O Banco Central (BC) considerou, na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, que os dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado e que os números do mercado de trabalho sugerem “perda de dinamismo”. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quarta vez consecutiva.
“O conjunto de dados divulgados, incluindo a queda dos indicadores de confiança e a desaceleração observada nas concessões de crédito, junto com os efeitos defasados da política monetária, reforçam a expectativa do Comitê de desaceleração do ritmo da atividade econômica, que deve se acentuar nos próximos trimestres”, disse o BC, na ata do Copom, divulgada nesta terça (7).
Segundo o documento, alguns membros do comitê observaram que há um movimento de recomposição parcial de perdas recentes nos salários reais, mas houve a ponderação de que esse movimento é esperado e vem acompanhado de desaceleração nos ganhos nominais que deve se acentuar à frente.
“O Comitê seguirá acompanhando as divulgações do mercado de trabalho, avaliando continuamente qual o papel da inflação defasada e das pressões no mercado de trabalho sobre os reajustes salariais”, afirmou.
Restrições na China
O Banco Central destacou, na ata do Copom, que a dinâmica dos preços de serviços continua “inspirando atenção” e que o colegiado segue avaliando em que velocidade ocorrerá o processo de convergência.
A avaliação faz parte da análise do Copom sobre o comportamento das principais determinantes da inflação no período recente em meio aos esforços para analisar se a estratégia de manutenção da Selic, que vinha sendo traçada desde o encontro de setembro seria suficiente para convergência da inflação para as metas.
Em relação à inflação de serviços, o BC explicou que o foco nesse parâmetro deve-se ao fato de que esse grupo de preços responde à inércia inflacionária e à atividade econômica de forma mais direta. “A inflação de serviços tem apresentado moderação, mas segue em nível incompatível com a meta”, disse o BC.
O colegiado ainda reforçou que se espera “que ambos os fatores provoquem menor pressão inflacionária ao longo do horizonte”. “De todo modo, tal dimensão continua inspirando atenção e o Comitê segue avaliando a velocidade com que se dará o processo de convergência”, completou.
Outro fator determinante para a trajetória de inflação avaliado pelo BC foi o hiato do produto. O Copom considerou que, conforme sua previsão diante das defasagens da política monetária, “houve uma desaceleração da atividade, do crédito e, mais recentemente, do mercado de trabalho”. O comitê notou também que não houve mudança significativa nas perspectivas de crescimento recentemente.
“Alguns membros ressaltaram que a desaceleração deve prosseguir e é necessária para que os canais de política monetária atuem e ocorra a convergência da inflação para suas metas”, ressaltou o BC, denotando o caráter restritivo da Selic para o crescimento econômico, seu objetivo diante da inflação elevada e fora da meta.
Ata do Copom: análises
Na visão dos economistas João Maurício Lemos Rosal, Homero Azevedo Guizzo e Luis Gustavo Bettoni, da Terra Investimentos, o documento reafirmou o compromisso do Comitê com as metas da inflação: “Em outras palavras, o operacional da política monetária permanece como sempre foi, dentro do regime de metas”.
“O cenário base é de manutenção da taxa de juros por algum tempo, a menos que as expectativas de inflação subam mais, exigindo um esforço adicional. A evolução do cenário internacional e do debate sobre as novas regras fiscais também serão fundamentais para os próximos da política monetária”, complementou o economista Carlos Macedo, especialista em alocação de investimentos da Warren.
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, ressaltou que o documento do Copom mostra uma manutenção do discurso do Banco Central. “O espaço para cortes esse ano é bastante residual, considerando as informações que temos até agora”, destacou.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, comenta: “A minha percepção é que ata veio ratificando o comunicado da semana passada. Banco Central reafirma sua autonomia, o que é muito importante, dado todas as interferências políticas que tem sofrido recentemente. Campos Neto reafirma o compromisso em conduzir política monetária e usa tom bem firme em relação a cumprir seu papel enquanto autoridade monetária deixando claro que não vai ceder a pressões políticas.”
E acrescenta: “Trata-se de uma ata bem austera não só em relação ao compromisso com a inflação, mas também com relação à autonomia. De certa forma, ele delimita campo de atuação deixando claro que não haverá interferências. Acho difícil que Lula queira comprar essa briga porque o mercado está todo do lado do Banco Central. É importante destacar que a ata do Copom também reafirma a possibilidade de manutenção da Selic por todo o horizonte relevante, ou seja, por todo o ano de 2023 e primeiro semestre de 2024.
Com Estadão Conteúdo