Crise hídrica de mal a pior: para além do setor energético
Assim como os reservatórios hídricos, o Ibovespa foi impactado recentemente pelas más notícias sobre a crise energética, o que respingou sobre Taesa (TAEE11), EDP Brasil (ENBR3) e Copel (CPLE6).
Mesmo assim, muitas empresas do setor caíram pouco ou ficaram praticamente estáveis. Como explicar isso? E em relação aos outros setores da bolsa? A crise hídrica muda algo para eles? Vamos responder a estas questões.
Impacto no mercado em geral
O que justifica as quedas das empresas de energia na bolsa? A reação do mercado foi provocada por declarações polêmicas. O Ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que há uma crise hídrica no país, com o governo anunciando novas ações de contenção, conferindo compensações aos consumidores que reduzirem ao consumo, por exemplo.
O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) afirmou no mesmo dia que há uma “relevante piora” das condições hídricas no país, destacando que medidas de contenção devem ser tomadas. No mesmo sentido, os reservatórios de água do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% do abastecimento, já estão apenas com 23% da capacidade de armazenamento.
Assim, o Brasil passa pela pior seca dos últimos 91 anos. Isso logicamente afeta a produção de energia em hidrelétricas em todo o país.
Nesse contexto, o foco é sempre as elétricas. Mas será que em um mercado que as pressões sempre influenciam ativos em geral, somente elas sofrem?
Logicamente não. Alguns setores podem ser impactados pela alta do preço da energia, por exemplo. A Metalúrgica Gerdau (GOAU4) é um desses casos, visto que utiliza bastante energia, e com a falta desta, o preço aumenta. Nesse sentido, já foi previsto novo reajuste na bandeira vermelha para setembro.
Isso pode encarecer as atividades altamente dependentes da energia e, consequentemente, reduzir suas margens de lucro.
Ainda, outros setores específicos podem sofrer diretamente com a mudança, apesar do energético ter mais visibilidade. O setor agrícola, que começou a ter alguma participação na bolsa recentemente, é um desses que tende a sofrer com a falta de chuvas. A SLC Agrícola (SLCE3), produtora brasileira de soja, milho e algodão, é uma destas.
Mas vale sempre lembrar que todo momento de crise é também de oportunidades. Afinal, sempre que o mercado reage mais forte do que apontam os fundamentos, surge um gap relevante.
Setor energético: o defensivo virou agressivo?
Falando do típico setor energético, é preciso separar como os setores são impactados de maneira diversa pela escassez hídrica. As geradoras logicamente são responsáveis por gerar energia elétrica. Como possuem contratos que obrigam o fornecimento, sofrem mais com a escassez. Assim, se não forem capazes de gerar a capacidade contratada, devem adquirir e repassar aos consumidores, reduzindo as margens de lucro.
Já as transmissoras fazem a intermediação entre a geradora e a distribuidora por meio das linhas de transmissão. É o segmento mais seguro para se ter em função de seus contratos com remuneração fixa e corrigidos pela inflação. O impacto aqui é muito baixo.
As distribuidoras por sua vez entregam a energia ao consumidor final, podendo repassar custos para este, de forma a minimizar impactos. Assim, com algumas empresas sofrendo menos, pode ser uma boa oportunidade para comprar ativos descontados em segmentos defensivos.
Por fim, vale ficar atendo às empresas que atuam com energia renovável, como solar e eólica, e que já vem subindo em bolsa.
Trata-se, na verdade, não somente de uma tendência de curto prazo para substituir a ausência de energia proveniente de fontes tradicionais, mas também de longo prazo, com um apelo cada vez maior por estas fontes.
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