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Pedro Signorelli
Americanas (AMER3). Foto: Divulgação

Americanas (AMER3). Foto: Divulgação

Caso Americanas (AMER3): existe uma saída possível?

Após anunciar o rombo fiscal de mais de vários bilhões e entrar em recuperação judicial, a Americanas possui um grande desafio que é tentar se reestruturar e se reerguer, ainda que não seja ao nível anterior, mas que, ao menos, não feche as portas. A perspectiva para que isso ocorra, no entanto, é pequena. Levando em consideração alguns exemplos parecidos de grandes grupos que entraram em processo de recuperação judicial, e mais, se ocorrer, levará muito tempo.

É claro: não se pode negar que existe sim uma oportunidade para a transformação no caso da varejista, no entanto, será deixado bastante dinheiro na mesa se o processo for realizado de cima para baixo exclusivamente, com metas nada conversadas, e que só envolvam os executivos.

Levando em consideração o exemplo da Nextel, empresa de telecomunicações que, em 2014, entrou com um processo de recuperação judicial, e conseguiu sair dele em 2015, a Americanas precisa garantir a continuação estável da operação e, sobretudo, gerar inovação, pensando em novos produtos e também focar na eficiência operacional.

Uma sugestão de como fazer é replicar a solução implantada no case Nextel, ou seja, que a varejista envolva nesse processo os seus colaboradores. Na operadora, mesmo com o natural receio de envolver as pessoas na definição das metas, obteve-se a oportunidade de identificar como ter processos mais eficientes, pontos de vista diferentes em relação a prazos, de custos que poderiam ser reavaliados e colocados em prática.

Note que o envolvimento a que me refiro não é apenas o de compartilhar as ações com o time, mas sim o de fazer com que cada um faça parte do processo de definição de como fazer, aportando seus conhecimentos para encontrar os melhores caminhos para o desenvolvimento de suas tarefas, sabendo o porquê de cada ação.

Com isso, a empresa conseguiu gerar um ambiente que permitia às pessoas trabalharem de uma maneira mais produtiva. Pois, caso contrário, ficariam perdidas nas ações ou congelados à espera do corte de pessoal.

Agora, no caso atual, existem medidas de urgência que já estão sendo tomadas. O sucesso no médio prazo (6 a 12 meses) e daí em diante depende da capacidade de criar uma estrutura de operação mais eficiente e de gerar inovação. Para isso, recomendo que, como no caso da Nextel, se adote o método de gestão conhecido como OKRs – Objectives and Keys Results, Objetivos e Resultados Chaves -, pois, com ele, há muito mais envolvimento das pessoas e o convite para que elas proponham e coloquem em prática ações de melhoria.

Além disso, é importante que se tenha uma abordagem tradicional de gestão de portfólio estratégico de projetos com foco em geração de valor, incremento de receita e, especialmente, corte de custos no curtíssimo prazo. Que se tragam as áreas para levantar cada pedra e encontrar oportunidades de ganhos operacionais, que se nomeie um líder do projeto ou iniciativa e que se tenha uma governança de acompanhamento da evolução das iniciativas, com exposição semanal, especialmente no início, a um comitê ligado diretamente ao presidente da evolução das ações dentro do portfólio. Esta abordagem funcionou muito bem no caso da Nextel.

O ponto de atenção deste caso, que deve gerar um alerta a todas as grandes marcas, e empresas, está na ganância dos líderes. É provável que pessoas como as que tomaram este tipo de decisão estejam espalhadas por aí. Por isso, para que uma possível recuperação ocorra, será necessário se cercar também de pessoas bem formadas do ponto de vista ético. Pois, não quer dizer que a operação em si seja errada, ilegal, mas os lançamentos precisam estar de acordo. Além disso, é preciso que haja um sistema de pesos e contrapesos que funcione. Também deve ser apoiado por um canal externo de compliance, pois, pelo visto, os processos de auditoria interna e externa não funcionaram.

Apesar de difícil, esse pode ser um caminho para que a Americanas seja um novo case de sucesso, mesmo que o objetivo seja única e exclusivamente não fechar as portas. É um alerta para a Lojas Marisa, que, depois desse caso, se viu numa situação delicada com seus bancos credores, que estão mais duros em suas cobranças e menos flexíveis. Não seria o momento de mudar a gestão, para um modelo que fosse mais ágil, permitisse ajustes constantes nos rumos dos negócios e envolvesse todo o time?

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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