Selic em 13,75% está com os dias contados?
A despeito da notória perda de ímpeto observada na inflação acumulada em 12 meses, desde 12% em abril do ano passado até o patamar atual, abaixo de 4% — que, inclusive, é o menor desde 2020, muito em função do efeito base — é esperada a aceleração do índice no segundo semestre.
A gama de fatores que podem contribuir para o controle inflacionário à frente é sobremaneira ampla. Contudo, vale destacar o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso, a reforma tributária, uma queda adicional dos preços, incluindo commodities, uma desaceleração mais intensa da atividade econômica, tanto doméstica quanto global, a manutenção das metas inflacionárias e a continuidade do processo de apreciação cambial.
Com relação à taxa Selic, diante da conjuntura macroeconômica local mais auspiciosa, especialmente no que se refere à dinâmica inflacionária, a Selic em 13,75% está com seus dias contados. Embora não possamos garantir nada em relação ao futuro, é certo que a taxa de juro básico da economia brasileira chegará ao final do ano em patamar inferior ao atual. De acordo com a ata da última reunião, o COPOM, apesar de ainda não ter indicado a redução da taxa já em agosto “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.
Vale notar que o comitê elevou a projeção da taxa de juros neutra de 4% para 4,5%, sinalizando menos espaço para o afrouxamento monetário. Ou seja, a taxa terminal será mais elevada do que anteriormente projetado. A partir do momento que ocorrer o corte na taxa básica de juros, estima-se que os impactos sejam sentidos na economia entre 12 e 18 meses após efetivados. No entanto, ainda que essa defasagem seja praticamente consensual, trata-se somente de uma estimativa, pois o prazo pode variar em decorrência de diversos fatores.
Agora, quando olhamos para a bolsa de valores, os setores que devem performar melhor com o afrouxamento da Selic são aqueles cuja dependência de crédito é mais intensiva. Por exemplo o varejo, principalmente o de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos etc.). Isso porque a redução da taxa básica de juros contribui para o barateamento do crédito, e por sua vez para a majoração do consumo, em paralelo ao aumento da renda real devido à desaceleração das pressões inflacionárias. Outros setores cíclicos, como tecnologia e construção civil, também devem se beneficiar bastante.
Por outro lado, setores menos sensíveis ao ciclo econômico, ou de consumo não discricionário (como energia), sentem a redução do aperto monetário de modo mais tênue, justamente porque a conjuntura não impacta tanto assim o desempenho do setor.