Precisamos mesmo saber de tudo que acontece à nossa volta?
“Minha perplexidade atingiu o auge quando descobri por acaso que ele ignorava a Teoria de Copérnico e a composição do sistema solar. Para mim, um ser humano civilizado do século XIX que não soubesse que a Terra girava em torno do sol era algo tão extraordinário que quase me recusava a acreditar.”
O trecho acima, retirado do romance “Um Estudo em Vermelho”, de Arthur Conan Doyle, retrata a surpresa de Watson ao descobrir que seu colega Sherlock Holmes cultivava o hábito de ignorar fatos sem utilidade prática para o trabalho de detetive. O pensamento de Holmes se baseava na ideia de que o cérebro humano é capaz armazenar uma quantidade finita de informações, com assuntos inúteis preenchendo o espaço que poderia ser ocupado por conhecimento relevante.
Avanços tecnológicos recentes trouxeram possibilidades de escolhas virtualmente infinitas no que tange ao acesso à informação, disponível a qualquer pessoa munida de conexão à internet, viabilizando atividades inimagináveis na época de Sherlock Holmes, como assistir a filmes, eventos esportivos e aulas universitárias no conforto de casa. A premissa de que os indivíduos são capazes de agir por conta própria para maximizar seu bem-estar, aliada à maior quantidade de opções disponíveis leva à conclusão de que o aumento de opções possibilitaria maior bem-estar. Porém, a teoria de Holmes nos faz pensar que o cérebro humano pode não conseguir utilizar tanta informação de forma eficiente ao mesmo tempo.
Barry Schwartz, psicólogo americano que popularizou o termo “Paradoxo da Escolha”, argumenta que a grande quantidade de opções disponíveis causa, dentre outras consequências negativas, a diminuição da satisfação resultante da escolha, uma vez que é fácil imaginar alguma opção diferente que teria sido melhor, mesmo que a decisão efetiva não tenha sido má quando analisada isoladamente. O valor que damos às coisas é influenciado pela comparação com outras coisas semelhantes: quanto maior a quantidade de alternativas comparáveis, menor a chance de ficarmos satisfeitos com nossa decisão.
Muitas pessoas acabam obtendo resultados insatisfatórios em seus investimentos por não compreenderem que a atividade de poupar e investir é essencialmente psicológica. Ao tentar consumir o máximo de informação possível para prever os movimentos de mercado e acertar a hora de comprar ou vender, tendem a seguir o comportamento da manada e a basear suas decisões em eventos de curto prazo. É difícil saber por onde começar e os agentes envolvidos nem sempre possuem alinhamento de interesses necessário para contribuir com o bem-estar do investidor.
Ainda assim, não se deixando influenciar pela quantidade absurda de informação disponível e conseguindo desenvolver a capacidade de ocupar o cérebro com materiais produtivos (ignorando o que não importa), o investidor leva vantagem em relação à maioria do mercado, incluindo profissionais.
Mesmo que no século XXI ainda exista quem duvide que a Terra gire em torno do Sol, não há provas de que a posição dos astros no espaço influencie nossa vida tão diretamente quanto creem alguns. Assim como Sherlock Holmes obtinha resultados melhores do que a polícia oficial, é possível ao investidor individual superar a performance do mercado, com foco e disciplina. Exemplos não faltam.
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