Piter Carvalho

Será que o PIB virou Pibinho?

Daí o grande desafio do novo governo, fazer o país crescer e fazer isso de forma sustentável. Isso tudo enquanto a economia brasileira parece estar em mais um voo de galinha.

O PIB de 2022 fechou com alta de 2,9% equivalente a R$ 9,9 trilhões, menor crescimento entre os seus pares e abaixo do propagado pelo ex-ministro da economia Paulo Guedes. Só para efeito de comparação, crescemos menos que Arábia Saudita (8,7%), Turquia (5,6%), Moçambique (4,2%), Nigéria (3,1%), ficando na 35° posição no ranking de 54 países, principalmente pela queda do PIB no quarto trimestre de 0,2%, justificada por muitos estudiosos pelo efeito dos juros altos na economia.

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Olhando o resultado agregado anual, a surpresa vem com a queda da agricultura, que recuou no ano 1,7%, mas lembrando que foi um dos setores que mais cresceu em 2020 (ano da pandemia ) , quando teve alta de 4,2% e puxou a economia brasileira no momento tão difícil. O resultado ruim de 2022 se explica pela queda de 11,45% na produção da soja que sofreu o revés do clima em algumas regiões do Brasil. A surpresa pelo lado positivo é da alta do setor de serviços que subiu 4,2% e se beneficiou em 2022 com a reabertura total da economia e volta do novo “normal”. Olhando pelo lado da demanda havia um consumo reprimido no pós- pandemia, sendo assim, o consumo das famílias cresceu no período e puxou junto o setor de serviços, fechando 2022 com alta de 4,3%, depois de ter subido 3,7% em 2021 e desabado 4,6% no início da pandemia em 2020.

Indústria surpreendeu com alta de 1,6%, após bom crescimento de 4,8% em 2021 mostrando recuperação em relação ao ano de início da pandemia quando caiu 3% e teve que parar muitas fábricas assim como outros setores da economia. Porém as perspectivas não são boas para 2023, dado a dificuldade de financiar projetos com juros tão altos no mercado.

Quando olhamos apenas a janela do quarto trimestre a foto é oposta ao resultado anual, pois tem queda de 0,2%, com indústria caindo 0,3%, serviços mostrando leve alta de apenas 0,2% e agropecuária positiva em 0,3%.

O setor de serviços é o destaque de crescimento aqui e no mundo. No Brasil a alta da demanda puxada pela expansão fiscal (patrocinada pelo governo anterior a fim de se reeleger) trouxe crescimento artificial para nossa economia, gerou mais empregos, mas me preocupa até quando esses postos de trabalho (maioria informais) se mantém em meio a essa economia que parece ter a consistência de uma gelatina.

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Daí o grande desafio do novo governo, fazer o país crescer e fazer isso de forma sustentável. Isso tudo enquanto a economia brasileira parece estar em mais um voo de galinha, com PIB crescendo incríveis 5% em 2021 frente a uma base comparativa muito fraca do ano da pandemia, e já arrefecendo em 2022 com alta de apenas 2,9% e projeções pouco otimistas para 2023.

Dado que temos uma das maiores taxas de juros reais do mundo, não poderíamos esperar resultado diferente, pois juros altos não combinam com crescimento da economia. Esse cenário tão adverso é mais propenso a crises, como estamos vendo com o crédito mais caro e escasso e grandes empresas com dificuldade de se refinanciarem e cumprirem seus compromissos financeiros, é o caso de Americanas, Marisa, Tok&Stok, Light, Oi, companhias aéreas, etc.

Projeções otimistas do Focus colocam o PIB de 2023 com alta de 0,85% e casa de análise mais otimistas acreditam em alta de cerca de 1%. Os bons ventos podem vir com um pouso suave da economia americana, bom crescimento da economia chinesa (nosso principal parceiro comercial ao qual destinamos boa parte das nossas exportações) e fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Medidas locais também podem contribuir, como a reforma tributária que pode deixar a economia mais eficiente e menos burocrática, destravando assim muitos setores e dando maior previsibilidade para investimentos de longo prazo. Outra medida importante que pode marcar o início do novo governo é um arcabouço fiscal crível, que seja bem aceito pela sociedade e congresso nacional, transmitindo credibilidade e previsibilidade aos investidores.

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Nota

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