“BC contratou mais duas quedas de 0,50 pp da Selic”; veja repercussão ao Copom
O comportamento dos preços fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela segunda vez no semestre. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 12,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros, que estavam de olho no comunicado do BC.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, observa: “Na minha leitura, o comunicado foi bem hawkish e já deixa bem clara a contratação de mais duas quedas de 0,50 p.p, ou seja, elimina totalmente a possibilidade que o mercado vinha precificando de uma possível aceleração da queda nesse ano ainda. O mercado vinha trabalhando com a possibilidade de queda de 0,75 p.p na última reunião, o que não aconteceu.”
Quedas maiores da Selic estão descartadas pelo Copom, nota Ricardo: “Esse comunicado elimina essa possibilidade de qualquer queda de 0,75 p.p. Ressalta ainda que há muita incerteza com relação ao mercado externo, preocupação com relação a resiliência da atividade aqui no Brasil que pode gerar pressões inflacionárias. O comunicado ressalta ainda que tem que é necessário ter serenidade e moderação com relação ao processo de flexibilização monetária, ou seja, indicando que o comitê vai ser cauteloso com relação a esse ritmo de corte da taxa de juros.”
Ele complementa: “Muito provavelmente a gente vai ver aí uma reprecificação dos vértices mais curtos amanhã, dado que o mercado acreditava numa possível aceleração, então o Banco Central praticamente elimina essa possibilidade.”
O analista chama atenção para outro ponto do comunicado sobre a nova taxa Selic: “O BC ressaltou a preocupação com o fiscal, o que não tinha sido feita no comunicado anterior. Esse é um outro ponto importante. [os integrantes do Copom] ressaltam justamente essa questão do fiscal e como isso pode impactar na ancoragem das expectativas inflacionárias. Foi um comunicado bem duro com relação à inflação, com relação ao fiscal, com relação à atividade e ao cenário externo incerto e isso com certeza vai direcionar os mercados amanhã para uma nova reprecificação dos ativos, dado que a curva de juros tende a precificar uma intensidade menor dos cortes da Selic daqui para frente.”
Copom: preocupação com o ambiente externo e doméstico
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, avalia o comunicado como neutro. “Pelo lado mais dovish, vale destacar as projeções de inflação no cenário de referência, que subiram apenas 0,1 p.p., abaixo do que a maioria dos analistas esperava. Pelo lado mais hawkish, nota-se um aumento da preocupação com o ambiente externo e com a execução das metas fiscais. Consideramos natural a manutenção da frase de que os membros do Comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões, pois modificá-la, neste momento, seria vista como uma forte sinalização de aceleração do ritmo de ajuste, sendo que não se materializaram surpresas positivas substanciais que elevem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva.”
Ele observa: “Era esperado um aumento das projeções de inflação no cenário de referência, devido principalmente aos efeitos altistas da trajetória de Selic no Focus (passou de 12% no fim de 2023 e 9,25% no final de 2024 para, respectivamente, 11,75% e 9,0%), da elevação do preço do petróleo e de uma possível reestimativa da trajetória do hiato do produto (tendo em vista as surpresas positivas de atividade e da robustez do mercado de trabalho). O comunicado aponta que se observou uma maior resiliência da atividade econômica, mas segue antecipando um cenário de desaceleração.”
Goldenstein diz ainda: “Percebe-se uma maior preocupação com o ambiente externo, visto como mais incerto, com o Comitê notando a elevação das taxas de juros de longo prazo nos EUA e a perspectiva de menor crescimento na China.”
Um ponto de atenção, afirma o estrategista, “é a repetição da indicação de redução da Selic na mesma magnitude nas próximas reuniões, o que sinalizaria, a princípio, a continuidade do ritmo de -50 bps na reunião de novembro e também na de dezembro.” O que isso representa? “Avaliamos que alterar essa frase, neste momento, poderia ser interpretada como uma menor resistência do Copom à aceleração do ritmo, o que seria contraproducente com relação ao objetivo de reancorar as expectativas. Além disso, há a necessidade de se acompanhar a evolução dos dados nos próximos meses para que o Comitê possa julgar se aumentou a confiança na dinâmica desinflacionária. Por outro lado, vale ressaltar que manter a frase não deixaria o Comitê com as mãos amarradas para eventualmente acelerar o ritmo em dezembro, pois a própria ata de agosto já listou os fatores que poderiam abrir o espaço para a intensificação do ritmo.”
E conclui: “Seguimos com o nosso call de Selic de 11,50% no final de 2023 e de 9,0% no final do ciclo de relaxamento monetário. Consideramos como levemente majoritária a probabilidade de aceleração para o ritmo de 75 bps em dezembro, tendo em vista que a desinflação de serviços deve avançar, os indicadores de atividade e de mercado de trabalho tendem a mostrar algum arrefecimento (o que poderia ter um peso maior para a ala mais dovish do Comitê) e o ano de 2025, cuja projeção está em 3,1%, bem próxima à meta, ganhará peso no horizonte relevante da política monetária. Com relação aos impactos da decisão e do comunicado sobre a curva de juros, não esperamos oscilações significativas.
