Novas soluções financeiras tecnológicas aproximam as médias empresas do mercado de capitais
Nos últimos anos, temos visto as infraestruturas de mercado financeiro se expandindo, entrando em áreas de pré e pós-trading. Novos produtos, ancorados em tecnologia, têm levado credibilidade dos serviços regulados de seus criadores para os não-regulados, mostrando na prática que a barreira de distribuição é pequena e o caminho das parcerias é viável.
Exemplos desse movimento lá fora não faltam, como a Chicago Mercantile Exchange (CME) que criou uma joint venture com a IHS-Markit. Neste caso, há uma relação intrínseca com empresas que operam commodities, pois consomem informações da IHS de preços por praça, lidando com o mundo físico, e fazem seus hedges na CME, fixando suas posições em contratos futuros. A Markit (que se fundiu com a IHS há alguns anos) oferece, dentre outros, serviços de controle de margem, posição e riscos para operações de bolsa, como os contratos da CME, e assim fecha-se o ciclo.
Podemos citar outro exemplo lá de fora também, a London Stock Exchange (LSE), que há alguns anos adquiriu a Refinitiv (antigo braço de sistemas de risco da Thomson Reuters) numa transação de US$ 27 bilhões, uma aposta e tanto para chamarmos isso de incipiente. O racional é o mesmo de CME & IHS-Markit para o pós-trading, no qual os clientes que operam ações e futuros na LSE podem se beneficiar da integração dos sistemas de gestão de riscos e posições da Refinitiv com a própria bolsa. Há eficiências operacionais e de capital, que ao final, resultam em um controle mais ágil e preciso das posições e margens.
Voltando ao cenário brasileiro, temos dois exemplos, sendo o mais recente deles o movimento estratégico feito pela B3 (B3SA3) ao entrar no capital da Totvs Financial Services, que após o spin-off passou a se chamar Dimensa. Em sua base de clientes estão os principais custodiantes do país, com o maior volume, o que leva a crer que a B3 pretende gerar valor nesta nova empresa à medida que integra suas soluções de trading, clearing e depositária com os sistemas que seus clientes usam no back-office. Temos ainda o case da Laqus (ex-Mark 2 Market), que já atuava como provedora de tecnologia para tesourarias corporativas e, a partir de sua autorização como depositária, expande a oferta para levar ao tesoureiro a possibilidade de acessar o mercado de capitais.
Todos esses movimentos estão dentro do que chamamos de financial deepening, ou aprofundamento financeiro, que é a inserção de cada vez mais pessoas, físicas e jurídicas, no mercado, seja capacitando-as, seja trazendo à sua atenção os benefícios e oportunidades que o mercado apresenta e que antes só eram possíveis de aproveitamento por quem tinha maior capital e/ou conhecimento, além de ferramentas para isso.
Olhando para a economia real, é notório o quanto as empresas podem se beneficiar de uma experiência mais simples, principalmente aquelas de médio porte. Uma redução de prazo para que uma emissão de debênture, CRI ou CRA seja concluída é um dos principais pontos de fricção hoje em dia, mas sem prejuízo do custo financeiro com que as empresas arcam ao não saberem ao certo quanto custa o dinheiro. A variedade de indexadores, prazos e instrumentos torna complexa essa avaliação e, no dia a dia, acaba sendo mais palpável apertar o fornecedor do que negociar com o banco, só que é justamente aqui que está a oportunidade.
À medida que as empresas de infraestrutura de mercado financeiro avancem em seu escopo de atuação, para fases antes e depois dos serviços que hoje fornecem, teremos um mercado mais educado e capaz de capturar esta eficiência, seja ela de prazo ou custo beneficiando o fluxo de caixa das empresas, gerando mais empregos, renda e investimentos.
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