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Ricardo Brasil
Copom: próximos passos da Selic. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Banco Central: Copom e a taxa Selic. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

É provável que o Banco Central não reduza os juros em agosto

A expectativa em torno da queda da taxa de juros no Brasil em agosto tem gerado muitas discussões e incertezas. Embora a maior parte do mercado acredite que a redução seja iminente e que venha na próxima reunião de agosto, acredito que há sim uma possibilidade de o Banco Central optar por não cortar os juros na próxima reunião.

A última ata do Copom até trouxe pela primeira vez, após toda essa sequência de altas, alguma alusão a uma possível queda em agosto. No parágrafo 19 da ata divulgada uma semana após a reunião, no dia 27 de junho, o comitê afirma que “pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”. Mas que outra parte do comitê acredita que é “necessário observar maior reancoragem das expectativas longas e acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo” antes de decidir pela queda de juros.

De fato, eu entendo essa postura mais cautelosa do Banco Central. Isso porque, caso o comitê decida realizar a redução da taxa de juros em agosto, é essencial que esse processo seja mantido e siga uma trajetória de queda contínua. Interromper esse ciclo de cortes pode gerar incertezas e desconfiança nos mercados, prejudicando a eficácia das políticas monetárias adotadas até o momento.

Se por acaso optarem por baixar juros na próxima reunião e na sequência, por exemplo, resolverem manter ou até subir, o mercado tende a ver essa movimentação de forma bem negativa. Essa disparidade enviará uma mensagem ruim, sinalizando uma falta de direção ou clareza nas políticas adotadas pelo Banco Central. É por isso que vemos essa “demora” na tomada de decisão em relação à queda de juros no Brasil.

Na minha visão, o principal fator que pesa para que a gente não tenha essa redução em agosto é o cenário de incerteza global. Por mais que o Brasil tenha começado antes o início da alta de juros por aqui, não é uma decisão fácil optar pela queda em um momento em que diversos países mantém ou sobem juros. Nos EUA, membros do Fed já comentaram que irão optar por uma nova alta por lá. Com isso, você acha que o investidor vai preferir investir onde? No Brasil, país emergente, oferecendo 13,75%a.a. ou nos EUA, a 5,5%a.a., ou, quem sabe, até 6%a.a. (dependendo se terão altas futuras). A saída do dinheiro do Brasil para investir em outras economias enfraquece o nosso real e, com certeza, é um dos fatores que mais pesa para o Banco Central.

A ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve, nos EUA, deixou bem claro que a maioria dos participantes acredita em novos aumentos nas taxas, além de enxergarem a possibilidade de uma leve recessão entre o final deste ano e o início de 2024. Ou seja, não há ainda uma possibilidade de queda tão cedo.

Além disso, recentemente, testemunhamos aumentos nas taxas de juros em economias como Austrália, Canadá e no Banco Central Europeu, indicando uma tendência de crescimento das taxas ao redor do mundo. Nesse contexto, considerando que os Estados Unidos, uma das principais economias globais, ainda aumentem a taxa, é improvável que o Brasil se arrisque a reduzir seus juros enquanto outros países seguem na direção contrária.

Por isso, essa queda da taxa de juros no Brasil em agosto dependerá de uma avaliação cuidadosa de fatores internos e externos. A pressão do mercado internacional, com o aumento das taxas em diversos países e a importância de manter um ciclo de corte de juros consistente são elementos cruciais a serem considerados. Embora exista a possibilidade de uma redução em agosto, é fundamental garantir que esse movimento esteja alinhado com o panorama econômico global e que haja um plano claro para a continuidade do ciclo de cortes, caso seja iniciado.

Nota

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