Mucio Mattos

Fiagro em 2023: em time que está ganhando se mexe?

Em cerca de um ano e meio de existência, os fundos de investimento em cadeias agroindustriais (Fiagros) alcançaram patrimônio de R$ 6 bilhões em dezembro de 2022. O cenário futuro, porém, traz novas incertezas para a pauta – em particular no aspecto fiscal do país

Após uma Copa do Mundo emocionante, fica a reflexão: como você está escalando os seus investimentos para o ano que se inicia? A competição com a renda fixa tradicional pode impactar investimentos alternativos, como os fundos de investimento em cadeias agroindustriais (Fiagros) ou a perspectiva de crescimento para indústria permanece positiva? Antes de entrarmos no tema, gostaria de voltar ao futebol.

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Entre as 32 seleções que disputaram a Copa do Mundo, que se encerrou no dia 18 de dezembro de 2022, um dado interessante: Lionel Scaloni, técnico da seleção campeã, é o mais novo a vencer uma Copa desde 1978.

Questionado pela sua falta de experiência, Scaloni, que começou como “técnico interino”, colecionou vitórias ao oxigenar a seleção, trazendo modernidade e novas ideias. Fazendo um paralelo entre futebol e investimentos, o técnico argentino seria como os Fiagros da categoria que, em pouco tempo, já conquistou as carteiras e os corações dos investidores?

Para se ter uma ideia, em cerca de um ano e meio de existência, os fundos de investimento em cadeias agroindustriais (Fiagros) alcançaram patrimônio de R$ 6 bilhões em dezembro de 2022, conforme boletim publicado pela B3.

Até o terceiro trimestre de 2022, eram mais de 66 Fiagros registrados, sendo 37 fundos operacionais, com destaque para a categoria Fiagro-Imobiliário, que representaram dois terços do total dos ativos dos fundos, seguido pelo Fiagro-FIDC (26% do total) e Fiagro-FIP (7,5% do total), com base nos dados divulgados em relatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O mercado de Fiagros ultrapassou a marca de mais de 170 mil investidores no Brasil em dezembro de 2022. De acordo com o mais recente relatório da B3, este setor registrou, no último mês do ano passado, mais de 11 mil novos investidores, números em constante crescimento mesmo com as instabilidades nos mercados de renda variável.

Essas marcas são bastante expressivas e algo que a indústria de fundos imobiliários demorou mais de 15 anos para conquistar. Algo novo e diferente do que estávamos acostumados a ver. Mesmo com um número ainda limitado de fundos, o investidor já pode encontrar Fiagros com as mais diversas características (aqueles com foco em setores de revenda, açúcar e etanol, terras agrícolas, fundos diversificados, entre outros) e com valor de cota bastante acessível – em geral entre R$ 10 e R$ 100.

Entre os motivos que levaram o investidor a escolher os Fiagros estão, principalmente, a diversificação de carteira em um setor de extrema relevância no PIB brasileiro e que possui características defensivas em um cenário interno mais turbulento, como é o caso do agronegócio. Ainda, somam-se os benefícios já conhecidos dos FIIs: a possibilidade de ter dividendos mensais (ainda que nos Fiagros a regra atual não exija distribuição de 95% dos lucros como nos FIIs, via de regra os gestores têm seguido a mesma prática de mercado), além de seus rendimentos serem isentos do pagamento de imposto de renda para pessoas físicas.

É inegável que 2022 foi um ano cheio de emoções: início de uma Guerra, grandes mudanças nas principais economias mundiais, eleições no Brasil, Copa do Mundo. E, para fechar com ouro, a CVM divulgou em 23 de dezembro o novo marco regulatório dos fundos de investimento, que deve trazer mais eficiência e segurança jurídica para este tipo de produto, além de ter indicado o início das discussões de uma regra própria para os Fiagros em 2023. E ainda assim, em meio a todas essas “turbulências”, foi um ano bastante positivo para a consolidação dessa indústria.

O cenário futuro, porém, traz novas incertezas para a pauta – em particular no aspecto fiscal do país –, com o potencial de depreciar o real contra o dólar, aumentando a inflação e mantendo os juros altos. Se as regras do jogo não estão claras, fica muito mais difícil disputar um campeonato de forma justa para todos os competidores, não é mesmo?

Neste cenário, que tende a não beneficiar o crescimento econômico, tampouco a disposição dos investidores de correr maiores riscos, os Fiagros são vistos como uma boa opção. Como o segmento é muito voltado para o mercado externo, representando mais de 40% das exportações do país, um câmbio depreciado tende a beneficiar o agro. O agronegócio também representa perto de 27% do PIB e emprega quase 20% da força de trabalho brasileira, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil Cepea/CNA. O que faz do setor o mais representativo do PIB, após o setor de serviços.

As perspectivas do segmento são positivas globalmente haja vista o crescimento populacional, aumento do nível de urbanização e renda e a consequente mudança de hábitos de consumo com maior demanda de proteína animal. No Brasil, estamos muito bem-posicionados para atender essa demanda crescente por alimentos. Estamos entre o 1º e 2º colocados no ranking mundial de exportação de diversas commodities como suco de laranja, soja, milho, açúcar e café.

Por último, mas não menos importante: o fato da maior parte dos FIAGROs também terem papéis indexados ao CDI, tende a beneficiar os investidores em um cenário de juros alto por mais tempo.
Em resumo, na Copa do Mundo dos “investimentos”, acredito que o segmento deve continuar performando positivamente ao longo de 2023 dada as características aqui mencionadas. A velocidade desse crescimento, porém, ainda é incerta. Mas o futuro vislumbra um setor tão relevante ou mais do que os fundos imobiliários. Seguimos acompanhando esse campeonato!

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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