Copom baixa Selic para 10,75% ao ano e indica alterações no ritmo de cortes

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou nesta quarta (20) a sexta redução consecutiva da Selic. Com o corte de 0,5 p.p divulgado hoje, a taxa básica de juros caiu para 10,75% na segunda reunião do ano do comitê do BC. A decisão foi unânime. A nova queda dos juros era aguardada pelo mercado, que estava de olho no comunicado do Copom e na projeção dos novos cortes – mas o texto que acompanha a decisão sinalizou somente mais um corte, na próxima reunião, em 7 e 8 de maio.

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No comunicado sobre o corte da taxa Selic, o Copom cita “elevação da incerteza e necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”,

O BC prevê apenas mais uma queda de 0,5 pp – não outras quedas da mesma magnitude, justamente o a maior dúvida do mercado sobre o comunicado do BC. Ainda há uma preocupação com a inflação entre os membros do comitê de política monetária.

O Copom diz que o cenário-base não se alterou substancialmente: “O ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”, diz o texto que acompanha a decisão do BC sobre a Selic.

“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom”, afirma o documento.

“A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, acrescenta o comunicado.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central repetiu que a conjuntura atual demanda “serenidade e moderação na condução da política monetária”.

Segundo o BC, a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador.

“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, reforçou, assim como no comunicado de janeiro.

“Corte da Selic em 0,5 pp na próxima reunião”

O Copom diz que o balanço de riscos “permanece com fatores em ambas as direções” e aponta, entre os riscos de alta, “maior persistência da pressão inflacionária global e maior resiliência da inflação de serviços”.

O comitê do BC explica que a “magnitude total do ciclo dependerá da dinâmica inflacionária”, citando itens mais sensíveis à Selic e atividade econômica”.

E enfatiza: “As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente. As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025.

O comunicado revela que “os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião.”

O mercado esperava que esse trecho “na próxima reunião em maio” viesse no plural – mas veio no singular.

Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, explica: “Acredito que o fato de citarem que esperam mais um corte de juros na ‘próxima reunião’ no singular e não no plural deixa um clima de incerteza do que pode acontecer nas próximas reuniões. Mas também penso que pode ser apenas uma forma de comunicar para que o governo mantenha os objetivos fiscais. Penso que há sim espaço para cortes de mesma magnitude.

Copom: expectativa do mercado

No mercado, era unânime a expectativa pela sexta queda consecutiva da Selic de 0,50 ponto porcentual do juro básico, para 10,75% ao ano, seguindo a sinalização dada em janeiro pelo comitê de que “antevê redução de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic nas próximas reuniões”.

Conforme a pesquisa do Projeções Broadcast, todas as 55 instituições consultadas esperam que a Selic cairia a 10,75% na decisão do Copom desta semana.

Mas, diante dos dados mais fortes de atividade e dos alertas da inflação de serviços, a discussão seria se o BC manteria a sinalização de novos cortes da Selic do mesmo tamanho no plural, ou se indicaria a continuidade com a dose atual até maio.

No levantamento do Projeções Broadcast, 80% das casas (44) ainda aguardam mais duas quedas do mesmo tamanho nos encontros de maio e junho. Outras 11 preveem alteração no ritmo de cortes de juros na reunião de junho: uma para 0,75 ponto e dez (18%) para 0,25 ponto.

No início deste mês, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, reconheceu que o Copom vai analisar “para frente” o risco-retorno do atual forward guidance.

Com a baixa esperada da Selic para 10,75%, o afrouxamento monetário chegaria a 3,00 pontos porcentuais – de 13,75% -, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta juro de 8,50% no fim do ciclo. Nas comunicações oficiais, a autoridade monetária tem repetido que a magnitude total do processo de alívio dos juros dependerá da evolução da dinâmica inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

No Boletim Focus, a mediana para a inflação de 2024 passou de 3,81% no último Copom, em janeiro, para 3,79% na última divulgação, de hoje. Já para 2025, houve alta, de 3,50% para 3,52%, enquanto a estimativa para 2026 continuou estacionada em 3,50% – todas desancoradas em relação à meta contínua de 3,00%. No primeiro encontro de 2024 as projeções do próprio Copom eram de 3,5% em 2024 e 3,2% para 2025.

A taxa está no menor nível desde março de 2022, quando também estava em 10,75% ao ano. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

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Leia o comunicado do Copom na íntegra

O ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

  • No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Marco Antônio Lopes

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