Desaquecimento na China e o temor com Evergrande
O crescimento chinês já vinha no radar do mercado desde o segundo trimestre deste ano. Os recorrentes dados de vendas no varejo e produção industrial abaixo das expectativas sinalizaram cautela aos investidores.
As políticas governamentais intervencionistas em diversos setores também foram manchete, com impactos que atingem desde o setor de educação até o siderúrgico.
Com pautas que variam entre o controle da internet, a preocupação ambiental e o controle da inflação, os últimos meses foram turbulentos por lá e a volatilidade se espalhou pelo resto do mundo, em especial no Brasil, resultando na vertiginosa queda no preço do minério de ferro.
Não bastasse o cenário acima comentado, as últimas semanas serviram para nos alertar para outro risco, o de crédito dos grandes conglomerados chineses.
Motivados por um período de prosperidade e pela sofisticação do mercado de crédito local, empresas chinesas atingiram elevadas taxas de crescimento e alavancagem, em um movimento simbiótico que pouco preocupava investidores internacionais até que o Evergrande Real Estate Group, um dos maiores incorporadores imobiliários do país asiático, passou a gerar notícias preocupantes na mídia.
Para entender o ocorrido, novamente chegamos às políticas estatais. Cientes do elevado nível de endividamento das empresas locais e com o fantasma da crise no setor imobiliário americano em 2008 nos Estados Unidos, a diretriz governamental foi na direção de redução do nível de endividamento no setor, medida que vem sendo implementada.
Ainda, após o forte estímulo creditício dado na primeira metade do ano passado, com vistas a retomar a economia durante a pandemia, o volume de crédito foi reduzindo em 2021, o que acelerou o problema das empresas alavancadas.
Mesmo a qualidade das informações que chegam da China não sendo de boa qualidade, tudo indica que o contágio será limitado. O governo do Xi tende a injetar recursos na economia, aumentando a liquidez, a fim de evitar que outras empresas do setor da construção civil chinesa sofram dificuldades.
Importante notar que em 2022 teremos dois eventos importantes — as Olimpíadas de Inverno e o processo de recondução do Presidente Xi Jinping, o que nos faz imaginar que uma crise será evitada a todo custo.
Importante destacar também, que diferentemente do setor bancário, que atua de forma alavancada e com diversos instrumentos derivativos, o setor imobiliário tem menor capacidade de gerar um efeito cascata.
A queda do preço das commodities, pode contribuir positivamente para a queda da inflação mundial, em especial a do Brasil, já sentida em alguns preços agrícolas e com maior intensidade no preço do minério.
Apesar da dependência do Brasil com a China através do comércio internacional, o que sugere impactar nosso PIB, podemos ter como benefício o alívio inflacionário corrigindo as expectativas dos juros para baixo.
Vale destacar que a curva de juros sofre influência de outros fatores, principalmente o risco fiscal. Mesmo assim, a sinalização de uma inflação dentro da meta para o ciclo 2022/23 seria muito bem recebida pelo mercado.
Com a inflação no Brasil, que pode ser impactada por diversos fatores temporários, como os que prejudicam a produção no caso da falta de componentes e dos preços de commodities, já comentados acima, as projeções para o fim do ciclo de alta na taxa Selic encontram-se entre 8% e 9,50%.
Diante desse cenário, a renda fixa volta a ser destaque na carteira dos investidores, em especial os fundos de crédito, que voltaram a receber bom volume de captação e que apresentam uma taxa de carrego interessante.
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