O Fiagro é um produto novo no mercado financeiro, mas já despertou atenção dos investidores pessoa física. Desde o lançamento do primeiro veículo, no final do ano passado, os fundos de investimento do agronegócio atraíram 50 mil investidores e um patrimônio de quase R$ 3 bilhões. Se você ficou de fora, deve estar se perguntando: como faço para escolher um Fiagro para investir?
É sobre isso que vamos falar hoje, no penúltimo dia da Semana do Fiagro do Suno Notícias, realizada com o apoio da Ecoagro e da XP Asset. Você pode ver tudo que está rolando na semana aqui.
Embora o agronegócio seja responsável por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, escolher ativos neste setor nem sempre é algo simples, ainda mais porque os Fiagros são produtos novos. Até o seu surgimento, os investidores tinham duas principais opções para investir no agronegócio: via LCAs (títulos de dívidas de bancos), CRAs (títulos de dívidas privados) e ações de empresas do agro listadas na bolsa de valores.
Os Fiagros podem investir em vários ativos, como dívidas, terras, participações em outros fundos ou até mesmo em empresas do agronegócio. “Isso garante uma diversificação muito maior do que comprar simplesmente um LCA ou um CRA”, explica Amanda Coura, head de produtos estruturados da Suno Asset.
Com pouco dinheiro, na casa dos R$ 100, qualquer investidor pode comprar uma cota de Fiagro que reflete uma carteira muito diversificada de ativos investidos, diferente do que ocorre com um CRA ou LCA. Existem até alguns Fiagros com cota de R$ 10, sendo ainda mais acessíveis.
Apesar de serem uma novidade, os Fiagros têm várias semelhanças com os Fundos Imobiliários, produtos que já são velhos conhecidos do investidor brasileiro – hoje são 1,5 milhão de brasileiros investindo em FIIs. Em comum, vale destacar que tanto FII quanto Fiagros têm isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas na distribuição dos rendimentos. Outra semelhança é que as cotas dos Fiagros são negociadas em bolsa, assim como os FIIs.
Segundo os especialistas ouvidos pelo Suno Notícias, existem 5 pontos principais para analisar antes de escolher um Fiagro:
- Concentração e perfil dos devedores;
- Potencial de rentabilidade;
- Características dos ativos;
- Expertise da gestão no setor do agronegócio;
- Periodicidade dos rendimentos.
Mas, antes de escolher um Fiagro para investir, é importante saber quais são as opções existentes:
- Fiagro FII: embora tenha particularidades próprias, é o que mais se assemelha de fato aos fundos imobiliários; são voltados ao público em geral.
- Fiagro FIDIC: tem como principal objetivo investir em direitos creditórios da agroindústria. São voltados para investidores qualificados.
- Fiagro FIP: tem como intuito investir em fundos de investimento em participações. Também são voltados para investidores qualificados.
Os Fiagros que dominam o mercado hoje são os Fiagro-FII. Uma de suas principais características é investir em títulos de dívida, como os CRAs (Certificados de Recebimento do Agronegócio), por exemplo. Mas os Fiagros também podem investir em terras e participações em outros fundos, diversificando os riscos dentro do segmento agro.
Vamos aos critérios mais importantes:
Como escolher um Fiagro para investir?
1. Concentração e perfil dos devedores
Todos os Fiagros são jovens, e estão começando a montar seus portfólios de ativos investidos. Por isso, ainda é comum encontrar Fiagros com carteiras muito concentradas, com poucos ativos. “Isso é comum porque o fundo está em processo de diversificar a carteira, mas o investidor precisa ter ainda mais cuidado porque, com a concentração alta da carteira, qualquer risco de crédito pode impactar demais o portfólio”, diz Amanda Coura.
“O investidor tem que acompanhar o time de gestão, o crescimento do fundo e a pulverização do risco”, explica.
Além disso, é fundamental observar como a gestão lida com a concentração de devedores em seu portfólio de ativos, caso isso de fato seja observado. Embora seja natural que o Fiagro tenha um número maior de ativos concentrados em determinados devedores no início, algumas medidas podem ser tomadas pela gestora para que esse risco seja reduzido com o tempo.
