Bull Market: até quando?
Pela definição usual de bull market, entramos em mercado de alta quando um índice acumula valorização de 20% após o registro de uma pontuação mínima no período recente. Seguindo essa definição, o Ibovespa entrou em bull market em 14 de junho, quando fechou pouco acima dos 119 mil pontos, ante 97.926 pontos do fechamento de 23 de março.
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Em meio ao otimismo predominante dos últimos meses, que ampararam a guinada do nosso mercado, temos o avanço da agenda fiscal, com o texto do arcabouço a ser votado nos próximos dias, a inflação finalmente com sinais de caminhar para a meta estabelecida, o ciclo de queda da Selic cada vez mais próximo de se iniciar e os indicadores econômicos apontando uma atividade resiliente e robusta. No exterior também tivemos um evento com potencial de destravar valor – o Fed parou de subir os juros na última reunião.
Mas, diante de tal relevância no avanço, nos últimos dias o Ibovespa deu sinais de esgotamento da força motriz que o levou a se aproximar dos 120 mil pontos. Historicamente, é natural que haja certa indefinição dos agentes do mercado após grandes avanços. Além disso, o mercado costuma se antecipar, o que dá origem ao jargão “sobe no boato e realiza no fato”.
Ao mesmo tempo que o Ibovespa dá sinais de esgotamento, vários players vêm divulgando mudanças nas projeções, com revisões para cima das expectativas de crescimento do PIB e para baixo para a inflação, além da antecipação da queda da Selic. Sob este aspecto, tivemos algumas divulgações de aumento no preço-justo para o Ibovespa. Entretanto, o potencial de retorno, ou seja, a diferença entre o índice atualmente e a média do preço-justo projetado, está no menor percentual em quase dois anos, ao redor de 15,7%.
Levantei dados e fiz uma análise* de como foram os desempenhos do mercado após o início dos bull markets que aconteceram nos últimos 10 anos, em janelas de 1, 3, 6 e 12 meses após o início da alta. Esta amostra estudada reforçou o poder de antecipação do mercado, pois no geral o Ibovespa costuma realizar lucros após o início dos períodos como esse que aparentemente passa agora.
Há três exceções a esta conclusão, mas que também reforçam a característica antecipatória.
Os bull markets dos anos de 2016, 2018 e 2020 possuem uma característica em comum de ponto de inflexão, onde há eventos catalisadores que são capazes de mudar o cenário. Em 2016, o ciclo foi iniciado em meio ao processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 2018, o momento de subida se inicia com o período eleitoral e com a guinada da candidatura de candidato Jair Bolsonaro, que vinha com uma promessa de agenda econômica liberal. E o bull market de 2020 ocorreu em meio à pandemia, com o pico dos temores da população em relação a Covid-19.
Diante desses fatos, esperar novos avanços do Ibovespa somente com a confirmação do que se espera hoje é insuficiente para tal movimento. É necessário que tenhamos fatos novos. Mas o que pode ser uma inflexão ao cenário temos hoje?
O Fed parou de subir os juros. Uma antecipação dos cortes tem capacidade de influenciar não somente nosso mercado, mas todo o mundo;
A China vem sofrendo desaceleração. Novos estímulos podem destravar melhores expectativas para o crescimento mundial, com grande influência sobre o Brasil, devido à pauta exportadora de commodities;
Internamente precisamos ter uma recomposição da governabilidade, com avanço em pautas econômicas como a reforma tributária e controle fiscal, resultando em uma queda da inflação e ciclo mais forte de afrouxamento monetário e maior crescimento do PIB.
Se esperarmos que esses pontos vão ocorrer, mesmo que isoladamente, entendo que temos espaço para novos avanços. É interessante também observar que, mesmo sem estes fatores de inflexão, devem ocorrer oportunidades de entrada para o investidor em condições melhores, aproveitando momentos de realização para novos posicionamentos. Afinal, como já é de conhecimento comum, o mercado de ações não se movimenta em linha reta.
Qualquer bull market passa por momentos de realização, o que abre espaço para aquisições.
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