O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, divulga nesta quarta (2) a primeira decisão sobre a taxa Selic em 2022. Com a alta da inflação, a expectativa unânime no mercado de nova alta de 1,50 ponto porcentual, conforme as 59 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, a taxa básica de juros deve voltar aos dois dígitos, patamar que abandonou em julho de 2017, e registrar o maior patamar desde maio daquele ano (11,25%), ao chegar a 10,75%.
Para o final de 2022, o mercado prevê que a taxa Selic se eleve até o patamar de 11,75% ao ano.
A reunião desta terça do Copom terminou às 18h37 com a Análise de Conjuntura do Copom. O encontro havia começado às 14h17. Participaram o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e sete diretores da instituição. O colegiado está com um membro a menos desde que Fabio Kanczuk, que era diretor de Política Econômica, deixou o colegiado, em dezembro. Seu substituto, Diogo Guillen, ainda não foi sabatinado pelo Senado.
Pela manhã, eles já haviam se reunido para a sessão de Análise de Mercado, também no Copom. Nesta quarta-feira, 2, os dirigentes do BC têm mais uma rodada de discussões antes de decidirem o novo patamar da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 9,25% ao ano.
Se confirmada a expectativa do mercado, o processo de aperto monetário atual acumulará alta de 8,75 pontos porcentuais e será o mais forte desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só. O ciclo atual começou em março do ano passado, com os juros básicos da economia no piso histórico de 2%.
Última ata do Copom
Os membros do Copom sinalizaram, na ata da última reunião, que devem manter a elevação da Selic no mesmo patamar de 1,5 ponto percentual, com política monetária contracionista diante da piora dos índices de preços. Desde setembro, os juros básicos têm sido elevados nesse ritmo.
Principal instrumento para controle da inflação, a Selic continua em ciclo de alta, depois de passar seis anos sem ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegou a 6,5% ao ano, em março de 2018.
Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até chegar ao menor nível da história em agosto de 2020, em 2% ao ano. Começou a subir novamente em março do ano passado, tendo aumentado 7,25 pontos percentuais até agora.
Inflação em alta
Para 2022, a meta de inflação a ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2% e o superior, 5%.
No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país, fecharia o ano em 4,7% no cenário base, com Selic em 11,25% ao ano e câmbio em R$ 5,65. O próximo relatório será divulgado em março.
Puxado pelo aumento dos preços de energia elétrica e combustíveis, o IPCA encerrou 2020 em 10,06%, maior inflação anual desde 2015. A projeção do mercado é de inflação fechando o ano em 5,38%, de acordo com o boletim Focus. É a 29ª alta consecutiva na previsão das instituições financeiras.
A prévia da inflação oficial do Brasil, registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), teve alta de 0,58%, após elevação de 0,78% em dezembro.
Nesta segunda (31) a projeção do mercado financeiro, divulgada pelo Banco Central por meio do Boletim Focus, indicava que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022 deverá ser 5,38%. A previsão é maior do que a da semana passada, quando estava previsto em 5,15%. Trata-se da 3ª semana consecutiva de alta de projeção da inflação.
Desde o ano passado, o Boletim Focus já sinalizava a inflação de 2022 acima do teto da meta estipulado pelo CMN.
Apesar da expectativa do IPCA acima da meta no próximo ano, o mercado manteve sua previsão para a taxa Selic em 2022. O relatório desta segunda prevê o juros básico do País em 11,75% ao final do ano.
Perspectivas para a Selic
As projeções colhidas pelo Suno Notícias coloca a magnitude do novo aperto monetário desta quarta em 1,5 ponto percentual, ainda que o compasso do aperto não seja consensual.
Gustavo Sung, economista responsável pelo relatório de macroeconomia da Suno Research, observa: ” O Copom tem deixado claro que seu objetivo é levar a inflação ao centro da meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. No último comunicado, acreditamos que a autoridade monetária elevou a taxa de juros na magnitude necessária. Além desse aumento, a comunicação do Banco Central (BC) foi acertada, dura e incisiva frente à possibilidade de desancoragem das expectativas dos agentes para os próximos anos.”
A Suno Research estima um ajuste de 1,5 p.p. nesta reunião, com o fim do ciclo de alta entre março e maio, no intervalo entre o mínimo de 17,75% a.a. e 12,75% a.a.. Para a casa de análise, a depender do cenário econômico pós-eleições, é possível uma redução marginal da Selic no fim do ano.
Para esta reunião, Sung relaciona alguns pontos importantes que merecem a nossa atenção:
- “Primeiramente, qual será a sinalização do Banco Central para a reunião de março? Em nosso cenário, o BC deve anunciar um novo aumento de 1.0 p.p a 1,5 p.p. E, deixará o cenário em aberto para possíveis moderações ou até elevações mais acentuadas, a depender do cenário inflacionário – o IPCA-15 e o IGP-M trouxeram preocupações ao mercado.”
- “O segundo ponto é: o BC dará pistas sobre o patamar final da taxa de juros em 2022? Em nossa visão, o ciclo de alta da Selic deve atingir o pico entre março e maio deste ano, em torno de 11,75% e 12,75%. A taxa deverá se manter no pico até o fim do ano, com a possibilidade de reduções após as eleições.”