Uma das medidas é acompanhar de perto os devedores, possuir uma estrutura robusta de garantias e executar de forma completa e profunda uma diligência do devedor e dos ativos, para evitar riscos de recuperação judicial ou outros tipos de problemas. Além disso, os fundos devem ampliar a diversificação da carteira ao longo do tempo.
2. Potencial de rentabilidade do Fiagro
Os Fiagros que investem em papel (CRAs) têm suas receitas baseadas na remuneração dessas dívidas, que rendem um indexador (CDI, por exemplo) mais uma taxa fixa. Estes indexadores podem oscilar, principalmente nos cenários atuais de turbulência de mercado, e impactam diretamente nos rendimentos.
Assim, o investidor deve se atentar aos indexadores, mas não se restringir a isso. A parte variável vai mudar conforme o momento do mercado, mas por outro lado a parcela fixa de juros (spread de crédito), sustentará os rendimentos mesmo com indexadores em níveis baixos.
3. Características dos ativos dos Fiagros
O cenário econômico pode ser menos favorável aos Fiagros de papel quando os juros e a inflação estiverem mais baixas. Nesse caso, é preciso observar as características próprias de cada um deles de modo filtrar os que oferecem uma maior relação de risco e retorno.
Um desses pontos é a diversificação de cultura ao qual o Fiagro está exposto, que pode ser, por exemplo, soja, indústria sucroalcooleira e milho. Assim, é possível verificar os períodos em que é mais provável existir algo que afete a safra e consequentemente o devedor do fundo.
Além disso, a diversificação regional também pode ser um ponto positivo, já que Fiagros com ativos distribuídos em diferentes regiões amenizam os riscos da carteira, em caso de fatores adversos associados ao local e que comprometam a renda do devedor.
Os Fiagros podem investir não apenas em dívidas que são diretamente atreladas a indexadores de mercado, mas também em terras, por exemplo, trazer um potencial elevado de valorização patrimonial a longo prazo.
4. Expertise da gestão no setor agro
Um dos pontos mais importantes para escolher um bom Fiagro é observar a expertise do time de gestão daquele fundo no segmento do agronegócio, já que isso auxilia no momento de escolher bons ativos.
Além disso, é importante notar como a equipe de gestão está trabalhando para diluir os riscos de sua carteira, assim como o tempo e a trajetória histórica do time na gestão de ativos, facilitando uma boa estruturação e garantindo uma melhor relação risco-retorno aos seus investidores, de acordo com Gabriel Teixeira, analista da Ativa Investimentos.
5. Periodicidade dos rendimentos
Diferente dos FIIs, que distribuem os rendimentos mensalmente, o lucro dos Fiagros é distribuído em regime anual. Fica a critério da gestão definir se a distribuição será feita mensalmente ou em outra frequência.
Diferente dos FIIs, que ganham com aluguel, os Fiagros têm ganhos sazonais por causa das safras, e por isso a legislação dá mais flexibilidade para os Fiagros pagarem os dividendos.
Segundo o diretor de crédito do Grupo Leste, Arnaldo Braga, para os Fiagros de Crédito, é importante olhar duas métricas: a rentabilidade patrimonial e o retorno apurado pela distribuição de dividendos. “Como os ciclos no agro tendem a ser anuais, é importante olhar janelas mais longas. O fundo será melhor quanto maior for a combinação do retorno patrimonial e da distribuição de dividendos. Obviamente, esses retornos precisam ser analisados à luz do risco que eles representam”, afirma.
Já para os fundos de terras ou de empresas, a avaliação é um pouco mais desafiadora pois a valorização da terra ou da empresa não ocorre em sua totalidade até a venda do ativo. “Assim, o investidor não tem outra alternativa a não ser comparar os ativos do fundo com outros ativos comparáveis de mercado, como preços de terras e múltiplos de empresas de Bolsa”, diz Braga.
Por último, também é importante que o investidor observe o portfólio dos Fiagros antes de investir, analisando a qualidade dos ativos que o compõe, assim como os riscos aos quais eles estão expostos. Um dos pontos a se considerar nos CRAs das carteiras dos Fiagros é ver se eles têm rating público de crédito, ou estão cobertos por certas garantias, trazendo uma maior segurança para a operação.
Para saber ainda mais sobre o assunto, continue ligado na semana do Fiagro aqui no Suno Notícias e confira este guia detalhado sobre o tema.