Como está a temperatura do Venture Capital?
O momento atual do Venture Capital ainda é desafiador e a captação de recursos com investidores institucionais passa por uma fase, digamos, complexa. Mas, felizmente, já começamos a ver uma mudança acontecendo. Embora os investidores ainda estejam atuando de forma mais conservadora, avaliando de forma mais minuciosa os resultados e ponderando muito a responsabilidade financeira dos negócios antes de liberar o capital, percebemos agora uma movimentação maior por parte deles, o que é bastante animador.
Por outro lado, os empreendedores entenderam o recado e, como de costume, procuraram se adaptar rapidamente. Desde que as ‘torneiras’ dos investidores começaram a secar, as startups passaram a recitar, em coro, o mantra ‘preservar caixa é o que importa’, driblando a crise com demissões em massa e muito trabalho para manter os números saudáveis. E isso, como a mídia bem registrou, vem acontecendo mesmo em unicórnios consolidados no mercado.
Outro fator de destaque é que as rodadas estão demorando mais tempo para serem realizadas. Então é fundamental levar isso em consideração no planejamento de caixa.
A StopClub, startup da qual sou sócio-fundador, captou o primeiro aporte em 2018 e, de lá para cá, já vimos muitas mudanças acontecendo no mercado: de uma consolidação do ecossistema com regras claras – em que os empreendedores sabiam quase exatamente quais métricas deveriam alcançar para estarem elegíveis a uma próxima rodada -, passando pelo caos da pandemia e a subsequente euforia desenfreada na busca por crescimento a qualquer custo, até chegar ao momento atual: mais pé no chão. E foi nesse cenário atual que conseguimos receber nosso último aporte, de US$ 1,2 milhão, liderado pela Redpoint eventures.
Cito esse exemplo para deixar claro que existe, sim, capital disponível no mercado. Os fundos estão capitalizados para investir. E, sendo assim, é importante que as startups sigam nesse caminho mais responsável, mostrando capacidade de geração de receita e eficiência financeira, se quiserem atrair o capital dos investidores de risco e, com ele, a oportunidade de escalar rápido seus negócios.
Claro que existem outras formas de crescer e ganhar escala sem depender do capital de investidores risco. Mas se esse for o caminho escolhido, é fundamental entender como estão as regras do jogo.
Seguir a cartilha do capital de risco e aliar-se a fundos de venture capital, não há dúvida, ajuda muito em cada etapa do processo de crescimento de uma startup. Não apenas pelo capital disponibilizado para a companhia, mas talvez em igual importância, pelas “cabeças pensantes” desses investidores, o senso crítico de pessoas que não estão no dia a dia do negócio e também toda a rede de contato deles. No caso da StopClub, nossos investidores sempre foram muito importantes nos momentos difíceis e bons da nossa jornada, que ainda está no começo.
Um ponto de consenso hoje é que empreendedores devem sempre zelar pela saúde financeira de seus negócios e conseguir apresentar resultados expressivos de geração de receita. O único ponto de ponderação é para que empreendedores não fiquem, necessariamente, obcecados a fazer tudo o que os fundos de venture capital dizem querem ver. Acredito que o foco deve ser sempre o seu público-alvo, buscando entender e oferecer o que seus clientes querem e precisam, com uma estratégia de retorno financeiro eficiente e poderosa. O interesse dos investidores, acredito, é o reflexo do sucesso em entregar algo de valor para seus clientes, em um mercado grande e com enorme potencial de retorno financeiro.
Em síntese, esse ajuste de mercado é positivo e beneficia o ecossistema como um todo, devendo se transformar em uma conduta normal das startups. Quem estiver bem adaptado e conseguir bons resultados deve continuar conseguindo levantar recursos para escalar seus negócios.
*Luiz Gustavo Neves é cofundador e CEO da StopClub, fintech social focada em apoiar motoristas e entregadores de aplicativo por meio de ferramentas colaborativas que ajudam esses trabalhadores em seus desafios diários.