O conglomerado japonês SoftBank reportou um prejuízo recorde em seus quase 40 anos de história, muito por parte de seu fundo de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 548 bilhões) Vision Fund e sua estratégia agressiva de investimento em startups.
O grupo informou que o fundo teve um prejuízo de quase US$ 17,7 bilhões no ano fiscal terminado em março, com perdas de US$ 10 bilhões somente nos primeiros três meses de 2020. Isso resultou em um prejuízo líquido de US$ 9 bilhões no ano.
Uber, WeWork e Oyo compartilham a espaço no portfólio de investimentos do Vision Fund. Com isso, o conglomerado japonês enfrenta as consequências de alocar recursos em setores fortemente afetados pela pandemia do novo coronavírus: de compartilhamento de caronas, escritórios e hotéis.
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Ao mesmo tempo, os investimentos passam por turbulências enquanto as relações entre o SoftBank e a Alibaba se deterioram e a fintech alemã de pagamentos Wirecard luta pela própria sobrevivência após escândalo de uma fraude fiscal de 2 bilhões de euros.
Sombra da pandemia sobre os negócios de compartilhamento da Uber e Oyo
Com a chegada da pandemia do novo coronavírus, muitas startups que integram o portfólio do Vision Fund sofreram os impactos da inserção na economia digital de compartilhamento, como a Uber e o Oyo.
O prejuízo da Uber cresceu 190% no primeiro trimestre deste ano. A empresa reportou um resultado negativo de US$ 2,936 bilhões entre janeiro e março de 2020, contra um resultado negativo de US$ 1,012 bilhão no mesmo intervalo do ano passado.
Segundo diretor executivo da companhia, a pandemia teve forte impacto no modelo da Uber. A empresa registrou uma queda de quase 80% nas operações em comparação com o mesmo período do ano passado e informou que deve realizar mais de 3000 colaboradores e fechar 45 escritórios.
As ações da companhia quase 50% no pico da crise e, apesar de já se observar certa melhora nos principais índices norte-americanos, os papéis ainda não se recuperaram e estão cotados a US$ 29,61, abaixo da oferta inicial.
A Uber constitui um dos principais investimentos do SoftBank. Dessa forma, os recursos de US$ 7,6 bilhões à companhia resultaram em um perda de 30% do valor, ou US$ 86 milhões.
Outra atingida pela em cheio pela crise foi a concorrente indiana do Airbnb, a Oyo. A empresa recebeu um aporte de US$ 1,5 bilhão do fundo de investimento e foi avaliada em US$ 10 bilhões.
A companhia baseia-se em um modelo de hotéis, casas e espaços residenciais e arrendados e franqueados. Em 2019, a Oyo reportou uma receita de US$ 951 milhões, alta de 4,5 vezes em relação ao ano anterior, em comparação com US$ 211 milhões.
Já neste ano, a startup é mais um caso de corte de pessoal e abandono de setores, a empresa perdeu mais de 65 mil quartos de hotéis e deixou mais 200 cidades em seu país, segundo o jornal “The New York Times”. A Oyo também demitiu cerca de 1,8 mil profissionais na China e na Índia, dois de seus principais mercados no mundo.
Fiasco do IPO da WeWork: dos US$ 47 bi a US$ 2,9 bi
A pandemia também no foi fácil com a startup de compartilhamento de escritórios, considerada promissora nos Estados Unidos e em outros países, incluindo o Brasil. O negócio chegou a ser avaliado US$ 47 bilhões em 2019 pelo fundo japonês e já se planejava uma oferta pública de ações na (IPO). Ao longo dos anos, o fundo japonês fez aportes que chegam a algo perto de US$ 10 bilhões.
A WeWork, no entanto, acabou não vingando e as relação entre as duas companhias começaram a azedar quando o SoftBank desistiu de realizar o IPO. O grupo ainda cortou o valor de mercado da empresa para menos de 10% do que era apenas um ano antes, para de US$ 2,9 bilhões.