“Política se mantém contracionista”
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, tem a mesma opinião sobre os próximos passos da política monetária do BC:
“A decisão foi unânime em cortar 50 pontos base. Política se mantém contracionista. Então as próximas quedas, caso as expectativas sejam realizadas em relação à queda de inflação ou manutenção e queda da atividade econômica, a gente terá uma manutenção dessas quedas em 0,5 p.p. Na minha opinião, os integrantes do foram bem enfáticos em dizer que não haverá a princípio uma queda maior como era esperado, em 0,75%”, diz ele.
“Tudo vai depender do que vai acontecer daqui para frente em relação à inflação. Mas acredito que o maior receio fica muito mais até o final desse ano porque o cenário externo está muito mais incerto em relação a inflação lá fora que ainda não foi controlada, principalmente nos Estados Unidos, com um FOMC mais hawkish, mesmo mantendo os juros inalterados. A China vem mostrando uma desaceleração também. O Copom comentou também que o Brasil pode desacelerar daqui para frente e isso deve fazer com que eles mantenham as quedas de forma similar nas próximas reuniões.
Decisão veio totalmente em linha com o esperado. Não achei que o comunicado foi duro, achei, na verdade, que o comunicado foi realista. Acredito que tendo tido unanimidade já dá uma abertura para que essa queda se mantenha nas próximas decisões. Mencionaram muito bem o boletim Focus em relação à expectativa de inflação para 2023, 2024, 2025.
Para amanhã, não vejo que a decisão do Copom possa provocar impactos fortes no Ibovespa. Pode pesar muito mais aqui o mercado lá fora com uma posição mais hawkish do Powell nos Estados Unidos do que a decisão do Copom. No Brasil, o mercado já esperava essa queda e o mercado aqui ficou em alta, descolado lá de fora. Devolveu um pouco os ganhos após o Fomc, mas fechou ainda assim em alta.
Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, concorda que “o ciclo de afrouxamento monetário seguirá no mesmo passo ao longo das próximas reuniões.”
O comunicado do Copom, lembra ele, veio muito em linha com as expectativas do mercado e houve um componente interessante de unanimidade tanto na decisão por reduzir como de possivelmente manter o passo para as próximas reuniões. “O Banco Central reforçou a importância de se perseguir as metas fiscais e vai observar o conjunto de dados ao longo dos próximos meses para avaliar se esse ritmo de redução poderia ser passível de mudança. O Banco Central chamou atenção para um ambiente global mais incerto com menor crescimento projetado para a China e elevação dos juros nos EUA.”
Vieira acrescenta: “O mercado já havia precificado 99% de chance de corte de 0,50% da Selic, o que pode trazer ainda mais convicção para a precificação dos juros é o fato de agora a decisão ser unanime entre os membros do Copom.”
Corte da Selic aponta mercado de crédito com menor pressão, avalia presidente da Febraban
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que a redução da taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, decidida nesta quarta-feira, 20, pelo Copom, traz sinais positivos para a economia do País, para as famílias e para as empresas. Segundo ele, o corte indica um mercado de crédito menos pressionado à frente.
“A segunda queda consecutiva da Selic, agora em decisão unânime do Copom, representa um estímulo importante para as famílias, empresas e agentes econômicos, ao apontar para um mercado de crédito com menor pressão das condições financeiras e da inadimplência”, disse Sidney em nota.
O presidente da Febraban afirmou ainda que o ciclo de restrição monetária que começa a ser revertido levou a um “gradual e consistente” processo de desinflação na economia brasileira.
Logo após o Copom divulgar a decisão de corte da Selic, Caixa e Banco do Brasil anunciaram a redução dos juros de uma série de linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas. O Bradesco informou que avalia o cenário. Outros bancos privados ainda não informaram se farão movimento similar.
Queda da Selic barateia pouco crédito e prestações, diz Anefac
A redução da taxa Selic (juros básicos da economia) para 12,75% ao ano, decidida hoje (20) pelo Banco Central, barateará pouco o crédito e as prestações, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 124,76% para 123,75% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 60,97% para 60,23% ao ano. A Selic passou de 13,25% para 12,75% ao ano.
No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 0,39 a menos por prestação e R$ 4,65 a menos no valor final com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,27 a menos.
Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 1,20 a menos. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 1,24 a menos por prestação e R$ 14,87 a menos após o pagamento da última parcela.
