subindo ou caindo menos que o previsto. De acordo com o órgão, a autoridade monetária reduzirá os juros de forma conservadora.
Com a forte desaceleração dos índices de preços nos últimos meses, as expectativas de inflação têm caído. Segundo o Focus, a estimativa de inflação para este ano passou de 4,93% para 4,86%.
Em agosto, puxada por habitação e saúde, o IPCA ficou em 0,23%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de acelerar em relação a julho, o indicador ficou abaixo das previsões por causa da queda do preço dos alimentos. Com o resultado, o indicador acumulou alta de 3,23% no ano e de 4,61% nos últimos 12 meses.
Leia o comunicado do BC na íntegra
O ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, ambos exigindo maior atenção por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, observou-se maior resiliência da atividade econômica do que anteriormente esperado, mas o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Como antecipado, ocorreu uma elevação da inflação cheia ao consumidor acumulada em doze meses no período recente. As medidas mais recentes de inflação subjacente apresentaram queda, mas ainda se situam acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,9%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023, 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 12,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023, de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
Brasil deixa liderança global dos juros reais
Com a nova baixa, o País finalmente deixou a liderança global dos juros reais (descontada a inflação) – foco das críticas do governo, políticos geral e empresários. O Brasil ocupava o posto ininterruptamente desde maio de 2022, quando a Selic, ainda no ciclo de alta, chegou justamente ao mesmo patamar adotado nesta quarta-feira, 20.
Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,40% e agora figura em segundo entre os campeões do mundo, atrás do México (6,61%). Em terceiro, aparece a Colômbia (5,10%). A média das 40 economias pesquisadas é de 1,06%. Nas contas do BC, o juro neutro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, é de 4,5%.
Conforme a sinalização dada no encontro anterior, em agosto, a queda da Selic para 12,75% já era amplamente esperada. Todas as 69 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast apostavam no novo corte de 0,50 ponto.
Em agosto, o comitê afirmou que seus membros, unanimemente, consideravam esse ritmo o mais adequado para as próximas reuniões, apesar da decisão dividida e apertada no corte inaugural da Selic (5×4), de 13,75% para 13,25% ao ano.
Para mudar esse quadro, o BC indicou ser preciso uma melhora significativa da dinâmica desinflacionária. Há preocupações ainda com os juros mais altos no exterior e com as incertezas fiscais no País.
Confira as últimas decisões do Copom
DATA DA REUNIÃO | DECISÃO (Selic) |
31 de janeiro e 1º de fevereiro | 13,75% |
21 e 22 de março | 13,75% |
2 e 3 de maio | 13,75% |
20 e 21 de junho | 13,75% |
1º e 2 de agosto | 13,25% |
Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo