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Tatiana Sadala
Tatiana Sadala

Boas práticas que nascem em cenários adversos

Na luta pela igualdade de gêneros no mundo corporativo, estamos vivendo um retrocesso com a pandemia; mas grandes bancos, fintechs e até o mercado financeiro seguem investindo em políticas para alçar as mulheres às mesmas condições dos homens.

Apenas dois anos após assumirem um posto como CFO, as mulheres conseguem gerar um aumento de 6% no lucro e de 8% no preço das ações das companhias para as quais trabalham. Este dado de 2019, publicado pelo S&P Global Market Intelligence, é emblemático ao mostrar como o mundo corporativo vinha, finalmente, se rendendo à capacidade e ao poder femininos. Com empresas menos machistas impulsionando as economias ao redor do mundo, uma pesquisa divulgada em 2015 pelo McKinsey Global Institute revelou que seria possível incrementar o PIB global em – nada menos – do que U$ 12 trilhões ao ano até 2025.

Tudo isso vinha evidenciando o impacto altamente positivo da maior participação feminina no mercado de trabalho, dando a entender até que a luta pela igualdade de gêneros iria avançar para um segundo round: o da inclusão efetiva das mulheres nos cargos de liderança. Mas 2020 chegou com o fantasma da pandemia e as evidências positivas das conquistas obtidas pelas mulheres – que já passávamos a nos acostumar a ler na mídia e nas redes sociais – foram substituídas, num piscar de olhos, por manchetes com um quadro bastante sombrio, o de que, com o isolamento, o patamar a que o mundo chegou na questão da igualdade de gêneros retrocederia décadas.

Segundo o McKinsey, os empregos das mulheres, em todo o mundo, estão 1,8 vezes mais vulneráveis à atual crise sanitária do que os dos homens. O trabalho feminino representa 39% do emprego global, mas respondeu por 54% das perdas gerais de empregos em maio do ano passado, de acordo com o relatório. No Brasil, entre o quarto trimestre de 2019 e o mesmo período do ano passado, 6,6 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho, enquanto no caso dos homens, o número foi de 4,2 milhões. Os dados são da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

Este é o espectro funesto que paira sobre 2021, um ano que termina acenando com a perspectiva de retrocesso da crise sanitária, mas que chega ao fim com um balanço negativo do ponto de vista da escalada feminina no mercado de trabalho.

A boa notícia é que, apesar do quadro reverso gerado pela pandemia, no mercado financeiro grandes bancos, fintechs e até as bolsas de investimentos estão levando adiante suas políticas de diversidade e inclusão e aperfeiçoando programas cujo objetivo é alçar um número maior de mulheres e outros representantes de grupos minorizados a cargos de liderança.

O Itaú (ITUB4), por exemplo, realizou, no ano passado, múltiplas rodas de conversas e capacitações remotas voltadas para a temática de gênero, ampliou o diálogo com os homens e iniciou um programa de mentoria para liderança feminina. As iniciativas contaram com a participação de mais de 10 mil colaboradores.

Um dos bancos digitais mais fortes no Brasil – e presidido por uma mulher – o Nubank (NUBR33) tem como compromisso ter 50% de líderes mulheres até, no máximo, 2025. Em março deste ano – pleno auge da pandemia -, a fintech anunciou publicamente o objetivo de contratar 3.300 mulheres nos próximos 5 anos.

Formado majoritariamente por homens, o mercado financeiro pouco tentava se comunicar para incluir mulheres até pouco tempo atrás, seja como profissionais, seja como clientes. Agora, plataformas de investimentos começam a organizar encontros de mulheres investidoras e temos visto nascer empresas no mercado financeiro especializadas em atender o público feminino. Entre elas, a Ella’s Investimentos, primeiro escritório de investimentos da XP focado em mulheres e LGBTQIA+, e o ElasBank, banco digital com foco em mulheres.

A XP, inclusive, também firmou o compromisso público de preencher seu quadro de colaboradores com pelo menos 50% de mulheres, em todos os níveis hierárquicos, nos próximos quatro anos. Já nos Estados Unidos, a Nasdaq apresentou, um ano atrás, uma autorização à SEC – Comissão de Valores Mobiliários americana – para instaurar uma regra de diversidade. A proposta é que as mais de 3 mil empresas listadas tenham pelo menos uma mulher e um representante de grupo minorizado no conselho.

Este movimento é um sinal – importante – de que é possível, com a boa vontade das corporações, vencer o retrocesso que a pandemia provocou no caminho rumo à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. E, nesse sentido, o mercado financeiro vem mostrando que está antenado com a realidade, evidenciada pelos institutos de pesquisa, de que, para uma economia global crescente, é fundamental a participação efetiva da força feminina.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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