Avaliação de impacto: qual é a melhor metodologia para seu negócio?
Gerenciar é preciso. Seja o retorno financeiro, o monitoramento do andamento de uma iniciativa ou a avaliação de um projeto. Em investimentos, essa premissa é ainda mais relevante e empresas buscam cada vez mais melhores formatos de apresentar seus resultados.
No caso de investidores de impacto, a principal preocupação é a efetividade de seus aportes além do potencial retorno financeiro, já que medidas de custos e ganhos são insuficientes, uma vez que contam apenas parte da história e não consideram os ganhos sociais e/ou ambientais gerados pelos aportes. Ou seja, a apresentação de um desempenho adicional a partir da criação de ganhos de impacto para o meio ambiente ou social, bem-estar e qualidade de vida dos beneficiários do projeto se torna fundamental na avaliação do sucesso do investimento realizado.
Empreendedores interessados em medir o impacto de seus negócios e gestores de recursos com o duplo propósito de gerar retorno financeiro e, resolver problemas socioambientais, têm buscado abordagens que permitam comparar o retorno social de projetos para escolher, dentre diferentes alternativas, aquelas com maior capacidade de geração de impacto.
Como os recursos financeiros são escassos, a monetização pode possibilitar a comparação e facilitar a alocação de recursos. A análise econômica também é importante para situações em que, apesar dos impactos positivos, os custos são tão altos que a iniciativa não gera ganhos líquidos.
Nesse sentido, apresentamos abaixo as principais técnicas disponíveis para monetizar o impacto dos investimentos sociais, contrastando pontos fracos e fortes e delineando potenciais tópicos de atenção quando aplicados a projetos reais.
Análise de Custo-Efetividade (do inglês, Cost-Effectiveness Analysis – CEA)
Essa análise permite produzir indicadores de efetividade de um programa sem que seja exigida a monetização de benefícios e atributos de difícil conversão, sendo uma técnica amplamente utilizada na elaboração de indicadores de impacto social e ambiental. Sua adoção é particularmente adequada a situações nas quais o impacto promovido pelo projeto ou pela política não seja facilmente convertido para valores monetários. A intuição geral do método é a de estimar a relação entre o impacto (calculado em termos não monetários) e o custo total investido (em reais) para a implementação do programa, sem a necessidade de que ambas as métricas estejam na mesma unidade de medida.
Análise de Custo-Benefício (Cost-Benefit Analysis – CB)
A Análise de Custo-Benefício (CB) essencialmente propõe a comparação entre benefícios e custos de um projeto em termos monetários e indica a viabilidade econômica de um empreendimento com potencial impacto social. A partir dos benefícios e custos monetizados no momento do mapeamento, é possível gerar uma medida adicional de análise, a Razão Custo-Benefício. Para calculá-la, basta dividir os benefícios pelos custos. O cálculo final oferece uma relação monetária entre essas dimensões. Esse tipo de cálculo é também chamado de Método de Múltiplos de Impacto em investimentos socioambientais.
Retorno Social sobre o Investimento (Social Return on Investment – SROI)
O método de SROI procura valorar não somente os efeitos relacionados ao mercado de trabalho, como acontece na análise CB, mas também impactos indiretos, como a realização pessoal e de autoestima, contatos com outras pessoas durante o treinamento, entre outros, seguindo uma lógica similar à da análise de CB, porém tenta examinar da forma mais completa possível os benefícios e investimentos do projeto. Assim como no cálculo de Retorno Sobre o Investimento (do inglês, Return on Investment ou ROI), usualmente adotado em análises com foco meramente econômico-financeiro, a técnica tem por objetivo monetizar o impacto produzido por projetos sociais e/ou ambientais, de forma a oferecer um indicador financeiro final que calcule uma proporção entre o impacto social gerado (estimado em reais) e o montante total investido.
Abordagem de Ponderação de Impacto (Impact-Weighted Accounts – IWA)
A técnica procura mensurar de modo comparável – assim como é feito na contabilidade tradicional para indicadores financeiros – as consequências sociais e ambientais da atuação da companhia. Essa abordagem surgiu da necessidade de incorporar aos demonstrativos contábeis, para além do desempenho econômico, os efeitos das empresas sobre os demais stakeholders. Sendo o efeito total de um produto ou de uma organização fragmentado em uma série de dimensões, observada e calculada de forma individual e, posteriormente, incluída em um balanço patrimonial que considere esses resultados adicionais já monetizados. Entretanto, esse método ainda está em fase de desenvolvimento e aspira tornar-se um padrão para a gestão de investimentos ESG (buscando objetivos ambientais, sociais e de governança).
Cada uma das técnicas discutidas anteriormente têm seus pontos fortes e fracos. Entretanto, para além da seleção da melhor técnica para uma dada situação, é preciso lembrar que, apesar de cálculos de retorno econômico de projetos sociais indicarem uma abordagem mais objetiva para se avaliar e comparar projetos, usualmente é necessário levar em conta uma série de pressupostos subjetivos e que esbarram em diversos dilemas éticos. Esses dilemas surgem durante a tentativa de aproximação de atributos mais abstratos ou intangíveis, os quais tendem a ser de difícil quantificação e podem embutir valores sociais que não sejam facilmente transformados em valores monetários.
*Esta texto foi escrito em coautoria com Geraldo Setter, professor do Insper e coordenador do Insper Metricis