Camila Nasser

No Venture Capital, existe sempre a “bola da vez”

Levantamento sobre os investimentos de Venture Capital mostra que os aportes em startups de IA cresceram 27% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Por que o IA está indo na contramão do mercado?

Um levantamento do PitchBook para a Bloomberg sobre os investimentos de Venture Capital realizados no terceiro trimestre de 2023 mostra que os aportes em startups de IA cresceram 27% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, o mercado de Venture Capital transacionou 31% menos no mesmo recorte de tempo.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2024/07/1420x240-Banner-Home.png

Por que, então, a IA está indo na contramão do mercado, sem sentir o impacto que os demais mercados sentem para a atração do capital?

Eu poderia analisar o potencial de transformação da IA em si, mas a bem verdade é que, assim como a IA, outras teses altamente disruptivas já concentraram o interesse dos investidores de risco – em 2021 eram o metaverso e a crypto.

Analisemos portanto o comportamento dos investidores: ciclicamente são selecionados alguns mercados que atraem grande parte do capital. O que chamamos de hype ou efeito manada – a tendência do mercado de olhar para os temas mais quentes do momento – foi motivo de um estudo de dois jovens economistas em 1990, David Scharfstein e Jeremy Stein, que publicaram um artigo sobre “Herd Behavior and Investment”.

Por meio de modelos matemáticos, o modelo Scharfstein-Stein comprovou que para os gestores de investimentos é uma estratégia melhor imitar ações de outros do que confiar em seus próprios julgamentos. A ideia é simples: se você faz algo de errado, mas outros estão cometendo o mesmo erro, você não será considerado estúpido, e isso não machucará sua reputação.

‘A sabedoria mundana ensina que é melhor para a reputação fracassar convencionalmente do que ter sucesso não convencional’, John Maynard Keynes

Voltemos ao mercado de Venture Capital: geralmente a maior parte do capital dos fundos é externo, alocado pelos Limited Partners (os LPs) que “compram o serviço dos VCs” em troca de um objetivo de retorno. Após captar o investimento com os LPs, os fundos têm um ciclo de 5-10 anos para selecionar os negócios, alocar o capital, e dar o retorno esperado para os investidores. Nesse sentido, os Venture Capitalists precisam estar bem alinhados com os seus LPs – que precisam estar satisfeitos com os resultados para seguirem investindo em novos fundos.

Durante o ciclo dos fundos, os VCs reportam os resultados do portfólio – digamos que a cada trimestre. É natural que a maioria das empresas esteja crescendo de lado ou até fechando as portas. Mas, se o negócio que der errado parecer uma imbecilidade, será muito mais difícil para o VC se explicar. O DC Palter, do EntrepreneursHandbook, desenvolveu uma cena perfeitamente crível para o contexto, que reproduzo abaixo:

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/03/Ebook-Acoes-Desktop.jpg

“Digamos que o fundo investiu em uma fintech que falhou. O mercado estava super em alta, o negócio era promissor – o VC pode justificar desafios regulatórios ou de mercado que comprometeram o sucesso – e os LPs vão entender, afinal essa é a dinâmica do mercado.

Agora imagine se, em vez disso, a startup falida tivesse desenvolvido algo mais radical, digamos… teletransporte. Se tivesse sucesso, teria mudado o mundo. Os fundadores seriam considerados físicos brilhantes. O fundo contratou cientistas respeitados para verificar a teoria. Claro, era um tiro no escuro, mas se funcionasse… teria sido o maior investimento de todos os tempos, facilmente valendo trilhões.

Mas não funcionou. E agora o fundo precisa informar aos seus LPs que a startup de teletransporte de seu portfólio falhou.

Se eles forem como eu, a reação deles será “Teletransporte??? Em que diabos vocês idiotas estavam investindo meu dinheiro? De jeito nenhum eu vou te dar outro centavo.

E isso seria o fim de levantar outro fundo”.

No final das contas esse não é um problema de pessoas ou coragem, é apenas a dinâmica de funcionamento dos fundos que alocam capital de terceiros. Para empreendedores com teses não convencionais, o capital estará mais disponível com fundos focados em nichos, plataformas de investimento (lembro que no Kria investimos em Open Banking em 2015, antes de sair do papel) e com os Operator Angels – indivíduos investidores com grande track record e capital disponível.

Aqui no Kria, a nossa estrutura de plataforma é uma vantagem – sem terceiros a quem devemos prestação de contas, e sem cobrarmos taxa de administração, não temos amarras a investir apenas em teses “do momento”. Os investidores de nossa plataforma têm autonomia para investir diretamente nos negócios que mais o atraem, e com isso conseguimos selecionar negócios promissores e empreendedores visionários. Para além do hype – é onde a inovação realmente está.

https://files.sunoresearch.com.br/n/uploads/2023/04/1420x240-Planilha-vida-financeira-true.png

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Camila Nasser
Mais dos Colunistas
Hilton Menezes Multi Corporate Venture Capital: o “M”do CVC

O conceito de Multi Corporate Venture Capital (MCVC) está emergindo como uma poderosa estratégia de investimento colaborativo, em que múltiplas corporações unem forças...

Hilton Menezes
Camila Nasser Como promover maior diversidade no perfil dos fundadores de unicórnios?

A Defiance Capital fez uma análise de todos os novos unicórnios criados no período entre 2013 e 2023, nos Estados Unidos e no Reino Unido. A amostra constatou a criaçã...

Camila Nasser

Compartilhe sua opinião

Receba atualizações diárias sobre o mercado diretamente no seu celular

WhatsApp Suno