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Rodrigo Sodré
Rodrigo Sodré

No meio da retomada tinha uma guerra

Depois de dois anos de pandemia, marcados pelo fechamento de empresas e postos de trabalho, desequilíbrios nas cadeias globais de suprimentos e inflação recorde em diversos países, havia certa esperança de que, neste ano, atacaríamos “apenas” problemas já conhecidos. Com o avanço da vacinação e a queda de casos e mortes por Covid-19, o horizonte parecia favorável a uma estabilização da realidade e à retomada de certa normalidade, porém faltou combinar com os russos.

No Brasil, com os preços em alta, o Copom elevou a taxa Selic em 1,5 ponto percentual na reunião de fevereiro, chegando a 10,75% – sem, contudo, sinalizar a tendência para os próximos reajustes. No entanto, havia a percepção no mercado de que o IPCA finalmente cederia ao longo do ano. Enquanto isso, nos Estados Unidos, apesar da inflação mais alta em quatro décadas, o mercado de trabalho anda aquecido, e ambos os fatores apontam para uma alta dos juros por lá.

O que o Banco Central, o Fed e todas as autoridades monetárias do mundo não imaginavam era que estourasse uma guerra, de forma praticamente inesperada, envolvendo dois dos maiores exportadores de petróleo, gás, trigo e milho. O petróleo já havia alcançado máximas históricas no último mês devido a fenômenos climáticos e outros fatores que reduziram a oferta global. Foi nesse cenário que o mundo praticamente se viu sem o seu terceiro maior produtor, a Rússia, que enfrenta sanções econômicas impostas por diversos países.

O receio de um impacto muito forte na oferta está gerando uma disparada nos preços das commodities, o que, por sua vez, contribui para o aumento da inflação em escala planetária – algo que já era uma pedra no sapato de diferentes nações, lembre-se. Os desarranjos provocados pelo conflito na Ucrânia também podem minar investimentos e reduzir o crescimento da economia, formando uma situação de “estagflação” a nível global.

Por outro lado, a alta das commodities beneficia grandes exportadores, principalmente os situados longe da guerra, como o Brasil, ao menos no curto prazo. Assim, com os preços dos produtos em alta, o governo tende a arrecadar mais impostos e melhorar sua saúde fiscal. Entretanto, se os embates no Leste Europeu seguirem por muito tempo, é possível que surja uma onda de aversão ao risco, com migração do capital internacional para mercados tidos como mais seguros – algo semelhante aos efeitos da alta de juros nos Estados Unidos e que também prejudicaria o câmbio de países emergentes.

Esse é, aliás, o fator que merece mais atenção dos investidores nas próximas semanas e meses, assim como a vigência das pesadas sanções econômicas contra a Rússia. Em caso de uma indesejável escalada do conflito, não há o que se prever. Mas caso a guerra se encerre, os bancos centrais poderão traçar um horizonte mais definido para a elevação das taxas de juros, tendo como alvo a inflação que deve continuar a subir.

Que a paz prevaleça também nos mercados mundiais.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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