Vitor Pitz

Risco é aquilo que não enxergamos

Os maiores perigos são aqueles em que a imaginação é incapaz de conceber, e é por isso que o risco não pode jamais ser dominado.

Antes de se lançar ao espaço a bordo de foguetes, os astronautas da Nasa realizaram testes em balões de ar quente a altas altitudes.

Um voo de balão no dia 4 de maio de 1961 levou o americano Victor Prather e outro piloto a quase 35 mil metros de altura, tocando no limiar do espaço. O objetivo era testar o novo traje espacial da Nasa. O voo foi um sucesso. O traje funcionou às mil maravilhas.

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Enquanto o balão descia, já em baixa altitude, Prather decidiu abrir o visor do capacete, ao que parece pensando em tomar um ar fresco.

Ele pousou no oceano como planejado, à espera do helicóptero que o içaria. Mas houve um pequeno contratempo: no momento em que conectava o balão ao cabo do helicóptero, Prather escorregou e caiu no mar.

Isso não deveria ser nenhum problema, e ninguém no helicóptero de resgate entrou em pânico. O traje espacial era à prova d´água e flutuava. Mas como Prather havia aberto o visor, ficou exposto. A água entrou no traje e ele se afogou.

Conforme Morgan Housel destaca em seu novo livro “O mesmo de sempre”, somos muito bons em prever o futuro, exceto pelas surpresas – que tendem a ser tudo o que importa.

Pense em quanto planejamento é necessário para lançar alguém ao espaço. Quanto conhecimento, quantas exigências. Quantas conjecturas e precauções. Cada detalhe é contemplado por milhares de especialistas.

Provavelmente nunca existiu uma organização mais centrada no planejamento do que a Nasa – ninguém vai para a Lua cruzando os dedos e torcendo pelo melhor.

O maior risco é sempre um evento que ninguém antecipa, porque se não o antecipamos não estamos preparados para ele; e, se ninguém está preparado para ele, os prejuízos serão muito maiores quando ele chegar.

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Essa é a questão: as maiores notícias, os maiores riscos, os eventos mais significativos são sempre os que não esperamos. Ou seja, a incerteza econômica raramente é maior ou menor – o que muda é apenas o grau de ignorância das pessoas em relação aos potenciais riscos.

A Economist publica todo mês de janeiro uma previsão do ano. O número de janeiro de 2020 não menciona uma palavra sobre a covid-19. A edição de janeiro de 2022 não menciona uma palavra sobre a invasão russa da Ucrânia.

Os maiores perigos são aqueles em que a imaginação é incapaz de conceber, e é por isso que o risco não pode jamais ser dominado.

Parece óbvio, mas a grande maioria dos investidores ainda acredita que todas as variáveis possíveis que podem impactar no retorno de um investimento podem ser quantificadas. Isso não é verdade!

Até hoje, não foram encontradas referências (ou relatos) de economistas que tivessem previsto a Crise de 1929, segundo Robert Shiller. E justamente por ninguém esperar o que estava por vir é que se tornou algo tão surpreendente e pavoroso, por mais que hoje parecesse óbvio a absurda bolha financeira às vésperas da Grande Depressão. Ninguém estava preparado para ela porque ninguém a esperava. Assim, foi difícil para as pessoas lidarem com ela tanto em termos financeiros (pagando suas dívidas) quanto em termos psicológicos´(o choque e a tristeza da perda súbita).

Grande parte dessa ideia reside em aceitar quão limitada pode ser nossa visão do que acontece no mundo. Risco é o que não enxergamos, e conforme afirma o consultor financeiro Carl Richard: “risco é o que sobra depois que você acredita ter pensado em tudo”.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Vitor Pitz

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