Ícone do site Suno Notícias
Ricardo Propheta
Ricardo Propheta

Um ‘porto’ seguro de investimento em meio à crise

Inúmeros são os gargalos do Brasil na área da infraestrutura. Essa constatação, que já parece caducada, se renova a cada novo diagnóstico. Uma das análises mais recentes mostra que em 2020 a pandemia enxugou os aportes na área de R$ 122,4 bilhões para R$ 115,8 bilhões — uma fatia proporcional a 1,55% do Produto Interno Bruto (PIB), diz relatório da consultora Pezco Economics.

Para alcançar um patamar de competitividade considerado adequado, o nível de investimentos em infraestrutura no país teria que — nada mais, nada menos — dobrar. O alvo a ser percorrido é um montante de R$ 339 bilhões em aportes anuais, aponta relatório. Isso faria com a infraestutura brasileira figurasse entre as 20 melhores do mundo.

A grande responsabilidade para a reversão desse quadro é, evidentemente, do setor público, que há anos investe proporcionalmente um montante menor no setor do que outros países em desenvolvimento. Mas ao investidor pessoa física que tem interesse em catalisar esse processo, há algumas alternativas, como as debêntures (ou títulos de dívida) de infraestrutura e os fundos de investimento em participação em infraestrutura (FIPs-IE). Durante a pandemia, a resiliência do setor foi colocada à prova, com um choque global na cadeia de produção de bens e distribuição. Uma de suas modalidades, a de portos, evidenciou forte resiliência.

A logística de transporte internacional de cargas, que já era extremamente precisa, se tornou ainda mais ao longo da pandemia. Frotas têm um planejamento exato de atracação ao longo de sua rota, o que permite grande confiabilidade para as cadeias produtivas — uma característica essencial, que se tornou um diferencial ao longo da pandemia. Ao mesmo tempo, navios cada vez maiores passaram a reduzir significativamente o custo de transporte, com impacto direto na formação da matriz de custos e de preços dos produtos finais.

Eventos como a pandemia levaram muitas unidades fabris a interromper suas atividades e, portanto, sua logística. Acidentes como o encalhe do Ever Given, no canal de Suez, lançaram luz sobre a estrutura portuária mundial, colocando em evidência a enorme vantagem competitiva dos portos mais modernos e ágeis, estruturados para receber os novos tipos de embarcação e o volume significativamente maior de cargas, especialmente os portos de contêineres.

A aparente sobrecarga que a pandemia provocou nos terminais marítimos mundiais mascara, na verdade, um aumento do volume de cargas transportadas que já vem ocorrendo desde antes da crise sanitária. Dados da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) indicam que a demanda mundial por transporte marítimo de contêineres triplicou entre 2000 e 2018 e vem mantendo uma média de crescimento de 6,4% ao ano desde então.

No Porto Itapoá (SC), por exemplo, a queda de movimentação registrada no primeiro semestre de 2020, por causa da pandemia, foi rapidamente recuperada e de outubro a dezembro registrou crescimento de 10% em relação ao último trimestre de 2019. Itapoá, que começou a operar em 2011 e já é o quinto maior porto do Brasil, tem um calado natural de 16 metros que comporta expansão com vistas a atender a frota futura.

A pandemia é circunstancial. A recuperação econômica mundial – e com ela a brasileira — é fato e tende a se acelerar para fazer frente à demanda refreada durante a crise atual, o que deve abrir um leque de possibilidades ao investidor. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) indicam que, no Brasil, os portos organizados, terminais autorizados e arrendados movimentaram 591,9 milhões de toneladas no primeiro semestre do ano, um aumento total de 9,4% em relação a igual período de 2020.

Hoje, segundo a Antaq, os contêineres respondem por 11% da carga total movimentada nos portos brasileiros. A previsão da agência para o segundo semestre de 2021 é de movimentação de 626 milhões de toneladas de carga pelos portos, totalizando 1,218 bilhão de toneladas no ano, um crescimento de 5,5% em comparação com 2020.

Trata-se de um caminho sem volta, em que a vantagem competitiva está na qualidade dos serviços fornecidos, com a aposta em equipes cada vez mais qualificadas em seus segmentos, como operação, redução de risco, compliance e governança. Quanto mais modernos, competitivos e sintonizados às demandas atuais, melhor preparados estarão para se tornarem alvo de investimentos — de governos, empresas e investidores comuns.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Sair da versão mobile