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Ricardo Propheta
Ricardo Propheta

O ‘novo normal’ na dinâmica do frete marítimo de contêineres

Um dos efeitos colaterais da pandemia foi um desarranjo completo da logística global. Regiões portuárias na China, Europa e Estados Unidos sofreram com prolongados lockdowns, e outras, incluindo o Brasil, enfrentaram escassez de mão de obra em diversos modais. O caos na cadeia de suprimentos multiplicou por dez o preço para a movimentação de contêineres entre Brasil e China, resultado também de uma paralisação de parte dos navios. A melhora contínua do cenário epidemiológico trouxe alívio e ajudou a normalizar a dinâmica do transporte de cargas no mundo. Mas o reflexo disso no preço do frete é gradual, e o cenário macroeconômico e político, interno e externo, configuram um ‘novo normal’ na dinâmica do frete marítimo de contêineres.

Não há reação instantânea no mercado. Atualmente, o preço do frete Brasil-China está em cerca de oito vezes os patamares pré-pandemia e deve cair para entre três a cinco vezes ao longo do ano que vem, a depender do desenrolar de diversos fatores de ordem geopolítica, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, e econômica, como o ritmo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, que modulará o quão aquecida ficará a maior economia do mundo. Atualmente, o valor para um trajeto de um contêiner grande, de 40 pés, gira em torno de US$ 10 mil nas principais rotas globais, que incluem o trajeto entre Estados Unidos e China e China e Brasil, segundo dados da CNI.

Na percepção dos participantes deste mercado, é muito improvável que aconteça, neste ano, uma queda significativa nos valores do frete, também por fatores domésticos, como o horizonte eleitoral, que gera incertezas, e dúvidas sobre a saúde fiscal do país — outra fonte de instabilidade, quase permanente, quando pensamos em disposição para investimentos em infraestrutura.

Na Europa, um agravante adicional é a pressão causada pela inflação, que motiva greves por reajustes, e, por sua vez, diminui a capacidade disponível de regiões portuárias. No mundo os preços de combustíveis também subiram a patamares maiores aos do período pré-pandemia, o que reforça a projeção estabilidade, em 2022, para a movimentação de contêineres. O fantasma da estagflação assombra economias mais desenvolvidas e é monitorado com lupa por investidores.

Ainda que o horizonte de curto prazo seja desafiador, há de se considerar que o pior da crise logística já passou. Lockdowns diminuíram significativamente e a disponibilidade de mão de obra aumentou. Navios, outrora parados, estão se reinserindo à frota de embarcações para o frete de contêineres e cresceu a demanda por embarcações. Novos contêineres foram disponibilizados e há mais pedidos por navios pequenos, dentro da categoria grande porte — flexíveis a operar em diversos portos. Este cenário lança boas expectativas para o ano que vem, já que também motiva o desenvolvimento de novas infraestruturas portuárias e sobretudo retroportuárias — com novos galpões, armazéns, e estruturas terrestres.

Desenvolver estruturas portuárias já operacionais — como Itapoá, Suape e Santos — é mais viável, por duas principais razões: a magnitude dos investimentos demandados é menor, assim como a burocracia para a obtenção de licenças ambientais e operacionais. Em paralelo, a preocupação com o aumento da eficiência, com mais tecnologia, novos equipamentos e sistemas, deve ajudar, no médio prazo, a aliviar o preço no frete. O foco atual é no aumento da capacidade do sistema, fidelização de clientes e melhora da qualidade do serviço.

Sinais de trégua na crise já estão na mira do mercado: na rota entre Brasil e Ásia, a expectativa era de que a capacidade nominal do comércio marítimo, que soma importação e exportação, atingisse, em agosto, o maior nível desde o começo de 2021, segundo a consultoria Solve Shipping.

Aos investidores, essa dinâmica é muito bem-vinda. Investimentos em portos e áreas retroportuárias fomentam a oferta de produtos no mercado financeiro, a taxas atrativas. Algumas opções são ações de companhias de empresas de logística, títulos de dívida, CRIs e fundos. A área de infraestutura é dinâmica e o atual momento, de estímulo a melhorias, abre um leque de possibilidades de ativos com rentabilidades significativas, sobretudo para quem tem vistas ao longo prazo. A orientação para ser bem-sucedido na escolha do ativo é geral e vale para estes casos: é preciso analisar a fundo as companhias e projetos envolvidos. Essa é a melhor forma para o investidor embarcar nas oportunidades geradas por este novo momento, que deve se estabilizar ao longo do tempo

Nota

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