Antonio van Moorsel

Estados Unidos em recessão técnica. Será?

Pela definição clássica de manuais de economia, a contração da atividade em dois trimestres consecutivos, como ocorreu nos EUA, representaria uma recessão. No Brasil é assim. Entretanto, nos Estados Unidos a definição é mais complexa

Em julho, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou a primeira leitura do PIB referente ao segundo trimestre de 2022 da economia norte-americana. O indicador apontou a contração de 0,9% no período, em termos anualizados, e contrariou a mediana das previsões de analistas, que apontava para crescimento de 0,4%.

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Como a atividade econômica encolheu 1,6% nos três primeiros meses do ano, a maior economia do planeta apresentou dois trimestres consecutivos de retração, um critério normalmente utilizado por economistas para definir uma recessão técnica. Todavia será que os Estados Unidos estão de fato em recessão?

Pela definição clássica de manuais de economia, a contração da atividade em dois trimestres consecutivos, como ocorreu nos EUA, representaria uma recessão. No Brasil é assim. Entretanto, nos Estados Unidos a definição é mais complexa e cabe ao National Bureau of Economic Research (NBER), ou, em tradução livre, Departamento Nacional de Pesquisa Econômica, declarar oficialmente a condição.

A organização, por sua vez, realiza uma análise mais ampla, considerando um universo extenso de indicadores como, por exemplo, emprego, renda pessoal, setor de serviços e produção industrial, além da variação trimestral do PIB.

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Por esta ótica, a economia norte-americana não está em recessão, mesmo após a segunda queda consecutiva no Produto Interno Bruno. As leituras recentes dos indicadores referentes ao mercado de trabalho surpreenderam positivamente, reforçando a resiliência da demanda doméstica americana. O payroll, por exemplo, registrou a criação de 528 mil vagas no mês passado, superando a expectativa do mercado. Em paralelo, a taxa de desemprego recuou para 3,5%, retornando ao nível de fevereiro de 2020 – antes da pandemia de covid-19.

O conjunto de informações disponíveis até o momento afasta a percepção de recessão no curtíssimo prazo. Entretanto, é importante salientar o tempo verbal: não estar em recessão (no presente) é diferente de não estará em recessão (no futuro).

Caros leitores, por fim vou deixá-los com a sugestão de análise alternativa sob outra perspectiva. Considerando a complexa conjuntura macroeconômica atual, fomentada por uma sobreposição de choques – pandemia, guerra e mudança de política monetária mundo afora – a maior economia do mundo entrar em recessão com juros entre 2,25% e 2,50% pode não ser tão ruim quanto parece, apesar da manchete negativa. Se os Estados Unidos forem capazes de, com este nível de juro nominal, desaquecer a atividade e desinflacionar a economia norte-americana, é um “preço” (juro) baixo para atenuar esse ambiente demasiadamente perturbado. Ou seja, poderia ser pior.

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Nota

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