Além disso, com a pandemia e as restrições impostas pelos governos regionais para conter o avanço da doença levaram as operações da startup de compartilhamento próximas a nulidade. Com o aumento dos cuidados com a distância social e o crescimento dos regime de home office a empresa observou suas operações caírem acentuadamente.
No mesmo sentido, o SoftBank retirou uma oferta de aquisição de US$ 3 bilhões em ações da startup. Esta, em resposta, entrou com uma ação judicial alegando que o grupo não cumpria obrigações contratuais e fiduciárias com os acionistas minoritários da empresa.
O fundador e diretor executivo do fundo de investimento japonês, Masayoshi Son, ter sido “tolo” em investir na WeWork. “Eu estava errado”, declarou Son, o executivo.
Wirecard e o mergulho de 900 milhões de euros
No caso da Wirecard a história é outra. A fintech de pagamentos alemã anunciou a parceria com o SoftBank no início do ano passado. As companhias estruturaram o investimento de 900 milhões de euros. À época já havia alegações sobre irregularidades fiscais, no entanto para o conglomerado japonês o negócio crescia, o que, para eles, parecia bom e saudável.
Atualmente, a fintech enfrenta o escândalo do rombo de 1,9 bilhão de euros após dois bancos nas Filipinas negarem a existência dos valores em nome da companhia. Os fatos foram rapidamente escalando com a renúncia e posterior prisão do diretor executivo da empresa.
Com isso, as ações da empresa, que estavam cotadas a 140 euros depois de recuperadas do impacto da crise da covid-19, caíram para um patamar perto de 2 euros. Desde então, a fintech já perdeu mais de 90% do valor de mercado, que chegou a ser de US$ 12 bilhões.
Enquanto, o SoftBank que mantinha uma posição de quase um bilhão na companhia perdeu praticamente todo o investimento com o mergulho dos ativos.
A Wirecard, que chegou a integrar o principal índice da bolsa de Frankfurt DAX-30, cancelou a divulgação dos dados de 2019 e do primeiro trimestre de 2020. Os balanços de anos anteriores também poderão ser afetados pela fraude contábil.
Alibaba, a joia do SoftBank
O caso do Alibaba permanece um dos mais distintos para o grupo SoftBank. Son conta a história de que decidiu dar um aporte de US$ 20 milhões ao negócio após ver o brilho nos olhos do CEO, Jack Ma.
O executivo levou o diretor do conglomerado japonês para a conselho da companhia de comércio eletrônico chinesa. Son também foi decidiu levar Ma para o conselho do SoftBank, alegando uma relação entre pai e filho entre as empresas.
O investimento acabou se pagando e resultou em um dos casos de sucesso para o fundo. No entanto, as relações começaram a se deteriorar com o IPO da gigante do e-commerce, a maior oferta pública de ações do mundo, fazendo desse mercado sua maior fonte de investimento. Após a oferta os investimentos do fundo que viraram US$ 60 bilhões foram levemente sendo deixados de lado.
Son deixou na última quinta-feira (25) o cargo de conselheiro do Alibaba, gigante chinesa do setor de varejo. O anúncio foi outro na mesma linha da saída do executivo do conselho do Alibaba segue a renúncia de Jack Ma, co-fundador da companhia, do conselho do SoftBank.
Apesar do comentários apaziguadores, os analistas apontam que o enfraquecimento do laço entre as duas empresas não é positivo para o grupo japonês.
Segundo o próprio Son, combinando tudo, a posição do grupo no negócio do Alibaba já atingiu o valor de US$ 218 bilhões. A participação vem caindo, no entanto, na esteira da venda de parte das ações do Alibaba para cobrir despesas do fundo, ou ainda para investir em novos negócios.
Son afirmou que esperava retornos de 20% em cinco ou 10 anos para o Vision Fund de determinadas empresas vencedoras, porém chamou esse de um cenário otimista. O executivo sugeriu que, se os investidores quisessem ser cautelosos, valorizariam as posições da SoftBank no fundo de investimento do zero.