Vitor Pitz

Diversificação X Concentração

Há uma grande polêmica no mercado acerca desse assunto, com investidores se polarizando entre a diversificação e a concentração da carteira. Como pode alguém defender maior concentração? Entenda

Talvez uma das primeiras coisas que aprendemos quando começamos a investir foi sobre diversificação. Quem não conhece a famosa frase do Miguel de Cervantes: “Não coloque todos os ovos na mesma cesta”? Basicamente diversificar é dividir os investimentos em diferentes tipos de ativos com diferentes características, tais como classes de ativos, setores, geografias, prazos e até instrumentos financeiros.

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É inegável a importância e os benefícios que a diversificação traz ao portfólio, difundida em qualquer livro acadêmico e de referência sobre investimentos. Na década de 50, Harry Markowitz popularizou ainda mais o conceito ao demonstrar matematicamente que cada ativo possui determinado risco que está relacionado com o seu retorno esperado.

Ray Dalio, em seu livro “Princípios” revela como ativos com diferentes correlações impactam no risco e desvio padrão dos retornos do portfólio. E aqui entra um conceito que todo investidor deve entender: correlação. Trata-se de uma medida estatística que indica a relação de retorno entre dois investimentos ou ativos financeiros em determinados períodos de tempo, variando entre -1 e 1. Quanto mais próximo de 0, menor a relação entre eles.

Por exemplo, qual a relação entre uma empresa de tecnologia na China e uma de energia no Brasil? Provavelmente tende a ser próximo de 0. Já ativos do mesmo setor tendem a apresentar correlação mais próxima de 1. O dólar e o Ibovespa possuem uma correlação negativa, historicamente abaixo de -0,35. No dia a dia não é difícil notarmos o Ibovespa caindo enquanto o dólar sobe e vice-versa.

Agora vamos ao gráfico do Ray Dalio:

O modelo acima apresenta valiosos dados. O primeiro deles é como o aumento na quantidade de ativos, na coluna horizontal, reduz a volatilidade anual do portfólio, representado pelo desvio padrão na coluna vertical. Nota-se que a redução de volatilidade dos primeiros 10 ativos é muito mais significativa do que a adição de mais 10 ativos.

O segundo é como a correlação entre os ativos de cada portfólio (representado por cada linha) impacta na volatilidade e também na relação de risco e retorno. Os portfólios que possuíam maior correlação entre os ativos não obtiveram uma redução significativa na volatilidade, muito menos na relação de risco e retorno, mostrando que não teria sido uma boa estratégia. Já para o portfólio mais “eficiente” possível, ou seja, com os ativos totalmente descorrelacionados, percebe-se a maior redução de volatilidade à medida que se adicionam novos ativos e melhora a relação de risco e retorno.

Mas talvez o dado que mais chame a atenção é a “probabilidade de perda de valor em um determinado ano”, representado na última coluna. O portfólio com 60% de correlação apareceu com quase 40% de chance, enquanto o com 0% aparece com 11% apenas.

Ainda assim, há uma grande polêmica no mercado acerca desse assunto, com investidores se polarizando entre a diversificação e a concentração da carteira. Mas como pode alguém defender maior concentração? Deixo frases de alguns dos grandes investidores que conhecemos:

“Diversificação é proteção contra a ignorância. Faz pouco sentido se você sabe o que está fazendo.” (Warren Buffett).

“Diversificação é para idiotas.” (Mark Cuban).

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Os concentradores acreditam que, tendo poucas ações, eles conhecerão melhor essas empresas e terão menos surpresas negativas. Eles argumentam que, se você tiver muitas ações, não terá capacidade de se aprofundar nessas companhias e avaliar bem os riscos de todas.

Já os que defendem a diversificação alegam que as surpresas sempre acabam acontecendo, e que por isso compensa ter um portfólio grande, para caso você tenha problema com algum ativo o mesmo não comprometa todo o seu investimento.

Dalio é um grande fã dessa tese. Para ele, o santo graal dos investimentos está no poder que a diversificação tem em diminuir a volatilidade do portfólio enquanto mantém o retorno esperado. Assim, seu alvo sempre foi ter de 15 a 20 empresas com baixa correlação entre si. Peter Lynch também seguiu essa tese, já que ele chegou a ter mais de 1400 empresas em seu portfólio simultaneamente.

E então, se os maiores investidores do mundo divergem sobre o tema, o que devo fazer?

Perceba que o racional dos dois lados faz total sentido. Na verdade, ambos possuem o mesmo objetivo: reduzir o risco micro. A diferença está na forma como cada um entende que pode conseguir reduzi-lo.

Os concentradores gastam mais do seu tempo entendendo realmente a fundo a empresa, diminuindo a possibilidade de não considerar alguma variável que possa impactar negativamente no negócio da companhia. De fato, consegue reduzir a chance de erro. Porém, não há 100% certeza quando você trabalha com inúmeros fatores incertos.

Como é impossível ter essa previsibilidade, ou seja, somos ignorantes quanto ao cenário, a diversificação serve como proteção. Ainda mais para nós, que não somos o Warren Buffett.

Podemos absorver o melhor de cada lado para levar a nosso favor. A história nos mostra por que evitar investir em uma única economia, setor ou ativo – basta lembrar quantos casos de empresas que fracassaram na bolsa. Da mesma forma, economias isoladas são cíclicas, e o Brasil é um grande exemplo.

Ao mesmo tempo, começa a ser irracional o investidor ter uma quantidade de ativos que nem sequer consegue mais acompanhar sabendo que não obterá um bom benefício de redução de volatilidade, conforme vimos anteriormente.

Entendo que o bom caminho é aquele que você busque adicionar ativos que tendem a ser o mais descorrelacionado possível com o que você já tem em carteira, e sempre com cautela para no fim das contas não pulverizar seu portfólio, o que no final pode significar você simplesmente estar acompanhando o índice de referência.

Lembre-se: a diversificação não é montada para maximizar o retorno, mas para reduzir risco e volatilidade.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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