Rafael Rios

Como ter renda passiva consistente no atual ambiente de aversão ao risco?

O investimento direto em projetos promissores da economia real pode ser uma excelente forma de diversificação de renda e construção de patrimônio no longo prazo

Dez entre dez investidores com quem converso diariamente afirmam ter o desejo de diversificar suas fontes de renda passiva com pagamentos recorrentes na sua conta bancária, sem sofrer com o sobe e desce constante da bolsa de valores ou os prazos alongados dos títulos tradicionais da renda fixa.

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Sem dúvida, se nos ativermos às opções tradicionais de investimento, conseguir “fazer o dinheiro trabalhar” dessa forma é muito difícil, para não dizer impossível.

Mesmo com os preços descontados das ações brasileiras em relação aos seus pares internacionais, o retorno com dividendos não parece ser muito atraente diante da inflação, especialmente para quem deseja ter uma fonte complementar de recursos com periodicidade mensal, por exemplo.

Da mesma forma, títulos de dívida pública e privada, quando não apresentam baixa liquidez, sofrem com a forte marcação a mercado e com a reduzida rentabilidade real.

Com isso, é muito recorrente ouvir a seguinte pergunta, principalmente de quem está começando agora a sofisticar um pouco mais seu portfólio: como eu posso ter uma fonte complementar de renda mensal através dos meus investimentos?

Felizmente, nos últimos anos, o mercado de capitais brasileiro tem recebido aprimoramentos importantes, no sentido de ampliar as fontes de financiamento de empresas inovadoras, mas que ainda estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento, razão pela qual enfrentam dificuldades para alavancar seus negócios com as linhas tradicionais de crédito.

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Ao mesmo tempo, viu-se a necessidade de oferecer ao pequeno investidor novas opções de alocação, de modo que pudesse diversificar melhor sua carteira com projetos diretamente ligados à economia real, capazes não só de gerar emprego e desenvolvimento nas regiões onde são executados, mas sobretudo de entregar retornos muito acima da média das outras classes de ativos.

Exemplo disso foi a regulamentação do crowdfunding, em 2017, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Essa inovadora modalidade de investimento permite que um grupo de pessoas una forças para colocar de pé projetos do seu interesse nos mais variados setores, como energia renovável, com a construção de usinas solares a serem alugadas para clientes corporativos, por exemplo, ou a compra e reforma de apartamentos de alto padrão em grandes centros urbanos para obter renda mensal com aluguéis das unidades.

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Todas as operações são estruturadas e executadas por empresas especializadas e com amplo histórico de realizações em seus respectivos segmentos. Essas empresas, com faturamento anual de até R$ 10 milhões, buscam investidores para os seus projetos em plataformas devidamente autorizadas pela CVM.

Cabe lembrar aqui algo importante: essas operações de investimento direto em empresas ou projetos da economia real eram restritas, até pouco tempo atrás, apenas a investidores institucionais ou com grande patrimônio investido, em razão das suas características de risco e liquidez.

Quem imaginou que um dia o pequeno investidor brasileiro poderia investir em empresas de tecnologia altamente inovadoras e com grande potencial de crescimento, podendo compartilhar dos seus resultados, com pagamentos recorrentes na sua conta bancária?

Esse tipo de operação costumava estar restrita a fundos estruturados de e venture capital, longe da realidade do investidor comum. Apesar de ser muito comum em economias avançadas, como EUA, Europa e Japão, por aqui, havia o empecilho regulatório que só foi devidamente sanado com a publicação da instrução normativa 588 da CVM, permitindo a entrada de investidores comuns.

Além das operações de equity, em que os investidores se tornam sócios dos empreendimentos, também há as operações de crédito privado, em que os participantes das captações literalmente viram “banqueiros” e oferecem empréstimos para empresas previamente selecionadas.

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Evidentemente, como em qualquer investimento, existem riscos. No caso das operações de participação societária, o risco do projeto é o de performance, isto é, a capacidade da empresa de entregar os resultados prometidos. Daí a importância de se analisar com bastante critério o histórico de realizações dos empreendedores e sua capacidade de execução.

De outro lado, nas operações de dívida, em que os investidores entram com o capital para financiar certa atividade empresarial, o risco é o de crédito, isto é, a capacidade do tomador em honrar com os pagamentos previstos, que costumam ter periodicidade mensal ou trimestral, após determinado período de carência.

As plataformas de crowdfunding, apesar de serem parte do Contrato de Investimento Coletivo, atuam selecionando os empreendedores que buscam capital, procurando reduzir as assimetrias de informação e verificando aspectos como:

  • viabilidade econômica do projeto;
  • adequação com as teses de investimento de cada plataforma;
  • idoneidade e histórico de realizações dos empreendedores;
  • checagem de possíveis restrições em nome dos sócios;
  • busca de garantias em caso de inadimplência;
  • intermediação do contato entre investidores e empreendedores.

Desde a sua regulamentação, o crowdfunding vem crescendo muito como forma de diversificação de fonte de renda passiva e construção de patrimônio no longo prazo, permitindo investir em negócios sólidos e inovadores, com grande potencial de retorno.

Entre as vantagens desse tipo de investimento está a estabilidade das suas distribuições de resultados, que podem variar conforme as condições de cada setor, mas são muito menos voláteis do que o investimento em bolsa de valores, por exemplo.

Além disso, os projetos estão lastreados em ativos reais, como bens de capital, cabeças de gado, garantias patrimoniais, etc., que são podem atuar como hedge inflacionário, especialmente no atual ambiente de mercado, em que as pressões de preço se fazem sentir em todas as partes do mundo, afetando os retornos das classes tradicionais de ativos.

Por óbvio, como dissemos, cada oportunidade envolve riscos particulares, que devem ser muito bem avaliados pelos investidores interessados, antes de fazer qualquer alocação. Aqui, na Bloxs, costumamos recomendar que a proporção ideal de alocação em projetos da economia real captados via crowdfunding varia de 20% a 30% do patrimônio de cada investidor. Com isso, é possível fazer uma gestão adequada do risco, especialmente quando os recursos são aplicados em diferentes segmentos com pouca correlação entre si.

Por isso, não deixe de estudar essa nova forma de investimento, sobretudo em um momento de grande aversão ao risco e volatilidade no mercado financeiro.

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Rafael Rios
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