2023 foi marcado por um cenário que incluiu ameaças ao equilíbrio fiscal do governo e eventos como o da Americanas (AMER3), que elevaram a percepção de risco no mercado de crédito. Porém, no segundo semestre, foi observado um aumento de emissões no mercado primário de renda fixa. Em 2024, a XP aponta em relatório que o quadro de continuidade da queda da Selic é potencialmente positivo para as empresas, incentivando as captações.
Mas os analistas da XP ponderam que em relação ao crédito privado o ideal é optar por títulos de empresas com bom rating e prazos de até cinco anos, mas limitando a exposição em 1% a 3% da alocação.
No mercado local, os títulos públicos e emissões bancárias, com atenção ao emissor e ao volume máximo de cobertura do FGC – Fundo Garantidor de Créditos, são os segmentos mais atrativos.
Em relação aos indexadores dos títulos, a XP afirma que a preferência é pelo IPCA +, por causa do risco fiscal interno e considerando o cenário de queda de juros. De acordo com último Boletim Focus, o mercado espera que o IPCA termine 2023 em 4,54%. E, em 2024, a projeção é de 3,92%.
“Os títulos atrelados ao IPCA de médio a longo prazo oferecem proteção contra a inflação (que deve permanecer acima da meta do Banco Central), se mantidos até o vencimento”, explica a XP.
Os títulos prefixados voltaram ao patamar de dois dígitos, com taxas de 11% ao ano. Embora atrativos, a casa vê ainda possíveis volatilidades na curva de juros, recomendando um prazo de três anos para esses ativos.
“A marcação a mercado [que ajusta os preços dos títulos diariamente de acordo com a curva de juros projetada pelo mercado] é importante para títulos prefixados e IPCA+. Quanto mais longo o título, maior será a sensibilidade às oscilações de mercado antes do vencimento, sendo os prefixados os mais sensíveis aos movimentos”, pontua a XP.
Renda fixa internacional é boa opção para diversificação, diz XP
Com a expectativa da manutenção de juros do Federal Reserve (Fed), os títulos públicos dos EUA (Treasuries) pagam taxas em dólar em torno de 4,5% a 5,5% ao ano, uma rentabilidade elevada para ativos conhecidos como “livres de risco”.
No caso dos títulos corporativos emitidos nos EUA, os bonds, a XP explica que cautela é necessária, assim como no mercado local, e é ainda mais aconselhável buscar ativos de emissores com boa qualidade de crédito (high grade).
“Devido ao risco de juros altos por mais tempo nos EUA, títulos mais longos pagam hoje rentabilidades mais baixas do que os curtos e, uma vez que Treasuries e bonds são prefixados em sua maioria, apresentam maior volatilidade antes do vencimento (marcação a mercado)”, diz a XP.
Os títulos de renda fixa americanos estão há praticamente dois anos operando em um regime de volatilidade pelo menos 50% maior do que a média dos últimos cinco anos e até mesmo dos últimos 20 anos.
Além disso, a casa aponta que o dólar pode ser visto como uma proteção para a carteira de investimentos.
Dessa forma, em 2024, a renda fixa global, especialmente dos Estados Unidos, mostra patamares atrativos – tendo, porém, cautela com uma possível abertura nos spreads de créditos dos títulos corporativos mais arriscados.
Cenários exigem porfólio equilibrados, dizem analistas
Em 2024, a XP afirma que o ideal é um mix entre as duas principais classes de ativos locais: renda fixa e renda variável, avaliando tomar risco em ativos que apresentam maior retorno esperado em períodos de juros menores.
Na renda fixa brasileira, os cortes de juros à frente sugerem que os percentuais entre pós-fixado, prefixado e inflação sigam mudando marginalmente. Com maior propensão, diz a XP, em reduzir o pós-fixado, mantendo ainda a renda fixa em inflação nos patamares elevados e exposições mais limitadas em prefixado.
Para quem busca carteiras conservadoras e exposição a renda fixa menos suscetível ao risco de mercado (volatilidade), a corretora afirma que a parcela em pós-fixado, mesmo que reduzida nos últimos meses, seguirá expressiva.
ETFs de Renda Fixa despontam como alternativas para 2024
Para 2024, outra alternativa interessante são os ETFs (Exchange-Traded Funds) de renda fixa, que têm o objetivo de acompanhar a rentabilidade de determinado indexador (índice de mercado) ou alguma estratégia de investimento predefinida.
A B3 tem dois ETFs de renda fixa global listados: o BNDX11 e o USDB11, ambos da Investo. O BNDX11, por exemplo, investe em títulos de países ao redor do mundo, com exceção dos Estados Unidos, enquanto o USDB11 aplica somente em títulos norte-americanos. Os ativos têm taxas de administração de 0,25% e cotas de investimento a partir de R$ 100.
O BNDX11 segue o índice Bloomberg Global Aggregate ex-USD Float Adjusted RIC Capped Index Hedged e conta com mais de 6 mil títulos de renda fixa de fora dos EUA (atualmente de 52 países) com diferentes vencimentos (duration média de 7,2 anos).
Segundo a Investo, o BNDX11 é um fundo que busca oferecer aos investidores exposição à renda fixa global com hedge cambial nos EUA, o que significa que utiliza derivativos para proteger os investidores contra possíveis flutuações cambiais, reduzindo assim a volatilidade dos ativos.
Já o USDB11 oferece exposição à renda fixa dos EUA, incluindo cerca de 10 mil títulos, tanto do governo americano (67% do total) quanto títulos de empresas grau de investimento (33% do total).
O ativo segue o índice Bloomberg U.S. Aggregate Float Adjusted Index e contém papéis com diferentes vencimentos para obter um duration média de, aproximadamente, seis anos e meio, considerado intermediário.
“A condução eficaz do controle da inflação e a perspectiva de restabelecimento de uma política de juros baixos, em consonância com a trajetória histórica dos Estados Unidos nas últimas décadas, viabiliza a construção de uma base de investimentos em renda fixa que ofereça prêmios mais altos em comparação com os que podem ser esperados em um futuro próximo”, diz a Investo.
Investir em renda fixa com foco em dividendos
Para os investidores que buscam renda mensal, as ações de empresas e fundos imobiliários são as escolhas mais óbvias. Porém, os fundos de infraestrutura (FI-Infra) que investem em ativos de renda fixa são interessantes para quem deseja renda extra protegida da inflação.
Os FI-Infra atuam no mercado de debêntures incentivadas. Por meio desses ativos, os fundos pagam rendimentos mensais isentos de imposto de renda para pessoa física, uma atração que os títulos públicos não possuem.
Os FI-Infra alocam seu capital na dívida de empresas do setor de infraestrutura, com projetos nos segmentos de energia, rodovias, saneamento.
Uma de suas vantagens é a existência do duplo benefício fiscal aos seus investidores. Além da isenção de imposto sobre os dividendos, existe a isenção de IR no ganho de capital com a venda das cotas na bolsa de valores, sendo uma formas de ganho em renda fixa.