Um empréstimo de R$ 3 mil em 12 meses em uma financeira sairá R$ 0,81 mais barato por prestação e R$ 9,71 mais barato no total. No financiamento de um automóvel de R$ 40 mil por 60 meses, o comprador pagará R$ 11,31 a menos por parcela e R$ 678,30 a menos no total da operação.
Em relação às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 62,61 a menos por um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 24,95 a menos pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e R$ 2,67 a menos pela utilização de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.
Poupança
A Anefac também produziu uma simulação sobre o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 12,75% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando o prazo da aplicação é curto e a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.
Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em apenas dois cenários, com aplicação de até dois anos em relação a fundos com taxa de 3% ao ano e aplicação de até seis meses em relação quando o fundo tem taxa de administração de 2,5% ao ano.
Na comparação com fundos com taxa de administração de 2,5% ao ano, a poupança rende o mesmo quando o dinheiro ficar aplicado entre seis meses e um ano.
A vantagem dos fundos ocorre mesmo com a cobrança de Imposto de Renda e de taxa de administração. Isso porque a poupança, apesar de ser isenta de tributos, rende apenas 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), que aumenta quando a Selic sobe. Esse rendimento da poupança é aplicado quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o que ocorre desde dezembro de 2021.
CNI: Decisão foi acertada e expectativa é de novos cortes na Selic nas próximas reuniões
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa de juros Selic em 0,50 ponto porcentual foi considerada “acertada” pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A expectativa da indústria, segundo a entidade, é de que sejam realizados novos cortes nas próximas reuniões, à medida que o cenário de controle da inflação continue”.
Para o presidente da CNI, Robson de Andrade, a decisão do BC evita prejuízos adicionais para o mercado de crédito e para a atividade econômica. “É preciso reverter o quadro negativo de concessão de crédito às empresas. Nos primeiros sete meses do ano, o crédito recuou 5%, na comparação com o mesmo período do ano passado”, afirma Andrade. “A redução da Selic é necessária, não compromete o processo de combate à inflação e evita mais restrições à atividade industrial”, completa o presidente da CNI.
A entidade destaca que os dados do PIB nos dois primeiros trimestres de 2023 indicam desaceleração da economia. “A produção industrial de bens de capital caiu 16,9% em julho de 2023 na comparação com julho de 2022 e, na mesma base de comparação, a produção de bens de consumo caiu 0,7%, o que coloca em dúvida a manutenção do ritmo de crescimento da atividade econômica nos próximos meses.”
Durigan: Recebemos de maneira muito positiva a decisão e o comunicado do Copom
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse nesta quarta-feira, 20, que a Pasta recebeu de forma muito positiva o corte na taxa de juros e a sinalização de novas reduções no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Em reunião nesta quarta-feira, 20, o Copom promoveu um novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, que passou de 13,25% para 12,75%. Além disso, indicou novos cortes na mesma magnitude na próxima reunião, caso haja confirmação do cenário esperado.
“A gente recebeu aqui de maneira muito positiva a decisão e o comunicado do Copom, por unanimidade e com uma diferença em relação à decisão anterior, de manter a queda na taxa de juros, tão importante para manter o crescimento sustentável do País, e com a sinalização de que essa queda de 0,5 pp vai seguir nas próximas reuniões, com unanimidade”, disse o secretário.
A decisão de reduzir a Selic foi a segunda neste ciclo, e manteve o passo de agosto com o corte de 0,50 pp. Na ocasião, a decisão sobre a magnitude do corte foi dividida, e coube ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, o voto de minerva pela redução maior na Selic.
O colegiado, ainda em agosto, já havia indicado com unanimidade a tendência de redução de 0,50 pp na taxa básica de juros nesta reunião. A tendência foi reiterada neste comunicado e o Copom avaliou como apropriado que o ciclo de afrouxamento da taxa Selic ocorra no ritmo de 0,50 ponto porcentual “nas próximas reuniões”, com a sinalização unânime entre os nove componentes da diretoria do BC, incluindo Campos Neto.
A avaliação de Durigan é que a mensagem do Banco Central dá uma “tranquilidade grande” para o mercado e é uma sinalização recebida de maneira positiva pela equipe da Fazenda. “Esperamos seguir fazendo o nosso esforço, harmonizando a política fiscal, para que a política monetária siga nessa tendência, que é muito positiva para o País”, afirmou.
A menção à política fiscal feita por Durigan está relacionada ao parágrafo do comunicado de hoje que destacou a importância de o governo cumprir as metas de resultado primário já estabelecidas. A equipe econômica se comprometeu a entregar uma meta de resultado primário neutra em 2024, o que causa dúvidas no mercado sobre a capacidade de cumprimento.
O comunicado do Copom destacou a relação entre esse objetivo e a reancoragem das expectativas de inflação em prazos mais longos. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, destacou o comunicado.
Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo