O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta (2) elevar a taxa Selic de 9,25% para 10,75%. O avanço para dois dígitos, no primeiro encontro do comitê em 2022, era aguardado pelo mercado. É o oitavo aumento seguido da taxa.
A decisão foi por unanimidade. O Comitê enfatizou que “irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
Mas fez uma ponderação importante. O comitê do BC disse que antevê como mais adequada, neste momento, “a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros.” Explica: “Próximos passos dependerão do balanço de riscos e das projeções de inflação.”
Corte de juros em 2022
A Selic pode subir menos na próxima reunião, em março. A alta dos juros vai continuar, mas o BC sinaliza com uma redução do ritmo de ajustes em 2022. O texto afirma: “O Copom prevê um corte de juros neste ano. Cenário base é subir a Selic para 12% no primeiro semestre e terminar o ano a 11,75%. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023.”
Em meio ao aumento da inflação de alimentos, combustíveis e energia, o Banco Central (BC) apertou ainda mais os cintos na política monetária.
A taxa atingiu os dois dígitos pela primeira vez desde julho de 2017, quando também estava em 10,25% ao ano. De março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, o reajuste passou para 1,5 ponto nas três últimas reuniões.
João Beck, economista e sócio da BRA, observa que “o Copom menciona exatamente o que o mercado especulava. Essa subida é uma sinalização de alguma desaceleração do ciclo de alta que deve ir até o fim do ciclo. Ou seja, há uma sinalização de que o ritmo de alta irá diminuir.”
Ele complementa: “É bem verdade que muitos indicadores recentes indicam alívio da inflação à frente, como o nível dos reservatórios, dados de arrecadação positivos, desaceleração da atividade e recentemente uma valorização do Real.”
Beck conclui: “O ritmo de altas sequenciais de 150 pts é uma velocidade muito alta. E essa aceleração aconteceu depois da mudança da regra de teto de gastos. Com o alívio das contas públicas, melhora nos reservatórios, desaceleração da atividade e valorização do Real é esperado pelo menos uma velocidade menor de alta nas próximas reuniões independente da mudança ou manutenção da taxa terminal.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia: “A autoridade disse que o juro já está muito alto para subir no ritmo de 150bps, sem ser taxativo e colocando 125bps como o máximo. Contudo, a sinalização de suavização do aperto é incoerente com o avanço das expectativas de inflação da própria autoridade no cenário de referencia. Para 2022 o IPCA da autoridade subiu de 4,7% para 5,4% e, para 2023, permaneceu em 3,2%. A autoridade opta por perder graus de credibilidade no combate às expectativas de inflação.”
E resume: “Acreditamos que o BC apresentou um comunicado dovish apontando para uma redução do ritmo de elevação da Selic. Assim, passamos a projetar uma elevação de apenas 100bps na reunião de março. Para maio avaliamos que a autoridade encerrará o ciclo. Com o juro a 11,75% (se confirmada nossa perspectiva de +100bps em março), o BC estará focando nessa reunião apenas para a inflação de 2023, ao qual a autoridade vê convergência para a meta. A taxa deverá permanecer inalterada ao longo de todo 2022.”
Copom: incertezas fiscais
Os membros do Copom disseram que perder a regra do teto pode levar a juros mais altos. “O Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.”
Copom eleva taxa Selic para 10,75% a.a. https://t.co/aFvgNZjaPy pic.twitter.com/CdbikOrtBD
— Banco Central BR (@BancoCentralBR) February 2, 2022
Até quando dura o ritmo de altas? E o impacto na bolsa?
O economista-chefe Gustavo Sung, da Suno Research, comenta sobre a decisão do Copom na live do Suno Notícias, com editor multimídia Gregory Prudenciano:
Inflação em alta
Com a decisão de hoje (2), a Selic continua num ciclo de alta, depois de passar seis anos em ser elevada. De julho de 2015 a outubro de 2016, a taxa permaneceu em 14,25% ao ano. Depois disso, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. A Selic voltou a ser reduzida em agosto de 2019 até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse era o menor nível da série histórica iniciada em 1986.
Desde o início do ciclo de aperto monetário atual, em março de 2021, o aumento acumulado é de 8,75 pontos porcentuais, o processo mais forte desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC elevou a taxa em 20 pontos de uma só vez. Quando o presidente Jair Bolsonaro chegou ao poder, a taxa Selic estava em 6,50%.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Por trás dessa alta acelerada dos juros está a inflação em patamares muito elevados – a maior parte dos analistas espera que o BC não cumpra o teto da meta de 5% em 2022, pelo segundo ano consecutivo. O cenário com que o Copom precisou lidar na reunião incluiu inflação acima do esperado no IPCA-15 de janeiro e a sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que pode começar a subir juros a partir de março.