- “Alguns fatores pesam na decisão da autoridade monetária. Pelo lado dos preços, ainda há desafios no combate à inflação. Reajustes nos preços dos combustíveis e dos alimentos, passagens de transporte público são fatores que acentuam a escalada de preços. Além disso, a retomada dos serviços, a correção de salários e a melhora do mercado de trabalho podem exercer alguma pressão.”
- “Se tivermos novas pressões inflacionárias e deterioração das expectativas dos agentes quanto à inflação de 2022 e 2023, a probabilidade é de um aumento maior para a Selic. Vale ressaltar que o peso da inflação deste ano no processo decisório do BC diminui e o de 2023 passa a ter mais relevância.”
Por fim, Sung menciona outros fatores que entram no balanço de riscos do Banco Central.
- O principal é o risco fiscal. “Entraremos em um ano de eleição, em que, tradicionalmente, se vê um aumento dos gastos públicos. A piora da trajetória da dívida e do risco fiscal geram incertezas, eleva o prêmio de risco, pressiona o câmbio e, consequentemente, os preços e os juros.”
- No exterior, diz ele, o Banco Central dos EUA, o Fed, iniciou a retirada dos estímulos econômicos, com a redução da compra de ativos. Recentemente, sinalizou a intenção de aumentar os juros em março.
- Esse movimento também ocorre em diversos países. Para contrabalancear a fuga de capital e desvalorização da nossa moeda, a autoridade monetária brasileira poderá ter uma postura mais restritiva com a Selic a fim de evitar contaminações do câmbio sobre a inflação.
- Se a autoridade monetária brasileira perder o controle dos preços e a sua credibilidade, terá de dar um choque monetário muito grande para recuperar as rédeas. Dessa forma, prejudicaria – e muito – o desempenho da atividade econômica, completa Sung.
Previsões dos bancos para a decisão do Copom
O Itaú Unibanco (ITUB4), em relatório aos clientes, avalia que o Copom deve elevar a taxa em 1,5 p.p. na reunião desta semana, para o nível de 10,75% a.a.. A instituição acredita que haverá nova elevação da taxa básica de juros na reunião seguinte, em março, finalizando o ciclo de alta de juros a 11,75% a.a. – podendo ser maior, com possibilidade de redução ainda em 2022. Para 2023, o banco espera que a Selic encerre a 8,0% a.a..
“Apesar desse cenário nos parecer claramente o mais provável, a olhos de hoje, é importante notar que forças opostas atuarão sobre as perspectivas para a política monetária durante este ano”, diz o relatório. Entre os elementos que contribuem para uma postura restritiva estão a inflação, que seguirá pressionada, e um balanço de riscos altista para o IPCA. Por outro lado, a perda de dinamismo da economia deve se acentuar ao longo do ano.
Ao Suno Notícias, o Departamento Econômico do Santander (SANB11) disse que espera um aumento de 1,5 p.p. nesta reunião e mais 1,5 p.p. na próxima, elevando a taxa básica de juros a 12,25% a.a., nível que deve se manter até o fim de 2022.
“Antecipamos uma composição mais desfavorável para a inflação este ano, com itens mais ligados aos núcleos de inflação ainda acelerando, e itens mais voláteis (em teoria, menos importantes para a política monetária) perdendo força”, projeta.
Em relatório, o Banco Inter (BIDI11) avalia que, “apesar de acreditar que o fim do ciclo da Selic poderia já ser em fevereiro e em menor patamar”, o BC deve seguir com o plano de elevar novamente em 1,5 p.p. em fevereiro e em 0,5 p.p. em março, encerrando o ciclo a 11,25% a.a..
“A inflação já dá sinais de desaceleração, e a defasagem da política monetária ainda vai gerar forte impacto na atividade nos próximos meses. Novas altas poderiam aguardar uma eventual reversão desse cenário, ou devido à piora no cenário externo ou nova crise política fiscal que impactasse a taxa de cambio.”
Já o Banco da Amazônia discorda das projeções dos pares e mantém um cenário menos duro. Segundo resposta ao Suno Notícias, “a expectativa do Banco da Amazônia é de que a autoridade monetária aumentará a Selic em 1,0 p.p na próxima reunião do Copom, ou seja, diminuirá um pouco a intensidade do ajuste em relação à decisão anterior”.
O banco estima que o conselho seguirá com dois ajustes de 1,0 p.p. em fevereiro e março e outro menor, de 0,5 p.p., em maio, elevando a taxa ao ápice de 11,75%. O cenário, contudo, deve se relaxar a partir de então e a Selic fecharia o ano a 10,75%.
O Bank of America estima que a reunião desta semana deve sacramentar mais um aumento de 1,5 p.p. e outro, de 0,5 p.p. em março, elevando a taxa a 11,25%, com riscos altistas, entre eles a questão fiscal e as eleições presidenciais.
“Esperamos que o Banco Central não irá se comprometer com mais um aumento de 1,5 p.p. na próxima reunião em março”, afirma. “Na reunião seguinte, em maio, esperamos que a taxa de inflação anual esteja em declínio consistente e a atividade econômica fraca. Além disso, esperamos também a normalização das bandeiras de energia. o que daria alívio ao aumento dos preços”, destaca o BofA.
*Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil
** Com Pedro Caramuru