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Vivian Portella

Brasileiro tipo exportação: o que a Copa nos ensinou sobre a construção de carreiras internacionais

A maior parte das seleções que estiveram na Copa no Catar foram formadas por “cidadãos do mundo”. Profissionais que, para conquistar uma vaga no mercado de trabalho, superaram as fronteiras dos países onde nasceram, e fizeram mais. São pessoas que se integram a novos locais e utilizam recursos para cuidar da carreira e do patrimônio que independem de limites geográficos. O fenômeno ultrapassa as quatro linhas do campo e tem acontecido cada vez mais em diversos setores, da indústria do futebol ao mercado financeiro.

Há décadas o futebol é um dos principais expoentes desse movimento de globalização. Em 2022, dos 26 convocados que defenderam o Brasil, quase 90% não jogavam em clubes do país. Até mesmo Marrocos, uma das seleções menos tradicionais e grande sensação do torneio, passou às semifinais com uma equipe titular composta 100% por atletas que atuam na Europa. O futebol é representativo do potencial que temos para internacionalizar a carreira e a vida. Ninguém, aliás, precisa ser uma grande personalidade do esporte para estar sujeito a essas transformações.

Nunca o número de brasileiros vivendo no exterior foi tão alto. Subiu mais de 30% em uma década, alcançando uma população superior a quatro milhões de pessoas, equivalente à de países como Uruguai ou Irlanda. Entre os imigrantes, encontramos desde mão de obra que exige baixo grau de instrução a gente altamente qualificada, que desembarca no exterior com a intenção de liderar multinacionais.

Vale lembrar, ainda, que, a partir da cultura digital, se tornar cidadão do mundo ficou mais fácil, não sendo necessário nem mesmo colocar os pés fora de seu país de origem. Em uma pesquisa da Gartner, 60% das organizações afirmaram empregar pelo menos um colaborador de tecnologia remoto – o dobro se comparado há três anos. E cerca de 25% dos líderes desejam aumentar esse quadro.

A transformação de contingentes maiores de brasileiros em cidadãos do mundo tem se refletido nas remessas internacionais. As realizadas por nossos conterrâneos no exterior, por exemplo, cresceram mais de 30% entre 2019 e 2021. Além de gerar capital e ampliar os negócios, uma cultura que se faz no movimento.

São pais que pelo menos uma vez por ano desejam visitar o filho expatriado; gente que se anima a comprar imóvel lá fora para não depender de hotel ao viajar; há quem deseje aplicar em fundos de outros países; jovens que encontram uma oportunidade de se graduar em uma universidade estrangeira, fazer intercâmbio ou expandir suas startups; investidores que ganham salários em reais, e buscam diferentes estratégias para proteger o patrimônio através de moeda estrangeira, ou resgatar sua previdência em dólar.

Ser cidadão do mundo é assim. Basta ser local e pensar global. As mudanças pelas quais o setor de câmbio vem passando – vide o Novo Marco Cambial no Brasil – são uma parte do que será feito para carimbar o passaporte desse novo futuro. Novas possibilidades de investir em países e moedas diferentes, construir carreira, crescer, usar o mundo para amenizar os efeitos dos altos e baixos da economia e viver com mais tranquilidade.

Estamos apenas no começo de uma fase em que não haverá fronteiras para empresas. Nem pessoas. Mais do que falar inglês, francês, espanhol ou chinês, precisaremos falar a língua das oportunidades de investimento, de emprego e de negócios, seja lá onde elas estiverem. Assim como o futebol ensina, quando a bola rola nosso campo é o planeta.

Nota

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