Ricardo Propheta

Precisamos falar sobre as cotas dos fundos de infraestrutura

Desconto nos FIPs-IE, como são chamados os fundos de projetos no setor, abrem janela de oportunidades. A pergunta que fica é: até quando?

Quando pensamos em ativos de infraestrutura mundo afora, pensamos em retornos muito baixos e fluxos estáveis no decorrer do tempo. No Brasil, como temos um déficit generalizado e estrutural na área, conseguimos uma rentabilidade muito mais elevada — mesmo sob condições normais de temperatura e pressão no mercado.

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Os gargalos que o Brasil enfrenta na área de infraestrutura representam, portanto, desafios e oportunidades. Desafios porque são diversos os entraves em todos os modais: portos, aeroportos, ferrovias e rodovias. E oportunidades porque para cada dificuldade há uma possibilidade de superá-la, inclusive via investimentos. Os chamados Fundos de Investimentos em Participações de Infraestrutura, também conhecidos como FIPs-IE abrem um leque de possibilidades ao investidor. E o momento é bastante oportuno para considerá-los no portfólio. Eles tiveram taxas de juros reduzidas no fim de 2019 e atraíram a atenção de parte do mercado.

Mas, ao longo da pandemia, vimos um efeito, no mínimo, curioso: uma saída considerável de investidores desta classe de ativos, o que aumentou o desconto de cotas. Em fundos de alta qualidade, com ativos estáveis e com ótimas taxas internas de retorno, temos visto descontos da ordem de 30%, chegando a mais de 40%. Conclusão: a janela de oportunidades está aberta para ter fundos que trazem benefício fiscal às pessoas físicas interessadas em contribuir com projetos de infraestrutura. Algumas perguntas ficam no meio do caminho: até quando? E por que isso aconteceu?

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A primeira pergunta não tem resposta simples. Tudo depende ‘se’ e do momento em que os investidores reavaliem suas decisões, a ponto de influenciar o fluxo de mercado. Para a segunda pergunta, há algumas hipóteses. Um dos principais motivos é a corrida de parte dos brasileiros de ativos de renda variável para renda fixa, sobretudo títulos públicos. Para quem está focado nos curto e médio prazos, a mudança até faz sentido. A mesma lógica não se aplica a quem prioriza o longo prazo.

A distorção atual é que os FIPs-IE, que também são relativamente seguros, estão sendo tratados como de maior risco, sem motivo ou racional estratégico aparente. Na prática, há pessoas saindo desses ativos de pouco risco para outros de risco ainda menor, perdendo dinheiro nessa troca, que remete a um investidor de perfil conservador ao quadrado e sem estratégia.

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Falta entendimento do que são os FIPs-IE, suas características, estrutura, função e objetivo. Trata-se, no geral, de um produto novo, com pouca compreensão. Além de uma falta de engajamento de assessores de fazerem uma avaliação de risco profunda, sobretudo em relação a outros ativos, como dívidas de empresa. É certo que em ativos de dívida o fluxo a receber é mais claro e previsível. Essa visibilidade não ocorre com os FIPs-IE, mas a potencial rentabilidade, sobretudo no longo prazo, é significativamente maior.

Outro ponto fundamental: há uma confusão grande entre o dividend yeld, ou quantidade de dividendos, que os FIPs-IE pagam com o conceito de taxa interna de retorno. Num FIP-IE, como os projetos demandam investimentos constantes e de maior prazo, eles costumam ter uma quantidade reduzida de dividendos de curto prazo, o que implica em menos dinheiro em caixa no tempo presente. Mas, ao investidor que foca no longo prazo, com vistas à rentabilidade de carteira, muito menos importa a quantidade de dividendos, e mais a taxa interna de retorno

Esta deveria ser a prioridade: a balança entre tudo que o investidor aplicou em relação a tudo que ele recebeu no fim da jornada. Exemplo hipotético: ninguém investe em ações de uma empresa ‘x’, pensando prioritariamente nos dividendos que ela pagará no mês seguinte. O que importa é valorização final do papel, depois de um determinado período.

À disposição do investidor, há FIPs-IE que pagam taxas internas de retorno substanciais, alguns de mais de 20%, isentos de tributação, tanto em distribuição, como em ganhos de capital. Alguns exemplos: PEFIN11, VIGT11, XPINFRA II e o BRZP11. Mais informação de qualidade no mercado financeiro e uma maior proximidade entre investidores e gestores dariam luz a esse fenômeno e ajudariam a resolver a atual desarbitragem. Já vimos esse movimento acontecer com os fundos imobiliários e uma normalização deve ocorrer ao longo dos próximos anos.

É preciso ter mais clareza do risco e retorno que se corre ao ter fundos de infraestrutura na carteira. A verdade, inconveniente para alguns, mas que precisa ser dita, é que são mais seguros e rentáveis no longo prazo — e o investidor precisa saber disso.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Ricardo Propheta
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