O mistério da poupança
Não deve ser da sua época, caro leitor, mas muitos dos que hoje têm cabelos grisalhos cantaram hinos da propaganda da poupança na televisão. Domingo à tarde era o jingle predileto do Domingão do Faustão. Tristeza minha foi abrir a poupança no concorrente, que nem tinha música chiclete que dominava a mente. Foi exatamente em um banco que nem existe mais… Assim como o tal Bamerindus da famosa música chiclete “o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa …”
O tempo passou e a poupança continua numa boa, realmente. Não gasta mais com propagandas, nem com artistas caros da TV, nem com jingles “chiclete”, muito menos influencers da internet e mesmo assim detém uma parcela enorme do dinheiro do brasileiro, cerca de R$ 1 trilhão de reais.
Isso mesmo que vistes, caro leitor, R$ 1 trilhão de reais. Se fosse colocar todos os zeros desse valor certamente me equivocaria. Mas como conseguir tal feito em pleno 2022 de juros altos e tantas oportunidades muito mais acessíveis? Será que alguns bilionários ainda guardam seu dinheiro na poupança de bancos antigos e esqueceram depois de tantos anos? Pouco provável. Será que fazem propagandas pela internet destacando a isenção de imposto de renda, os rendimentos mensais isentos de imposto de renda, e os juros que fazem render abaixo da média do mercado?
Eis o ponto ao qual quero chegar: como ter tanto capital investido no lugar que rende menos? Hoje a taxa Selic de 13,75% ao ano possibilita investimentos com rendimentos muito mais atrativos que a famosa poupança. Influencers lhe bombardeiam por propagandas na TV, rádio e internet com CDBs (Certificados de Depósito Bancário) que rendem de 100 a 200% do CDI (Certificados de Depósito Interbancário). Os tais CDBs ainda têm a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) até R$ 250.000,00 por conglomerado financeiro e R$1.000.000,00 por CPF no prazo de 4 anos.
Quando se aplica no CDB, você está emprestando o seu dinheiro para grandes bancos que lhe devolvem o valor depois do prazo combinado e corrigido pela taxa contratada. Por exemplo, se aplicarmos R$ 1.000,00 no CDB fictício que rende 105% do CDI, por 12 meses, teríamos depois desse prazo o valor de R$ 1.118,94, já descontados os impostos.
Outra opção seria o Tesouro Direto, o investimento mais seguro do Brasil, desconhecido por muitos, pois pouco divulgado também. Possui um site bem didático que tira dúvidas e faz simulações de acordo com perfil e objetivos – nem parece Brasil, tamanha a facilidade. Por meio dele, o investidor empresta para o governo e pode ter rendimentos por exemplo de 100% da taxa Selic, ou acima da inflação por anos e ainda receber juros semestrais.
No site do Tesouro direto, o investidor pode por exemplo escolher o Tesouro Selic 2025, que tem liquidez diária e pode render por ano cerca de 13,78%. Se a Selic não se alterar o investimento de R$ 1.000,00 se transformariam depois de 12 meses em R$ 1.110,24, já descontados os impostos.
Está é mais uma classe de investimento que, mesmo descontando o imposto de renda, supera a famosa e idolatrada poupança, em que o valor de R$ 1.000,00 mil reais investidos, depois de 12 meses, corresponderiam ao valor líquido de aproximadamente R$1.061,70.
Nos exemplos citados a diferença pode parecer pouca, mas investimento não é uma corrida curta, pelo contrário, é uma corrida longa como a vida e quando alongamos isso por mais anos vemos os efeitos dos juros compostos e um crescimento exponencial que faz uma diferença enorme no final da corrida. Diferença que destaca a distância de quem investiu e de quem só “poupou”.
Mesmo em momentos de crise, a poupança ainda mantém sua pose de poderosa, não se abala nem com fake news e continua numa boa. Mesmo sem publicidade mantém a liderança dos investimentos nacionais.
Mais um mistério difícil de decifrar!