Com tensão fiscal, dólar sobe 1,92% e atinge nova máxima em 6 meses
O dólar encerrou as negociações desta quinta-feira (21) com crescimento de 1,92% frente ao real, valendo R$ 5,66 na venda. A moeda alcançou hoje uma nova máxima em 6 meses.
O mercado foi atingido nesta quinta por uma “tempestade perfeita”. Como reação, o dólar hoje teve alta disparada. Os indícios de que o presidente Jair Bolsonaro está disposto a driblar o teto de gastos, em busca de financiamento para o Auxílio Brasil, abalaram os mercados.
A posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, também desagrada o mercado. “Guedes perdeu a credibilidade do mercado com uma série de decisões, como a taxação de dividendos, o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), a questão dos precatórios, que representa um calote, e agora o rompimento do teto. Ele já não tem mais condições de ancorar as expectativas do mercado”, afirma o head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto.
Além disso, o cenário no exterior também ajudou a impulsionar a alta do dólar.
“O ambiente externo é de alta do dólar. A aversão ao risco aumentou novamente com preocupações de desaceleração da economia chinesa, que enfrenta crise energética e no setor imobiliário. Além disso, o Fed (Federal Reserve) deve começar o tapering mesmo em novembro”, diz Netto, da Acqua-Vero Investimentos, que não vê espaço para o dólar voltar a ser negociado abaixo de R$ 5,50 no curto prazo. “Se as condições se deteriorarem, podemos ver o dólar batendo em R$ 5,70. O BC não entrou hoje, com esse estresse todo. Isso mostra que ele vai atuar apenas para dar liquidez no momento em que houver fluxos relevantes de saída.”
Movimentação do dólar hoje
Às 10h20 desta quinta, o dólar à vista subia 0,81%, a R$ 5,64. O dólar para novembro ganhava 1,07%, a R$ 5,6675. A tensão fiscal do País e o exterior negativo, com dólar e juros dos Treasuries em alta e bolsas em baixa, já apoiavam fortes ganhos do dólar ante o real desde o início desta quinta-feira.
Às 14h25, o dólar comercial subia 1,69%, cotado a R$ 5,655 na venda. Os juros futuros acompanham o câmbio, com o DI janeiro 2025 subindo 45 pontos-base, a 11,35% ao ano, após ganhar mais de 60 pontos-base no pior momento do dia.
Lá fora, bolsas de valores e de moedas emergentes também apresentam quedas, em meio aos temores relacionados ao mercado imobiliário chinês, com nova derrocada da incorporadora Evergrande em resolver sua situação financeira.
Notícias que movimentaram o dólar
Além disso, veja algumas notícias que movimentaram o dólar durante a sessão de hoje:
- Em jeitinho fiscal, governo muda cálculo do teto de gastos na PEC dos Precatórios
- Bolsonaro anuncia “auxílio diesel” para 750 mil caminhoneiros a R$ 400
- Teto de gastos: governo acerta mudança para abrir brecha de R$ 83,6 bilhões em ano eleitoral
Governo muda cálculo do teto de gastos
A solução encontrada pelo governo federal para resolver o impasse financeiro do Auxílio Brasil foi revisar as regras do teto de gastos na PEC dos Precatórios. Na tarde desta quinta-feira (21), parlamentares discutem na Câmara dos Deputados a possibilidade de rever o período considerado da inflação que corrige o limite de gastos da União.
Com essa mudança, o relator afirma que a folga do teto de gastos em 2022 será pouco acima de R$ 83,6 bilhões, o que abrange com folga os R$ 30 bilhões necessários para cobrir o Auxílio Brasil em R$ 400 mensais.
A proposta do relator da PEC dos Precatórios, deputado Hugo Motta, é mudar o período de julho a junho – considerado atualmente para corrigir a inflação aplicada no teto de gastos – para janeiro a dezembro, abarcando um período maior de alta dos preços.
Bolsonaro anuncia “auxílio diesel” para 750 mil caminhoneiros a R$ 400
O presidente Jair Bolsonaro afirmou hoje que o governo irá criar um benefício para caminhoneiros. Explicou: “Em torno de 750 mil caminhoneiros receberão ajuda para compensar aumento do diesel”, disse ele durante evento em Sertânia (PE). O valor do benefício será de R$ 400.
A novidade vem em um momento de preocupação entre economistas e agentes do mercado com a situação fiscal brasileira e de alta no preço dos combustíveis, um dos vilões da inflação.
O problema tem grande impacto sobre os caminhoneiros, uma das bases de apoio de Bolsonaro. O presidente tem enfrentando dificuldades em baixar o valor dos derivados de petróleo e jogado o problema no colo do ICMS cobrado por governadores e prefeitos.
Governo desvia do teto de gastos com brecha de R$ 83,6 bilhões
Foi acertada uma mudança no teto de gastos que deve abrir um espaço de R$ 83,6 bilhões para despesas adicionais em 2022, ano em que o presidente da República buscará sua reeleição.
O acordo sobre o teto de gastos foi fechado na manhã desta quinta-feira (21) entre as alas política e econômica do governo, após dias de embates para viabilizar o pagamento de R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil determinado por Bolsonaro.
A proposta que está na mesa e que deve ser validada com o presidente é mudar a fórmula do teto, que hoje é corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, acumulado em 12 meses até junho do ano anterior ao de sua vigência.
Cotação do dólar nesta quarta (20)
Na última sessão, quarta-feira (20), o dólar encerrou as negociações em queda de 0,59%, frente ao real, valendo R$ 5,561 na venda.
(Com informações do Estadão Conteúdo)