Juro real
Com os oito últimos aumentos da Selic, o Brasil voltou a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista de 40 economias.
Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,41% ao ano. Na sequência, aparecem Rússia (4,61%) e Colômbia (3,02%). A taxa real média desses 40 países está em -1,27%.
Comunicado do Copom na íntegra
Veja o comunicado do Copom:
Em sua 244ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,75% a.a.
A atualização do cenário de referência do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
No cenário externo, o ambiente segue menos favorável. A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos EUA, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo da atividade, ao mesmo tempo que pode postergar a normalização das cadeias globais de produção;
Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores relativos ao quarto trimestre tiveram evolução ligeiramente melhor que a esperada, em particular os relativos ao mercado de trabalho;
A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como principalmente nos itens associados à inflação subjacente;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,4% e 3,5%, respectivamente; e
No cenário de referência, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,45*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12% no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022 e 5,4% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “vermelha patamar 1” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.
O Comitê ressalta que, em seu cenário de referência para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência.
Por outro lado, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.
Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência.
Considerando o cenário de referência, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 10,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário de referência e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o anos-calendário de 2022 e, em grau maior, o de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
Copom: ritmo de altas
A alta da inflação foi um dos motivos que levaram os membros do Copom a sinalizar, na ata da última reunião, que iriam estabelecer mais uma alta da Selic no mesmo patamar de 1,5 ponto percentual da decisão do comitê em dezembro, com política monetária contracionista diante da piora dos índices de preços. Desde setembro de 2021, os juros básicos têm sido elevados nesse ritmo.
O processo de aperto monetário atual acumula alta de 8,75 pontos porcentuais e é o mais forte desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC subiu a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só. O ciclo atual começou em março do ano passado, quando os juros básicos da economia estavam no piso histórico de 2%.
Altas vão continuar, apesar da sinalização do comunicado
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, escritório credenciado da XP Investimentos, comenta: “É interessante falar da expectativa para as próximas reuniões além dessa e também dos investimentos que ficam mais interessantes com o aumento da taxa Selic.”
Alves diz ainda: “O tom mais duro do comunicado da 244ª reunião do Copom surpreendeu negativamente com a sinalização de novas altas ao longo do ano de 2022, supondo uma trajetória de elevação até 12% no primeiro semestre, e encerrando o ano em 11,75%, caminhando para 8,00% em 2023. Além disso, preocupam as variáveis colocadas no radar, e que indicam que dificilmente veremos os juros mais baixos no curto prazo, e que variáveis exógenas podem levar a uma política econômica ainda mais dura, como a fragilidade do arcabouço fiscal, que pode demandar o aumento do prêmio de risco do país, a manutenção do ciclo de alta das commodities, assim como a bandeira tarifária ‘vermelha 1’.”
Segundo o Copom, “diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista.”
Alves argumenta: “Isso indica que novas altas ao longo do ano não são descartadas, e que a depender do cenário, a previsão de fechamento em 11,75% ao ano para 2022 pode ficar rapidamente no retrovisor. Uma sinalização de novas altas poderia permitir a abertura da curva, e gerar no curto prazo taxas pré-fixadas bem interessantes, em uma janela de oportunidade que não víamos desde 2017, juros acima de dois dígitos, e próximos a nossa média histórica das últimas duas décadas, na faixa de 13% por ano.”
Que investimentos são favorecidos? Ele lembra: “Papéis de renda fixa pré-fixados, com vencimentos de médio prazo podem se mostrar bastante atrativos, assim como os pós-fixados de curto prazo, que pegam na veia essa e as próximas altas da Selic, caso se confirmem. Como a inflação continua elevada, ainda vemos títulos pagando o IPCA+6%, que sem dúvida alguma deve compor a carteira dos investidores mais conservadores e moderados.”
E finaliza: “A reunião do Copom traz oficialmente de volta o famoso 1% por mês nas aplicações de renda fixa, e ao que tudo indica é mais do que temporário, e deve indicar uma migração ainda mais forte dos ativos de riscos para aplicações mais seguras, e que garantam retornos acima da inflação. O inverno chegou.”
Alta da Selic encarece crédito e prestações, diz Anefac
A elevação da taxa Selic (juros básicos da economia), decidida hoje (2) pelo Banco Central, continuará a encarecer o crédito e as prestações, diz a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Apesar de o impacto na ponta final ser diluído por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de empréstimo sente os efeitos do aperto monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para pessoa física passa de 110,17% para 113,03% ao ano. Para pessoa jurídica, a taxa média sai de 50,93% para 53,05% ao ano. A Selic passou de 9,25% para 10,75% ao ano.
