Ricardo Propheta

ESG e gestão: caminhos para além da retórica

É preciso extrapolar o discurso para que, na prática, valores sustentáveis sejam aplicados no dia a dia da indústria de fundos

Nunca se falou tanto em ESG no mundo das finanças. A sigla para Environmental, Social and Governance, que é traduzida como Ambiental, Social e Governança, se popularizou no debate público nos últimos dois anos. É excelente o protagonismo dado à incorporação nos negócios de práticas de responsabilidade social e ambiental. Mas também faz parte do amadurecimento dessa discussão o encaminhamento de ações práticas e efetivas, para além da retórica midiática. Essa lógica também deve ser aplicada às práticas de gestão de recursos. Para isso, é importante percorrer alguns caminhos.

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No dia a dia de uma gestora, diversas são as decisões tomadas, e o filtro da responsabilidade social e ambiental tem de ser permanente. A busca pela coerência entre valores que são pregados nas esferas pessoal e institucional também passa pela seleção de investimentos. Essas escolhas são menos visíveis do que ações de publicidade ou posicionamentos públicos individuais, mas são tão ou mais relevantes do ponto de vista dos impactos causados na engrenagem financeira.

Na matriz de seleção de ativos, a famosa equação financeira de risco-retorno não é mais suficiente. Não é só considerar que quanto maior o risco, também maior potencialmente o retorno. Essa máxima precisa incorporar os impactos socioambientais dos projetos das empresas que são financiadas.

Para além de gestores, os investidores também são corresponsáveis. Foi-se o tempo em que o financiamento de grandes projetos ficava a cargo de poucos e seletos bolsos — de grandes companhias e governos. Hoje em dia, cada pessoa física é um investidor possível. A responsabilidade por escolher fundos e outros ativos que privilegiem empresas sócio e ambientalmente responsáveis é, portanto, de todos. Exemplo hipotético: se você é contra determinada indústria que gera um impacto ambiental negativo, por que teria ações ou aportaria em um fundo, que investe nessas mesmas companhias? É preciso alinhar valores pessoais às decisões financeiras.

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Práticas e valores ESG

Práticas e valores ESG sempre tiveram importância, mas ganharam maior notoriedade nos últimos anos, também pela maior facilidade e transparência da indústria de comunicação. Ninguém pode se dar ao luxo de alienar-se com o que acontece nas esquinas ou periferias de suas próprias cidades, ou mesmo em outros países. Em um mundo globalizado, todos somos agentes de mudança. Temos mais acesso à informação e também somos mais conscientes dos impactos ambientais que sofremos com as mudanças climáticas, como extinções em larga escala de muitas espécies, para citar só um exemplo.

Outra questão estrutural é o alcance e impacto que o capital financeiro tem na vida das pessoas. Inovações e tecnologias, que recebem grandes aportes de investimentos, provocam disrupções cotidianas em indústrias tradicionais, ora para o bem, ora para o mal. Independentemente disso, o fato é: o poder do capital associado à tecnologia é muito maior nos dias de hoje. Por isso, deve ser redobrado o cuidado e o compromisso social de pensar: para onde está indo o dinheiro? E, mais especificamente, para onde está indo o seu dinheiro?

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Ao investidor consciente desse cenário, as recomendações são as clássicas. Quanto mais acesso a informações sobre a gestora, melhor. Isso inclui entender o perfil, histórico da instituição e das pessoas, e o nível de transparência oferecido na seleção de investimentos. Do lado das gestoras, pode-se optar desde filantropia, diretamente, até o investimento em ativos com filtros ESG rigorosos. No meio dessa jornada, há centenas de tons de cinza e o trabalho não é o de, necessariamente, escolher o investimento mais “verde”. Mas dar retorno financeiro aos investidores, tendo em conta variáveis de risco socioambientais.

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Com tantas opções no mercado atualmente, é possível, perfeitamente, equilibrar esses dois pratos. Há uma vasta literatura que comprova a complementaridade das esferas financeira e ESG. E hoje dimensionamos este mercado muito mais do que num passado recente. Até 2025, a estimativa é a de que investimentos sustentáveis movimentem até US$ 50 trilhões globalmente, segundo a Bloomberg. O montante representa um terço da projeção de ativos sob gestão no mundo todo.

Como é um tema amplo, e sem solução fácil ou única, o caminho fica livre para agentes desinformados ou mesmo mal-intencionados. Por isso, é importante olhar com lupa para identificar quem está comprometido com causas ESG, de fato, e quem não transcende o discurso. Para todos, o desafio atual é o de pensar a sustentabilidade ambiental associada à econômica. A indústria precisa apostar em ideias e projetos que sejam sustentáveis do ponto de vista social, ambiental e também financeiro — este é o tripé ideal. Gestores e investidores, pessoa física e jurídica, são aliados nesse processo de transformação. Engajados, venceremos!

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Nota

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Ricardo Propheta

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