No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 13,79 a mais com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,80 a mais.
Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 3,60 a mais. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 44,20 a mais após o pagamento da última parcela. Caso seja feita em financeira, a operação sairá R$ 28,87 mais cara. No financiamento de um automóvel de R$ 40 mil por 60 meses, o comprador pagará R$ 33,11 a mais por parcela e R$ 1.986,41 a mais no total da operação.
Quanto às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 185,81 a mais por empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 74,47 pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e R$ 8 a mais pelo uso de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.
A Anefac também fez simulações sobre o impacto da nova Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 10,25% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos, alta.
Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em dois cenários. O primeiro é para aplicações de até um ano em relação a fundos com taxa de 2,5% ao ano. O segundo é para aplicações de até dois anos em relação a fundos com taxa de administração de 3% ao ano.
A vantagem dos fundos ocorre mesmo com a cobrança de Imposto de Renda e de taxa de administração. Isso porque a poupança, apesar de ser isenta de tributos, rende apenas 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), que aumenta quando o Copom eleva a Selic. Esse rendimento da poupança é aplicado quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o que ocorre desde dezembro de 2021.
Selic em dois dígitos torna investimento em renda fixa fica mais atrativo
Com a decisão do Copom de elevar a Selic para 10,75% ao ano, a taxa ultrapassa seu valor no período de julho de 2017, quando estava a 10,25%.
Em ciclos de alta da Selic, os investimentos em renda fixa ficam mais atrativos. Para este momento, as apostas continuam sendo nos investimentos pós-fixados atrelados a uma taxa flutuante, como CDI, Selic e IPCA, pois esses índices corrigem o retorno do investimento conforme sua variação. Mas a expectativa é de que a Selic atinja o pico nos próximos meses, para depois passar o ano estável. Assim, alguns especialistas já recomendam a alocação de uma parcela da carteira em títulos prefixados (aqueles em que a taxa de juros já é definida de antemão), mas de curto prazo.
“Os investimentos pós-fixados continuam sendo boas opções de investimento. Mas já podemos considerar opções prefixadas com vencimento curto, de um ou dois anos”, diz Rodrigo Beresca, analista de Soluções Financeiras da Ativa Investimentos. “Os investidores podem encontrar taxas boas no mercado com juros atuais antes que comece o ciclo de queda, que prevemos que se inicie em 2023.”
Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, o ciclo de alta da Selic deve atingir o pico entre março e maio, em torno de 11,75% e 12,75%. “O Banco Central elevou muito os juros no ano passado, de 2% para 9,25% em um ano. Como os efeitos da política monetária levam em torno de 6 a 9 meses (para surtir efeito na inflação), vamos ver todo o impacto do aumento de juros sobre a atividade neste ano”, diz Sung.
Se a economia seguir de acordo com as expectativas demonstradas no Boletim Focus desta semana, com o IPCA em 5,38% e uma taxa básica de juros a 11,75%, mesmo os investimentos em renda fixa mais conservadores passariam a ter um rendimento líquido positivo, ainda que o valor seja baixo.
Quem depositar R$ 1 mil na poupança e retirar daqui a um ano, por exemplo, vai ter um retorno real de R$ 4,58, segundo os cálculos do professor de Finanças da FGV-SP Fabio Gallo. Algumas adversidades, porém, podem mudar esse cenário. Fora os problemas já conhecidos do ano passado como inflação alta, câmbio ainda desvalorizado e algumas quebras de safra na agricultura por causa do clima, está no horizonte o aumento da taxa de juros também nos Estados Unidos, que afeta a decisão de investidores do mundo todo.
Renda variável
Embora os títulos de renda fixa fiquem mais interessantes com o aumento da Selic, o investidor também pode encontrar oportunidades na Bolsa e se beneficiar de um eventual ganho das ações. Em janeiro, por exemplo, o Ibovespa (principal índice de ações da Bolsa) terminou o mês com alta de quase 7%.
João Daronco, analista da Suno Research, diz acreditar que o setor agrícola pode ser um dos mais “fortes e promissores” a médio e longo prazos. “A demanda vem grande parte do mercado asiático, criando uma resiliência aos ciclos nacionais, e uma menor dependência de questões políticas.” Já o setor que pode sofrer mais neste ano, na opinião dele, é o de varejo e consumo, por causa da inflação alta e crédito mais caro.
Depois da última alta decidida pelo Copom, além de olhar o setor, é preciso fazer uma análise individual de cada empresa, lembra Paloma Brum, analista da Toro. “Não é para fazer um investimento em todas as empresas de um setor, senão corre o risco de comprar um papel caro. É preciso fazer um valuation”, diz ela.
Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil